Ilustração: Sica
Ilustração: Sica
Dizem que numa saleta da Casa da Moeda há uma placa em homenagem ao criador do Fator Previdenciário, vulgo FP. É justo: sem tal cálculo, as emissões monetárias seriam monumentais. O que seria justo com os aposentados. Mas aí, dizem, haveria desperdício de justiça.
Hoje o FP é popular entre os cratas, tanto os buro quanto os tecno. Eles que pesquisaram a fórmula ideal para a aniquilação das condições da terceira idade, vulgo ralados. Para isso, recuaram até o tempo das torturas medievais.
A primeira parte da equação arrochadora foi encontrada numa roda da inquisição. Não nas mais conhecidas. Numa com um aperto tão lento que atrapalhava a pressa inquisitória. O modelo inspirou os técnicos: eles pensavam a médio e longo prazo.
Outro elemento fundamental foi o princípio desgastador do índice de corrosão. A referência existia: as brutais inflações durante as grandes guerras.
A nossa inflação galopante nas décadas de 80/90 também contribuiu. Bastou fundir tais índices e surgiu o acelerômetro das perdas.
E, surpresa: o último aperfeiçoamento do FP teve origem animal. É que ao buscarem um tipo de corrosão sistemática, os estudiosos viram que ácidos e solventes seriam momentâneos. Podiam corroer bolsas e carteiras, mas queriam algo impiedoso – carcomer o fundo dos bolsos.
Na ânsia da corrosão absoluta no poder aquisitivo dos aposentados, os cratas se analisaram os térmitas, vulgo cupins. Não as gerações passadas, que roíam apenas madeira. Os cupins de hoje são exemplares: devoram concreto, plástico, metais, isopor. Na saliva dos cupins descobriram a corrosão polivalente que faltava.
Pronta, a equação do FP atinge onde mais dói no aposentado: na esperança de sobreviver ao garrote do INSS. O que era uma ilusão como qualquer outra virou uma perda como outra qualquer. E quanto mais o IBGE melhora a expectativa de vida, mais a sobrevida piora.
Vai ver a função real do odiado índice FP é contrabalançar o índice de natalidade.