OPINIÃO

Casa Comum: a histórica encíclica ecológica do Papa

Publicado em 10 de julho de 2015

Casa Comum: a histórica encíclica ecológica do Papa

Foto: Divulgação

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Pela primeira vez na história, o líder máximo da Igreja Católica divulgou um documento oficial tratando das mudanças climáticas e dos riscos que elas trazem para a vida no planeta Terra. A encíclica de 190 páginas, intitulada Laudato Si (Louvado Seja) – Sobre o Cuidado da Casa Comum, foi divulgada dia 18 de junho e já está desagradando setores conservadores dentro e fora do Vaticano. As encíclicas são documentos papais que são distribuídas aos bispos do mundo inteiro e, daí, para todos os fieis da Igreja Católica.

No documento divulgado agora, o papa Francisco apresenta argumentos científicos, teológicos e morais para a elaboração de medidas de enfrentamento das consequências das mudanças climáticas. Ele classifica essas medidas como “urgentes e inadiáveis” e define a destruição progressiva da natureza como um sinal de crise ética, cultural e espiritual da civilização humana. Alguns dos principais pontos do documento deixam claro a reação conservadora contra o mesmo:

Civilização industrial e catástrofe ecológica
Crescemos a pensar que éramos proprietários do planeta Terra e dominadores, autorizados a saqueá-lo. A crise ambiental que vivemos hoje é consequência dramática da atividade descontrolada do ser humano. Por meio de uma exploração sem limites da natureza, o ser humano começa a correr o risco de destruir e de vir a ser, também ele, vítima dessa degradação. Estamos diante da possibilidade de uma catástrofe ecológica sob o efeito da explosão da civilização industrial, o que exige de nós uma mudança radical de comportamento.

O sentido da natureza e do humano
Os progressos científicos mais extraordinários, as invenções técnicas mais assombrosas, o desenvolvimento econômico mais prodigioso, se não estiverem unidos a um progresso social e moral, voltam-se necessariamente contra o homem. O ser humano parece não se dar conta de outros significados do seu ambiente natural, para além daqueles que servem somente para os fins de um uso ou consumo imediatos.

É preciso mudar modelo de produção e consumo
Toda a pretensão de cuidar e melhorar o mundo requer mudanças profundas nos estilos de vida, os modelos de produção e de consumo, nas estruturas consolidadas de poder, que hoje regem as sociedades. O progresso humano autêntico possui um caráter moral e pressupõe o pleno respeito pela pessoa humana, mas deve prestar atenção também ao mundo natural e ter em conta a natureza de cada ser e as ligações mútuas entre todos, num sistema ordenado.

O aquecimento global é real
Se não forem tomadas medidas urgentes para frear o aquecimento global, o volume de água potável cairá, a agricultura ficará prejudicada e plantas e animais serão extintos. A elevação do nível do mar pode acabar inundando algumas das cidades mais populosas do mundo. O aquecimento global é real e resultado da ação do homem.

Países ricos têm dívida ecológica com os países pobres
Os países em desenvolvimento estão à mercê das nações industrializadas, que exploram seus recursos para alimentar sua produção e consumo, numa relação estruturalmente perversa. O crescimento econômico não é a receita para a solução da fome, da pobreza e da recuperação do meio ambiente. Esse é um conceito mágico do mercado, que serve a outros interesses. É preciso eliminar as causas estruturais das disfunções da economia mundial e corrigir os modelos de crescimento que parecem incapazes de garantir o respeito do meio ambiente. O mundo não pode ser analisado concentrando-se apenas sobre um dos seus aspectos, porque o livro da natureza é uno e indivisível, incluindo, entre outras coisas, o ambiente, a vida, a sexualidade, a família, as relações sociais.

Mobilização social para pressionar líderes políticos
Muitos dos que têm mais recursos e mais poder econômico e político estão concentrados principalmente em encobrir problemas ou sintomas, tentando apenas reduzir alguns impactos negativos de mudança climática. As pessoas devem se mobilizar, formar redes sociais para pressionar os líderes políticos e para ajudar aqueles que estão desabrigados ou desempregados por causa da mudança climática. Além disso, precisam começar a adotar com urgência pequenas mudanças nos hábitos diários, incluindo usar transporte público, pegar carona, plantar árvores, desligar luzes desnecessárias, economizar energia e não desperdiçar alimentos.

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