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Campanha contra violência de gênero ganha força nos estádios de futebol

Alertas para enfrentar violência contra as mulheres apostam em diálogo com os homens, já que agressões crescem em dias de jogos
Da Redação / Publicado em 19 de agosto de 2024
Campanha contra a violência de gênero ganha força nos estádios de futebol

Foto: Vitor Silva/Botafogo/ Divulgação

Jogadores do Botafogo posaram no gramado do Estádio Nilton Santos, no Rio de Janeiro, com a faixa da campanha contra a violência de gênero

Foto: Vitor Silva/Botafogo/ Divulgação

O enfrentamento à violência contra as mulheres foi tema no clássico Botafogo e Flamengo disputado pelo Campeonato Brasileiro no domingo, 18. Os jogadores do Botafogo posaram no gramado do Estádio Nilton Santos, no Rio de Janeiro, com a faixa Feminicídio Zero – Nenhuma violência contra a mulher deve ser tolerada, campanha do Ministério das Mulheres com a Secretaria de Comunicação da Presidência da República no Agosto Lilás, mês dedicado à conscientização contra a violência de gênero.

Ao longo de toda a partida, o telão de LED do estádio exibiu o selo da campanha e o Ligue 180 (Central de Atendimento à Mulher), canal de informações do Governo Federal para orientar sobre direitos, serviços e receber denúncias de agressões.

A transmissão foi uma parceria entre os ministérios das Mulheres e da Justiça e Segurança Pública e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Na véspera do jogo, os ministérios e a CBF realizaram uma postagem conjunta nas redes sociais sobre a iniciativa.

A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, esteve presente no estádio e concedeu uma entrevista à TV Botafogo sobre a importância de debater o tema no ambiente do futebol, espaço majoritariamente frequentado por homens.

Ela relatou que a iniciativa teve início inspirada no dado de que a violência contra as mulheres cresce em dias de jogos.

Pesquisa realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública em parceria com o Instituto Avon em 2022 revela que o registro de boletins de ocorrência de ameaça aumenta 23,7%. Já os registros de lesão corporal sobem 25,9% quando a partida acontece na própria cidade.

“O Estado tem um papel essencial em construir políticas públicas para evitar que as violências aconteçam e acolher as mulheres quando elas ocorrem, mas infelizmente sozinhos não daremos conta de acabar com o problema. É necessário que toda a sociedade faça parte dessa mobilização não tolerando mais nenhum tipo de agressão contra meninas e mulheres, intervindo quando for necessário, buscando ajuda. Queremos construir um ambiente seguro para todas nós e, para isso, é muito importante que os homens sejam aliados e estejam do nosso lado”, afirmou Cida.

Também acompanhou a ação do Feminicídio Zero no Estádio Nilton Santos o secretário nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor do Ministério do Esporte, Athirson Mazzoli, ex-jogador e ex-treinador de futebol.

O Ministério do Esporte aderiu à Articulação Nacional pelo Feminicídio Zero em julho.

“O esporte é uma ferramenta poderosa de transformação social. E podemos utilizar no combate a todas as formas de violência, especialmente aquela que vitimiza tantas mulheres em nosso país. O feminicídio é uma realidade cruel que não podemos aceitar”, disse o ministro André Fufuca.

Feminicídio Zero

Lançada pelo Ministério das Mulheres, a campanha Feminicídio Zero – Nenhuma violência contra a mulher deve ser tolerada marca o aniversário de 18 anos da Lei Maria da Penha, no mês dedicado à conscientização para o fim da violência contra a mulher, o Agosto Lilás.

A campanha faz parte de uma mobilização nacional permanente do Ministério das Mulheres, envolvendo diversos setores do país no compromisso de pôr fim à violência contra as mulheres, em especial aos feminicídios, a partir de diversas frentes de atuação (comunicação ampla e popular, implementação de políticas públicas, engajamento de atores diversos).

Ligue 180 com atendimento por mulheres

Campanha pelo Feminicídio Zero ganha força nos estádios de futebol

Foto: Ministério das Mulheres/ Divulgação

Ministra Cida Gonçalves, durante entrega do novo Ligue 180, e Denise Motta Dau (dir.) secretária de Enfrentamento à Violência

Foto: Ministério das Mulheres/ Divulgação

No início de agosto, a Central de Atendimento à Mulher –  Ligue 180 deu um passo fundamental no processo de reestruturação do canal inaugurado em 2023. Uma cerimônia com a presença da ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, marcou o lançamento do novo Ligue 180, que agora passa a atuar de forma totalmente independente da Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos.

Para a ministra das Mulheres, o lançamento marca uma nova forma da Central de Atendimento à Mulher de trabalhar. “O 180 tem a característica de ser muito mais preventivo e colaborativa. Gostamos de dizer que se você precisa de informações, Ligue 180. Se você está em uma situação de emergência, Ligue 190”, pontuou a ministra. “Muitas vezes tem um vizinho, uma amiga, que não sabe o que fazer quando vivencia uma situação de violência contra a mulher. O Ligue 180 é essa referência”, completou.

Conforme previsto no Programa Mulher Viver sem Violência (Decreto 11.431/2023), o Ministério das Mulheres iniciou um processo de reestruturação do Ligue 180 em 2023, com o objetivo de corrigir uma medida adotada na gestão anterior que havia comprometido o funcionamento do canal enquanto uma das principais políticas públicas de enfrentamento à desigualdade de gênero e à violência contra as mulheres.

O governo anterior, com a edição do Decreto 10.174/2019, unificou Ligue 180 com o Disque 100, no âmbito da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, voltada ao registro de denúncias de violações contra os direitos humanos de múltiplos segmentos populacionais, incluindo crianças, adolescentes e idosos/as.

Portanto, em uma só central telefônica, eram recebidas denúncias diversas, com diferentes públicos e situações.

Com o mesmo protocolo de atendimento para ambos os canais, ficaram prejudicados a diferenciação e o tratamento específico para as denúncias de violências contra as mulheres, desde os primeiros contatos das(os) usuárias(os) nos atendimentos.

Além disso, abandonou-se o conceito de gênero, essencial para desvelar as desigualdades que atingem as mulheres, em especial mulheres lésbicas, bissexuais e trans. o que prejudicou abordagens mais profundas acerca do fenômeno.

Com a criação do Ministério das Mulheres em 2023 e o retorno a concepções governamentais que compreendem as particularidades do fenômeno da violência contra as mulheres por razões de gênero, o Ligue 180 pouco a pouco foi retomando seu propósito original.

Para além de um canal de denúncia, o Ligue 180 tem como objetivo orientar as mulheres em situação de violência para que busquem os serviços especializados da rede de atendimento e assim consigam identificar e romper a situação de violência na qual estão inseridas.

Com o objetivo de fortalecer o sigilo tanto das atendentes quanto do local em que trabalham, o Ministério das Mulheres não divulga imagens da equipe do Ligue 180.

Rearticulação com os estados

Ao assumir a coordenação do Ligue 180, o Ministério das Mulheres verificou a necessidade de retomar os acordos de cooperação técnica com os órgãos da rede de atendimento para que os mesmos assumissem o compromisso de dar o retorno das providências adotadas.

Essas informações são fundamentais não só para atualização do atendimento às usuárias do serviço, como para o aprimoramento de políticas públicas de enfrentamento à violência contra a mulher.

Dessa forma, a atual gestão realizou reuniões virtuais com 23 estados para a pactuação e definição de fluxo de denúncias.

O primeiro estado a assinar um novo Acordo de Cooperação Técnica com a Central Ligue 180 foi o Piauí, e outros oito estados estão em processo de firmar o compromisso.

Os acordos também preveem que os estados atualizem os dados dos serviços de apoio às mulheres em situação de violência que disponibilizam.

A ministra Cida Gonçalves também destacou a importância de coletar e analisar os dados de violência contra as mulheres, que é o caminho essencial para a criação de políticas públicas. “Ao mesmo tempo que ele é uma esperança para as mulheres, ele é uma esperança para a formulação de políticas públicas”, destacou.

Em fevereiro de 2024, foi lançado um Painel Ligue 180, com informações dos mais de 2,5 mil serviços que compõem a Rede de Atendimento à Mulher em situação de violência.

Disponível no endereço www.gov.br/mulheres/painel180 , a ferramenta apresenta, de forma intuitiva, os endereços e os contatos dos serviços para que a população possa consultar diretamente essas informações.

Uma das primeiras alterações implementadas pelo Ministério das Mulheres, ainda em março de 2023, foi a garantia que os atendimentos realizados pelo Ligue 180 fossem recepcionados exclusivamente por atendentes mulheres a fim de garantir uma assistência humanizada e não-revitimizadora à mulher em situação de violência, que tende a se sentir desconfortável ou inibida, ao ter que falar com um atendente do sexo masculino.

Também foram retomadas as capacitações temáticas das atendentes, envolvendo temas como importunação sexual e demais crimes contra a mulher; acolhimento e atendimento público qualificado para lésbicas, bissexuais, travestis, mulheres trans e homens trans; violência política contra as mulheres e de gênero; entre outras.

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