Multidão se mantém reunida em apoio a Lula
Foto: Marcelo Menna Barreto
Apoiadores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva continuam em vigília na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo (SP) neste sábado 7. Alguns passaram a noite no local, e mais pessoas chegaram durante a manhã. O ex-presidente chegou ao Sindicato na quinta-feira, 5, após a expedição do mandado de prisão pelo juiz Sérgio Moro. Na sexta-feira, atos e manifestações ocorreram também em diversas cidades do país.
A missa em homenagem à memória da ex-primeira-dama, Marisa Letícia Lula da Silva, que completaria 67 anos neste sábado, 7, inicialmente marcada para às 9h30min, começou às 10h40min. Dom Angélico Sândalo Bernardino, bispo emérito da Diocese de Blumenau, presidiu a cerimônia. O religioso é amigo pessoal de Lula desde os anos 1980, quando coordenou a Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo, como bispo auxiliar do cardeal Dom Paulo Evaristo Arns. Dom Angélico afirmou que o ex-presidente é vítima de perseguição e que não há provas contra ele no processo sobre o triplex do Guarujá (SP). “Para muitos, o golpe ficará pela metade se não houver o banimento político de Lula. Isso é um desserviço à democracia” afirmou o religioso.
Foto: Reprodução TVT
Lula continuará em São Bernardo
A presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann, disse que Lula continuará no Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo do Campo. “Ele não descumpriu o prazo. Não se entregar era uma opção dele”, afirmou. Segundo o senador Roberto Requião (MDB) o ex-presidente está tranquilo, aguardando o julgamento das ações que estão sendo movidas por seus advogados. “Lula não é um foragido, está aguardando aqui no Sindicato”.
Confirmando a declaração da presidente nacional do PT, a assessoria do juiz Sergio Moro disse que Lula “não descumpriu ordem judicial”, pois o período concedido por Moro seria um “prazo de oportunidade” em virtude do cargo que foi ocupado pelo petista enquanto presidente da República. Para a assessoria de Moro, cabe agora à Polícia Federal as tratativas de cumprimento da ordem.
Concretamente, o canal de comunicação entre a defesa de Lula e a Polícia Federal (PF) foi aberto no final da tarde do dia 5, segundo uma fonte que pediu ao Extra Classe que não fosse identificada. Conforme a fonte, dois emissários de Lula discutem com a PF os termos para que Lula cumpra a decisão judicial. Pela PF, quem negocia é o delegado Igor Romário de Paulo, chefe da Lava Jato em Curitiba. Ainda não há uma decisão sobre como será o procedimento a ser adotado, mas o policial disse que caso o ex-presidente resolva se entregar é possível recebê-lo em São Paulo para depois levá-lo a Curitiba.
CONCENTRAÇÃO – O ato que se iniciou logo após a expedição do mandado de prisão expedido por Moro, 19 minutos após receber o ofício do TRF-4 com a autorização para a execução da pena do ex-presidente, reuniu os mais variados segmentos da sociedade brasileira, da Democracia Corinthiana à Central de Movimentos Populares; de lideranças sindicais a representantes da intelectualidade, passando por lideranças partidárias, em especial do PT, PCdoB, PSol, PCB e PDT.
Chamou a atenção no segundo dia da vigília, no entanto, logo após o pronunciamento de uma pastora evangélica, dois rabinos (líderes religiosos judeus), discursando a favor de Lula atrás de uma bandeira da Palestina. Os rabinos enfatizaram que, independente de fé, religião, todos os presentes no ato estavam vivendo um momento sagrado da democracia. Eles enfatizaram que o povo judeu que sofreu com o nazismo na Alemanha de Hitler também se materializa no povo brasileiro que está sofrendo com o golpe que consideram em curso no país e que estão sentindo cheiro de nazismo aqui no Brasil.
Mohamad Sami El Kadri, presidente da Associação Muçulmana de São Paulo, falou entre os religiosos judeus que estava ali para trazer a saudação dos palestinos que estão na Faixa de Gaza, resistindo bravamente. “Nós vamos resistir aqui como eles resistem lá. Aqui não tem arrego”, gritou, encerrando com o tradicional Salaam Aleikum (Que a paz esteja sobre vós) e abraçando os líderes judaicos.
DEPUTADOS – Na opinião do deputado Federal Elvino Bohn Gass (PT-RS), a síntese do ato que estava sendo manifestado nos discursos emocionados em cima do carro de som estacionado ao lado do Sindicato dos Metalúrgicos era “primeiro, a minha vida com Lula era melhor; segundo: hoje, com Temer, está ruim e só vai piorar e, terceiro, a única liderança que pode tirar o Brasil dessa situação é Lula”. Para o parlamentar, “o povo está convencido disto e a elite é que não quer aceitar, muito menos pensar nessa hipótese”, concluiu.
Para a também deputada federal Luiza Erundina (PSol-SP), o que está acontecendo com Lula extrapola a situação de injustiça. “Nós estamos vivendo um momento grave; uma crise institucional patrocinada pela direita que tem o objetivo de retroceder 30 anos de avanços sociais que foram conquistados com a Constituição de 1988”, afirma. No entanto, segundo a deputada, os atos que estão acontecendo contra a “arbitrariedade” que está se materializando em cima de Lula estão servindo para unir a esquerda.
Entre os parlamentares gaúchos presentes no carro de som ou nas reuniões que estavam se realizando internamente no Sindicato, estavam ainda os deputados federais do PT Henrique Fontana, Paulo Pimenta, Maria do Rosário e Marco Maia; e a deputada estadual Manuela D’Ávila (PCdoB), pré-candidata a presidência da República.
ONU – O defensor do ex-presidente Lula, o criminalista José Roberto Batochio, afirmou no dia 5, que o despacho do pedido de prisão do seu cliente expedido por Moro representa um “açodamento” e que é “a mais rematada expressão do arbítrio no século 21”. Em sintonia com a declaração de Batochio, a equipe encarregada pela defesa do ex-presidente remeteu um pedido de liminar no Comitê de Direitos Humanos das Nações unidas, com sede em Genebra. Solicitam que o órgão peça que seja impedida a prisão até que se esgotem todos os recursos contra sua condenação nas instâncias da Justiça. Os advogados Cristiano Zanin, Valeska Zanin e Geoffrey Robertson alegam que o julgamento da última quarta-feira,4, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) rejeitou, por 6 a 5, um habeas corpus preventivo de Lula, precisa ser examinado por um tribunal independente. Robertson é especialista internacional em direitos humanos e integrante do Conselho Jurídico da Rainha da Inglaterra
Em nota, os advogados argumetaram que “a decisão por uma estreita margem, tomada na quarta-feira, 4 de abril, pelo Supremo Tribunal Federal, demonstra a necessidade de um tribunal independente examinar se a presunção de inocência foi violada no caso de Lula, como também as alegações sobre as condutas tendenciosas do juiz Sérgio Moro e dos desembargadores contra o ex-presidente”.
BOATOS – O principal foco de tensão dos presentes na vigília foi a recorrente informação de que a qualquer momento a PF, com o suporte de pelotões de choque da Polícia Militar de São Paulo, estaria chegando para efetuar a prisão de Lula. Toda vez que a hipótese circulava, milhares de pessoas se movimentavam e adentravam na sede do sindicato com o objetivo de barrar a entrada. Um dos principais estimuladores dessa situação foi o jornalista Ricardo Noblat, de Veja e O Globo, que em sua coluna disse que “tropas militares da região foram postas de sobreaviso” e que agentes disfarçados seguiram todos os passos de Lula desde o momento em que ele encerrou o expediente no Instituto Lula, na capital paulista, e seguiu para a sede do Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo do Campo.
O ambiente serenou quando o governador de São Paulo, Márcio França (PSB), que assumiu o cargo no lugar de Geraldo Alckmin que renunciou para concorrer à presidência da República, negou em entrevista para a CBN que tivesse dado qualquer ordem para a PM do Estado atuar no caso. Conforme França, a polícia de São Paulo não iria tomar qualquer iniciativa sem que houvesse uma decisão judicial.
OPERÁRIOS – O ato que marcou o estado de vigília com o objetivo de proteger Lula iniciou de manhã com cerca de 5 mil pessoas presentes. Durante o dia, conforme chegavam simpatizantes do petista das mais variadas regiões e, em especial, conforme ia se encerrando os turnos das indústrias da região, chegou ao seu àpice com cerca de 30 mil pessoas. Entre petroleiros, trabalhadores de indústrias químicas, os metalúrgicos eram a categoria que manifestava mais forte sua indignação. A mesma situação ocorreu no primeiro dia da vigília.