SAÚDE

Crianças brasileiras estão mais altas e mais obesas

O país vive a dupla carga de má nutrição: prevalência de crianças desnutridas e de crianças com obesidade
Por Gilson Camargo / Publicado em 16 de maio de 2024
Crianças brasileiras estão mais altas e mais obesas

Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Alimentação saudável contra a fome e a obesidade de crianças: entrega de produtos pelo PAA ao Sacolão Popular e Pastoral do Povo de Rua, do Padre Júlio Lancelotti

Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Um estudo divulgado no início de abril por pesquisadores do Centro de Integração de Dados e Conhecimento para Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Cidacs/Fiocruz Bahia), em colaboração com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a University College London, revelou que as crianças brasileiras estão mais altas e mais obesas. Entre 2001 e 2014, a estatura infantil, em média, aumentou um centímetro. A prevalência de excesso de peso e obesidade também teve aumento, de 3% entre os grupos analisados.

A pesquisa foi publicada na revista The Lancet Regional Health – America e baseou-se na observação das medidas de mais de 5 milhões de crianças brasileiras. Segundo os pesquisadores, tais resultados indicam que o Brasil, assim como os demais países em todo o mundo, está longe de atingir a meta da Organização Mundial da Saúde (OMS) de deter o aumento da prevalência da obesidade até 2030.

Para a pesquisadora associada ao Cidacs/Fiocruz Bahia e líder da investigação, Carolina Vieira, a obesidade infantil é alarmante. Tanto o sobrepeso quanto a obesidade referem-se ao acúmulo excessivo de gordura corporal. A obesidade é fator de risco para enfermidades, como doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão e alguns tipos de câncer.

“Tem estudos que indicam que a criança que vive com obesidade aumenta a chance de persistir com essa doença durante todo o ciclo da vida dela”, alerta Carolina. “Em termos de saúde pública, pensamos que a carga dessas doenças crônicas não transmissíveis e os custos associados à obesidade aumentam ao longo do tempo. Então, é necessária uma ação efetiva e coordenada, porque, senão, as repercussões dessa doença para a saúde pública nos próximos anos serão bem alarmantes.”

O estudo analisou dados de 5.750.214 crianças, de 3 a 10 anos, que constam no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico), no Sistema de Informação de Nascidos Vivos (Sinasc) e no Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan). Isso possibilitou uma análise longitudinal, ou seja, ao longo da vida de cada uma das crianças, por meio de informações coletadas no decorrer dos anos.

Obesidade e fome

Além do aumento da obesidade relacionado ao consumo de alimentos ultraprocessados, o Brasil enfrenta a fome. Estudo do Instituto Fome Zero revela que o número de pessoas em situação de insegurança alimentar grave no Brasil chegou a 20 milhões no quarto trimestre do ano passado. Apesar de estar aumentando a prevalência da obesidade, o país vive a dupla carga de má nutrição: prevalência de crianças desnutridas e de crianças com obesidade.

Excesso de peso

Pesquisadores da Fiocruz e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) compararam os primeiros seis anos de vida de dois grupos de crianças nascidas de 2001 a 2007 e de 2008 a 2014 e constataram um aumento da prevalência de excesso de peso de 3,2% entre os meninos e 2,7% entre as meninas. No caso da obesidade, a prevalência entre os meninos passou de 11,1% no primeiro grupo para 13,8% no segundo grupo, o que significa aumento de 2,7%. Entre as meninas, a taxa aumentou de 9,1% para 11,2%, acréscimo de 2,1%.

Comentários