Jornada lésbica promove ato, debate e ocupação em Porto Alegre
Foto: Paulo Pinto/ Fotos Públicas/ Arquivo
Chamar a atenção da sociedade para o constante apagamento e a invisibilidade das lésbicas em um sistema patriarcal, machista, misógino e conservador que as discrimina, fere e mata.
Essa é a pauta da Jornada Lésbica que os coletivos LGBT de Porto Alegre estão organizando a partir de quinta-feira, 29, com uma programação que se estende até sábado, 31.
Programação
A abertura da Jornada terá ato político às 18h, na esquina democrática, com concentração a partir das 17h.
Na sexta, 30, terá cine-debate no Capitólio (Rua Demétrio Ribeiro, 285), com exibição do curta-metragem Ferro’s Bar, seguido de um bate-papo com Roselaine Dias e Leila Lopes e mediação de Mariam Pessah. A entrada é franca com prioridade de ingressos para mulheres lésbicas.
O terceiro e último dia da Jornada Lésbica será marcado pelo 3º Ocupa Sapatão e a 15ª Visibilidade Lésbica, na Praça do Aeromóvel, na Av. João Goulart, a partir das 14h.
LesboCenso
De acordo com os organizadores, nem o censo do IBGE, nem a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua perguntam a orientação sexual ou a identidade de gênero das pessoas.
Na saúde, há lacunas históricas. Por isso, foi criado o LesboCenso: uma pesquisa para coletar informações sobre autoidentificação, trabalho, educação, saúde, relacionamentos, relações familiares e redes de apoio que as lésbicas e sapatão possuem nas diversas regiões do país.
O relatório do 1º LesboCenso Nacional – Mapeamento de Vivências Lésbicas no Brasil, pesquisa realizada entre 2021 e 2022 pela Liga Brasileira de Lésbicas (LBL) e Associação Lésbica Feminista de Brasília Coturno de Vênus revelou de forma inédita dados da violência contra lésbicas no país.
Das 21.656 pessoas que participaram da pesquisa, 78,61% informaram que já sofreram lesbofobia; 77,39% conheciam alguém que sofreu violência por ser lésbica/sapatão, e 6,26% conheciam alguém que morreu por ser lésbica/sapatão.
Entre as violências descritas, estavam: impedimento de sair de casa (36,46%), contato sexual forçado sem penetração (39,17%); relações sexuais forçadas com penetração (24,76%); e interrupção ao falar (92,03%).
“O lesbocídio é uma arma cruel do patriarcado que usa de todos os efeitos dos preconceitos para banir as lésbicas da esfera da vida”, observa a psicóloga Cris Bruel, coordenadora da organização não governamental (ONG) Coletivo Feminino Plural, que desde 1996 atua em defesa da cidadania e direitos de meninas e mulheres.
“O enfrentamento de toda forma de preconceito passa por processos educativos e políticas públicas”, afirma Cris.
“Embora tenha havido avanços, ainda há muitas limitações de políticas públicas específicas para melhorar a qualidade de vida das mulheres lésbicas”, denuncia a psicóloga Priscila Leote, coordenadora da ONG Outra Visão, que trabalha com a pauta LGBTQIAPN+, e é uma das entidades idealizadoras do 3º Ocupa Sapatão.
Em movimento
Para os coletivos, a inserção do Dia de Visibilidade Lésbica na agenda da Jornada Lésbica em Porto Alegre simboliza o reconhecimento da história e das lutas das lésbicas na cidade.
A exibição de filmes como o Ferros Bar, acompanhada de debates com figuras históricas lésbicas, oferece uma oportunidade de refletir sobre o passado e discutir o presente e o futuro da comunidade.
“A caminhada histórica e o ato de rua são momentos cruciais para a afirmação da identidade lésbica e para a construção de um movimento mais visível e unido”, destaca a psicóloga, lembrando que as ações enfatizam o lema “Somos sapatão e estamos sempre em movimento”.
Para ela, essas manifestações celebram conquistas e reforçam a necessidade contínua de ativismo e de visibilidade.
“Eventos culturais e políticos são fundamentais para a luta por igualdade e para a promoção de uma sociedade mais inclusiva, além de fortalecer o senso de comunidade e pertencimento entre as mulheres lésbicas”, explica Priscila.