MOVIMENTO

Mobilização contra a reforma da Previdência leva milhares às ruas no RS

Dia Nacional de Paralisações mobilizou mais de 12 mil manifestantes em ato e caminhada no centro de Porto Alegre
Por Gilson Camargo / Publicado em 15 de março de 2017
Ato público reuniu milhares de manifestantes na Esquina Democrática

Ato público reuniu milhares de manifestantes na Esquina Democrática

Foto: Igor Sperotto

A mobilização contra a reforma da Previdência, proposta pelo governo Temer, reuniu mais de 12 mil pessoas na Esquina Democrática, no Centro de Porto Alegre, a partir das 14h desta quarta-feira, Dia Nacional de Paralisações, organizado pelas centrais sindicais e sindicatos em todo o país. Em todo o estado do Rio Grande do Sul, ocorreram manifestações e paralisações de diversas categorias desde o início da manhã.

Em Porto Alegre, o dia foi de protestos em diversos pontos, com atos em frente aos hospitais Presidente Vargas e HPS e junto à sede do INSS no centro. Um grande ato público e caminhada pela Borges de Medeiros e Perimetral até o Largo Zumbi dos Palmares encerrou a mobilização, considerada vitoriosa pelas centrais sindicais.

“Hoje nós conseguimos tirar da clandestinidade esse brutal ataque que o governo está preparando contra a Previdência e contra as classes trabalhadoras”, comemorou Claudir Nespolo, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT-RS). De acordo com o dirigente, ao menos 12 categorias paralisaram as atividades. “Neste momento estão acontecendo 23 atos públicos nas principais cidades do estado”, destacou ao microfone do caminhão de som, por volta das 20h, à multidão que lotava a avenida Borges de Medeiros desde a rua José Montaury até a avenida Salgado Filho e parte da Rua da Praia.

Uma assembleia popular simbólica foi organizada pelos representantes das centrais para deliberar: “A Previdência fica, Temer sai”. A decisão judicial favorável a uma liminar em favor de diversos sindicatos gaúchos que ajuizaram uma ação pela suspensão da campanha publicitária do governo pela reforma da Previdência foi comemorada pelos manifestantes (ver matéria à parte).

Caracterizada como Frida Khalo, a atriz Carolina Diemer destacou que a reforma da Previdência “acaba com a perspectiva de aposentadoria” de todos os brasileiros, não importa a profissão. “Sou contra a reforma. Eu e a Frida”, brincou. Para o estudante Theo Pagot, 17 anos, as mudanças nas regras da aposentadoria “são desanimadoras”. “A reforma da Previdência é parte de uma estratégia do governo para esmagar a classe trabalhadora e privilegiar o capital”, opinou.

MAGISTÉRIO – À tarde, representantes das centrais sindicais no estado, do Cpers-Sindicato e professores realizaram, em frente ao Palácio Piratini e à Assembleia Legislativa, um ato público que marcou o início da greve do magistério estadual e dos demais servidores das instituições públicas de ensino. A presidente do Cpers, Helenir Aguiar Schürer, ressaltou que a paralisação dos professores do sistema público em nível nacional deve mobilizar 1 milhão de docentes contra as reformas da Previdência, trabalhista e do ensino médio.

No Rio Grande do Sul, a paralisação por tempo indeterminado é em repúdio a projetos específicos do governo gaúcho. A categoria entregou um documento aos parlamentares no qual manifesta sua contrariedade às proposta de emenda à Constituição 257, que extingue a obrigatoriedade de pagamento dos salários até o quinto dia útil; 259, que retira a obrigatoriedade de plebiscito para privatização de empresas públicas como o Banrisul, a CEEE, a Sulgás e a CRM; a 258, que extingue os adicionais por tempos de serviço; a 242, que retira a licença-prêmio; e a 256, que suspende o pagamento de salário pelo estado a dirigentes sindicais. A partir das 17h, os professores se juntaram a outras categorias que já lotavam a Esquina Democrática para a realização de um ato público e, a partir das 19h, caminhada até o Largo Zumbi dos Palmares.

Após a concentração na Esquina Democrática, manifestação se deslocou para o Largo Zumbi dos Palmares

Após a concentração na Esquina Democrática, manifestação se deslocou para o Largo Zumbi dos Palmares

Foto: Igor Sperotto

REGIÃO METROPOLITANA – Em Canoas, foram registradas paralisações na AGCO e Maxiforja após assembleia do Sindicato dos Metalúrgicos sobre os prejuízos que a reforma da Previdência impõe aos trabalhadores. De acordo com a CUT-RS, em São Leopoldo foram paralisadas diversas indústrias, entre as quais a fábrica de armas Taurus, no início da manhã. Os metalúrgicos protestam contra as propostas de retirada de direitos da classe trabalhadora. Em Cachoeirinha, trabalhadores da Parker realizam manifestações contra as reformas previdenciária e trabalhista.

Em Caxias do Sul, o transporte público voltou a operar por volta das 7h, após paralisações. Ocorreram também protestos na BR-316, em frente à empresa Guerra, em Caxias do Sul, e na RS-122, entre Caxias e Farroupilha, na Serra. Na RS-239, por volta das 6h30, em Sapiranga, no Vale do Sinos, os trabalhadores chegaram a interromper o trânsito e depois passaram a ocupar pista lateral da rodovia, na altura do km 26. Centenas de agricultores interromperam o trânsito da BR-116, em São Lourenço do Sul e em outras regiões do estado.

Em Passo Fundo, as manifestações começaram ainda pela manhã e se estenderam durante todo o dia, com a paralisação do transporte coletivo. A partir das 5h, em Passo Fundo, servidores da Coleurb paralisaram o trabalho em três empresas para protestar contra a reforma da Previdência.

No litoral Norte houve bloqueio de estrada e manifestações em Osório, Capão da Canoa e Tramandaí.

Em Pelotas, no final da tarde, milhares se concentraram no largo da Prefeitura Municipal.

Justiça suspende campanha publicitária da Previdência
A juíza federal Marciane Bonzanini, da 1ª Vara Federal de Porto Alegre, suspendeu liminarmente nesta quarta-­feira, 15, a campanha publicitária do governo federal que defendia a reforma da Previdência por meio de informações consideradas falsas sobre o “rombo” do sistema. A decisão ocorreu a pedido de sindicatos do Rio Grande do Sul e fixou multa de R$ 100 mil por dia em caso de descumprimento da decisão e deu prazo de 72 horas para a União se manifestar no processo.

O Ministério Público deve se pronunciar em três dias. A decisão é passível de recurso. No despacho, a juíza, sustentou que a propaganda não se enquadra nas regras da legislação sobre a publicidade do governo federal. A legislação determina que as campanhas se restrinjam atos, programas, obras, serviços ou campanhas dos órgãos públicos, com caráter educativo, informativo ou de orientação social. Também afirma que não há reforma aprovada, portanto, não cabe a campanha publicitária.

“Trata-­se de publicidade de programa de reformas que o partido político que ocupa o poder no governo federal pretende ver concretizadas. Ou seja, não há normas aprovadas que devam ser explicadas para a população; não há programa de governo que esteja amparado em legislação e atos normativos vigentes”, ressaltou, acrescentando que a propaganda visa angariar apoio, com recursos públicos, para a proposta de reforma do sistema previdenciário. “O que parece destoar das regras democráticas é que uma das partes envolvidas no debate político busque reforçar suas posições e enfraquecer argumentos diferentes mediante campanha publicitária utilizando recursos públicos”.

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