CULTURA

Uma carreira dedicada a tirar a roupa da hipocrisia brasileira

ENTREVISTA | ODAIR JOSÉ DE ARAÚJO
Por César Fraga  / Publicado em 19 de setembro de 2024

Odair José: uma carreira dedicada a tirar a roupa da hipocrisia brasileira

Foto: Bernardo Guerreiro/Divulgação

Foto: Bernardo Guerreiro/Divulgação

Nascido em Morrinhos, interior de Goiás, Odair José de Araújo completou 76 anos no dia 16 de agosto passado, poucos dias depois de conceder esta entrevista ao Extra Classe via Zoom, direto de sua residência em São Paulo. Filho de pequenos agricultores, mudou-se com os pais para Goiânia ainda criança. Da roça, não lembra quase nada, a não ser que viu “uns caras tocando numa festa da colheita”. Por conta disso, pediu um violão de presente, mas seus pais acharam que um cavaquinho tinha o tamanho mais adequado para o garoto de sete anos. Fã de Beatles e Rolling Stones, foi crooner de vários conjuntos locais e, aos 13 anos, compôs suas primeiras canções.

Sequer havia terminado a escola secundária quando decidiu concluir os estudos e tentar a vida de artista na cidade do Rio de Janeiro. Sem dinheiro, foi morar na Casa do Estudante e se alimentava no restaurante Calabouço, ambos redutos do movimento estudantil e da resistência ao então regime militar. Os dois lugares foram fechados pela ditadura. Odair foi parar nas ruas, passando a frequentar o lado mais selvagem da Cidade Maravilhosa. Jovem, já possuía um olhar agudo sobre o Brasil real, e ali concebeu canções que se imortalizaram nestes mais de 50 anos de carreira, 40 discos lançados e 80 milhões de cópias vendidas. Sempre dialogando, como artista, com o brasileiro invisibilizado pela estética, pela moral e pelos costumes das classes alta e média.

Tendo como tema central a hipocrisia da sociedade brasileira, Odair cantou e ainda canta sobre o amor por prostitutas e empregadas domésticas, quando estas nem mesmo tinham suas profissões minimamente reconhecidas, lá no começo de sua carreira. Também escreveu sobre liberdade sexual, tabus, convenções sociais, religião, uso de drogas, homossexualidade, entre outras questões pouco usuais às rádios e programas de TV até então. Nos anos 1970, isso lhe custou dezenas de músicas censuradas e várias tentativas de boicote por parte da Igreja Católica e do governo militar.

Posicionado politicamente, mesmo cético em relação à política partidária, vai na contramão de outros artistas populares, que ora se vendem como neutros, ora se alinham à extrema direita. Odair cantou, por exemplo, Eu vou tirar você deste lugar durante o Festival Lula Livre, quando o atual presidente da República ainda dormia na cela da PF, em Curitiba, além de compor um álbum que pode ser encarado como uma crítica velada à Lava Jato, em 2016.

Hoje, artista independente, em pleno 2024, lança um novo álbum – Seres Humanos & A Inteligência Artificial –, em que utiliza a IA para que sua banda de apenas duas pessoas soe mais humana e analógica. No refrão da canção que abre o disco, Odair canta: “Somos o que nós fazemos. Somos o que nós amamos. Somos o que nós escondemos. Somos o que nós odiamos. Somos seres humanos”.

Extra Classe – Teu disco novo é um pouco diferente dos dois anteriores, que eram mais políticos. É correto dizer que neste novo trabalho você revisita temas de sua carreira com uma abordagem filosófica?
Odair José –
O anterior, Hibernar na Casa das Moças Ouvindo Rádio, veio um pouco na cola do Gatos e Ratos (2016), em que já estava mais preocupado com essa coisa da sociedade brasileira polarizada. Acho que tinha que ser discutido isso naquele momento. O que queremos como sociedade? Para onde vamos? O que somos? O que estamos fazendo? Esse tipo de coisa que agora eu volto a fazer no álbum Seres Humanos e Inteligência Artificial. Na verdade, é uma continuidade. Você falou que é uma leitura filosófica da sociedade. Não sei se chega a ser filosófica, mas ela tem uma intenção de ser, pelo menos.

Extra Classe – O álbum revisita vários temas já explorados por ti no passado, como homossexualidade, liberdade sexual, a decadência da civilização e, entre outros motes, a velhice. Isso tem a ver com o Odair ter chegado aos 75, embora seja um artista com plena vitalidade. O compositor tem pensado sobre a própria finitude ou é o eu lírico das canções que fala pelo cancioneiro?
Odair –
Isso vem do meu olhar sobre o outro. A preocupação existe não só por conta da minha idade mais avançada, mas porque ela sempre existiu. Eu sempre escrevi mais sobre aquilo que eu observava do que sobre o que eu sentia. Eu falo sobre aquilo que eu vejo. E o que eu tenho visto, já tem uns anos, e me causa muita preocupação é aquilo que digo na música Tudo é culpa do DNA: o fato de estarmos caminhando para um abismo da evolução, ou melhor, rumo à involução.

EC – Como assim?
Odair –
Nós, a humanidade, estamos rumando para um caminho que eu acho que não é o mais sensato. Mas isso é uma observação minha. Posso estar errado. E aí cabe a mim, como compositor, certo ou errado, dar a minha visão sobre o que eu estou vendo. Então, eu venho, de uma certa forma, tentando chamar as pessoas pela música, para que elas prestem mais atenção ou repensem alguns de seus comportamentos e atitudes no sentido de avaliar o que que é a vida, o que cada um está fazendo dela. Nós viemos aqui para quê? Nós estamos fazendo o que dessa vida? O que podemos fazer de melhor que não estamos fazendo?

EC – Tem a ver com uma reflexão da finitude individual do ser humano e também como espécie?
Odair –
Aí é que vem esta análise do ser humano que você falou no começo da entrevista. Talvez até possa ser por eu estar mais velho, mas acho que não. Porque eu já tinha essa preocupação em 1977, com O filho de José e Maria. Na época, eu tinha apenas 29 anos. Então, quer dizer, essa é uma preocupação que continua porque faz parte da minha forma de compor. Vem realmente de um olhar para o humano. De observar a forma que o ser humano está fazendo as coisas, mas também de que forma estão fazendo as coisas para o ser humano. Porque aí entra muito na visão do sistema como um todo: seja ele dos governos ou empresarial. O sistema de poder, que tem uma influência muito grande para muito além do que deveria na vida dos seres humanos.

MEIO AMBIENTE E FUTURO DA HUMANIDADE EM RISCO

EC – E que situações da vida prática, neste momento histórico atual, te motivam a compor: a questão ambiental, a questão política, existencial?
Odair –
As três coisas e outras mais. A questão ambiental é gravíssima e as pessoas falam, falam, falam; sabem que é gravíssima, mas nada fazem para que isso possa ser atenuado. E já chega a ser uma conclusão tipo assim: “ah, mas já não tem mais jeito!”(…) O que é uma coisa horrível! O ser humano se conforma com o fato de talvez não ter mais como voltar atrás. Eu fiquei sabendo outro dia por um membro da minha equipe, que leu em algum lugar, que daqui a 50 anos o Brasil, por estudos já comprovados, o Brasil pode se tornar um lugar impróprio para se viver devido justamente à questão climática e à elevação da temperatura. Se é 50 anos, significa que em menos de 20 anos já estaremos sentindo os efeitos disso.

EC – Esse estudo da Nasa teve desmentido e depois voltou a ser confirmado. É tema controverso, no mínimo.
Odair –
Independentemente de ser 50 anos ou mais, independentemente do estudo estar correto ou não, o aquecimento global segue sendo preocupante. A gente já sabe que lá na frente isso vai ser um problema. E isso já é um fato. E as pessoas se conformam porque muitos alegam que não estarão mais aqui, este tipo de coisa. Isso é egoísmo. De aproveitar tudo enquanto dá sem ligar para as consequências.

EC – E o sistema político?
Odair –
O sistema político é e sempre foi uma coisa muito complicada de você ver através dele uma solução para a vida humana. Eu pelo menos não vejo. Mas falo do sistema, não falo dos políticos diretamente. Parece que o sistema político em que vivemos não combina muito com as soluções da vida humana.

EC – O que mais te preocupa?
Odair –
Essa religiosidade exagerada das pessoas, quando se expressa de uma forma muito radical, impositiva, preconceituosa e excludente. Porque fé todo mundo tem o direito e é bom que tenha. A religião até faz bem para a sociedade se for vista e praticada de uma forma inteligente. Mas quando eu vejo as pessoas se atirarem cabeça e de uma forma burra – me desculpe a expressão –, é assustador. É preocupante, porque significa o emburrecimento do ser humano. Já houve quem dissesse, lá atrás – eu não sei quem, pois eu não lembro – que quanto mais um povo se apega à religiosidade, mais inculto ele fica.

EC – E a tecnologia?
Odair –
Então, por outro lado, tem essa coisa da tecnologia. As pessoas estão colocando muito as suas soluções na mão da tecnologia. Depois não reclame. A tecnologia é excelente. Sou apaixonado por tecnologia e pensava que eu não fosse ver ela tão avançada. Pensei que eu fosse morrer antes, mas eu sei que ela nem chegou ainda ao seu total de plenitude.

RELIGIOSIDADE TÓXICA

EC – A fé cega na religião é a mesma fé cega na tecnologia?
Odair –
Eu não sou contra a religião e nem contra a fé. Eu tenho fé, mas não tenho religião. As pessoas não podem ser religiosas de uma forma obtusa. Você não pode acreditar em absurdos. O que a religião tem passado para as pessoas é uma burrice sem tamanho. É fanatismo, né? E, neste caso, o fanatismo é um ato político. Um ato político no mau sentido. Então, isso me incomoda. Estou falando todas essas coisas para que se entenda como eu chego no conceito de fazer um disco da maneira que eu fiz. Aí vem essa coisa das pessoas, tal qual observo. Elas colocam demasiadamente suas expectativas para solução de problemas na mão da tecnologia. E assim como na religião, as pessoas não estão mais preocupadas em enriquecerem-se de conhecimento para melhorarem como indivíduos e serem mais úteis à sociedade. Então, é isso que é que me leva a fazer essas canções.

EC – E tem alguma contradição nesta crítica à tecnologia e realizar um álbum com uso de inteligência artificial? No estúdio foi só o Odair, o produtor Junior Freitas e a IA. Explica pra gente.
Odair – Vou explicar como funcionou. Eu, a princípio, tinha ideia de fazer esse disco com composições que analisam o ser humano a partir de alguns temas que atravessam nosso cotidiano. Por exemplo: roupa, a gente usa pra quê? O sono é pra quê? Pra descansar? Aí lá nos versos eu busco dizer de uma forma mais poética ou mais profunda que o sono pode ser um ensaio nos preparando para a morte. Assim como na questão da bipolaridade. Eu fiz a canção que trata da bipolaridade como sendo uma coisa positiva.

EC – Você é bipolar ou é só o eu lírico da canção que é?
Odair –
Não sou, não. Pelo menos não que eu saiba. Foi só um recurso de composição. Parte da minha observação. Tem outras canções do disco em que também uso este recurso. Na canção Seres Humanos, mais especificamente, quando a IA faz a narrativa, eu falo do relacionamento humano. Eu me baseei no fundamento de que a fidelidade numa relação só funciona se for baseada na plena liberdade dos envolvidos.

Uma carreira dedicada a tirar a roupa da hipocrisia brasileira

Foto: Reprodução/Divulgação

Foto: Reprodução/Divulgação

EC – Fala de casamento, um tema já recorrente seu, né?
Odair –
A letra fala que as pessoas têm de ter liberdade nas suas relações. Falo dessa coisa da prisão do casamento, que até já falei no passado, numa canção minha chamada “Na minha opinião”, em que eu dou uma criticada no papel passado, que as pessoas casam assinando um documento e isso tem que ser abençoado por um padre e um juiz pra ter validade, quando, na minha visão, uma relação deve ser diferente. Ela tem de ser com liberdade. O ser humano precisa de liberdade em todos os sentidos.

EC – E a gravação?
Odair –
Inicialmente, eu queria fazer com o Azimuth, que é um trio com o qual eu trabalhei muito no passado, inclusive O Filho de José e Maria. Não tinha mais o Zé Roberto, mas ainda tinha o Alexandre e o Mamão. Mas o Mamão também veio a falecer neste meio-tempo. Não que os que ficaram no lugar não fossem bons, mas já não era mais a mesma banda dos anos 1970. São músicos virtuosos, mas não são os que eu já havia trabalhado e com os quais já tinha uma certa química. Então essa ideia perdeu o sentido. No que isso ficou de lado, pensei: eu tenho minha banda que tinha gravado os discos anteriores, menos o Gatos e Ratos, que foi meio que sozinho.

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E CONTROLE ARTÍSTICO

EC – Você buscou mais controle artístico?
Odair –
Neste trabalho tem o Junior Freitas, que, além de produtor, é multi-instrumentista e tem o próprio estúdio de gravação. Então, a minha ideia foi fazer só eu e ele. Porque, quando você reúne uma banda e passa sua ideia, eles, da sua maneira, te dão uma resposta a partir do que você pediu, mas nunca é aquilo exatamente que você pensou. Ou vem melhor ou vem pior, mas, com certeza, vem diferente. Isso foi um aprendizado ao longo dos anos. Enfim, dessa vez eu queria fazer um disco que eu conseguisse reproduzir exatamente o que estou pensando em termos de arranjo, de temática, de som. Se a gente observar o som da bateria, dá pra ver que é uma bateria que lembra as coisas do Mamão, da década de 1970. Se você levar um cara pro estúdio hoje, ele não vai tocar daquele jeito porque a leitura é outra. Os músicos hoje não tocam mais daquele jeito. Eles têm uma outra informação. O próprio músico atual, que toca comigo já há 17 anos, não toca dessa forma.

Tento chamar as pessoas pela música para que prestem mais atenção ou repensem alguns de seus comportamentos no sentido de avaliar o que cada um está fazendo da sua própria vida

EC – E a Inteligência Artificial?
Odair –
Sobre o uso de Inteligência Artificial, foi feito assim. Bolamos os arranjos. Expliquei pro Júnior Freitas o que eu queria. Ficou definido que faríamos só nós dois. Ele tocava e eu ficava ali dizendo: faz assim, faz assado e tal. Guitarras, piano, tudo isso foi feito por ele. Um certo momento estávamos conversando – coisa de um ano e meio atrás a Inteligência Artificial estava chegando de uma forma mais definitiva nos dizendo: “eu existo; estou aqui e posso ajudar vocês”. Eu vejo essa tecnologia como uma ajuda. Mas o artista tem de ter ética. Não pode se submeter à tecnologia. Justamente eu estava com a base pronta de um arranjo de uma música chamada Submisso, que fala da submissão do ser humano a qualquer tipo de coisa: ao poder, ao amor, ao sexo, qualquer tipo de coisa. Já estava feita. Um baixo, uma bateria, um piano, órgão, arranjo de cordas. Aí o Junior me mostrou essa mesma base, tocada por ele, modificada pela IA. Ele pediu que a IA tocasse a mesma coisa que ele havia tocado, mas de uma oura forma. Ele perguntou o que eu achava e eu achei incrível. O baixo elétrico soou como baixo acústico. A bateria, a IA programou para soar como nos anos 70. E eu fui percebendo com aquelas informações que ele trazia eu poderia levar para o disco. Aí resolvemos usar a inteligência artificial fazendo outras músicas.

EC – Por exemplo?
Odair –
Eu tenho a música Sono, que tem um piano Fender Roads, que é um som de piano elétrico bem característico. Da forma como a IA interfere, é como se um músico de jazz como Herbie Hancock estivesse tocando. O meu pianista ao vivo, o Marcos Bispo, não consegue chegar em 40% do timbre analógico da gravação. Ou seja, usamos a inteligência artificial para buscar o timbre e a dinâmica do instrumento analógico. A inteligência artificial, mesmo sendo uma coisa da tecnologia, serviu para o disco soar mais humano. Se eu tivesse levado uma banda de gente, poderia ter ficado mais mecânico.

Uma carreira dedicada a tirar a roupa da hipocrisia brasileira

Foto: Guilherme Weimann/Divulgação

Foto: Guilherme Weimann/Divulgação

EU VOU TIRAR VOCÊ DESTE LUGAR

EC – Você participou do Festival Lula Livre; viveu a ditadura militar; teus discos são bastante políticos, aliás. Dito isso, como cidadão crítico e artista, qual tua avaliação do atual cenário brasileiro de disputas políticas no contexto de ano eleitoral?
Odair –
Hoje, talvez as pessoas me vejam de uma forma diferente em relação a isso. Antes, era visto como o cara que cantava música popular e, portanto, alienado. O que não é verdade, porque eu sempre estive muito ligado nesta coisa do Brasil, dos sistemas de governo, de que forma os governos interferem e muito na vida das pessoas. No meu entender, as pessoas não têm conseguido ser grandes dentro da política. Os políticos, em geral, têm a oportunidade de fazer as coisas e não fazem. Não estão vendo as verdadeiras necessidades das pessoas. Há países pequenos, como a Coreia do Sul, por exemplo, que fez grandes avanços em curto período de tempo a partir da cultura e da educação. E hoje são grandes economias e possuem alto nível de desenvolvimento humano e econômico. Eu não vejo isso em países grandes como Brasil, nem mesmo nos Estados Unidos ou na maioria dos países. Os governos não usam o sistema político da forma correta para melhorar a vida das pessoas. Ou não são capazes, ou não conseguem ou não querem. E agora, nós temos eleições municipais em todo o Brasil. Eu olho para a situação de São Paulo, que é onde eu vivo. Daí eu pergunto: para onde vai isso?

EC – Inclusive você teve muitas músicas censuradas, né?
Odair –
Eu tive várias. Veja bem, quando teve o golpe de 1964, no Brasil – aliás, quem deu o golpe não gosta de chamar de golpe, mas foi – eu, jovenzinho, estudante, já estava na Praça Cívica, em frente ao Palácio das Esmeraldas, no dia em que o governador Mauro Borges, de Goiás, foi deposto pelo regime militar para a entrada do interventor, que era o Coronel Meira Mattos. Aí, no Rio Grande do Sul, vocês também tiveram o Leonel Brizola deposto naquele mesmo momento. Então, eu acompanho isso desde aqueles dias e sempre fiz minha leitura disso. Fui para o Rio de Janeiro. Lá, eu fiz canções com temas como a da pílula anticoncepcional, prostituição, o trabalho da empregada doméstica e tantas outras temáticas que o regime militar, de alguma forma, restringiu ou censurou. Tive dezenas de músicas censuradas. Muitas tive de mexer nas letras, outras não passaram de jeito nenhum. Às vezes, mexia num título e passava. Outras vezes, dava para enganar eles aqui e ali. Os militares achavam que eu era um péssimo exemplo para os jovens brasileiros, porque sempre dei minha opinião.

MORALIDADE NOS TEMPOS DA DITADURA E CENSURA

Uma carreira dedicada a tirar a roupa da hipocrisia brasileira

Foto: Reprodução/ Memórias da Ditadura

Foto: Reprodução/ Memórias da Ditadura

Uma carreira dedicada a tirar a roupa da hipocrisia brasileira-.

Foto: Reprodução/ Memórias da Ditadura

Foto: Reprodução/ Memórias da Ditadura

EC – O conceito de moralidade do regime militar não era o mesmo do jovem compositor Odair José?
Odair –
Eu era o que chamam de persona non grata. Lá por 1974/75, chegou a existir uma conversa sobre uma carta enviada pelo governo militar, então comandado pelo General Ernesto Geisel, orientando as gravadoras do guarda-chuvas da Phillips e seus selos, para que não gravassem comigo, com foco especial na minha gravadora, que era a Phonogram (mais tarde, PolyGram). E temos de lembrar que naquela época, diferente de hoje em dia, as gravadoras eram o único meio de entrar no mercado musical. Hoje, se o artista tiver um bom home studio, ele se lança sozinho nas plataformas de streaming. Então, não era só censura. Uma interferência neste nível poderia significar o fim da carreira de um artista.

EC – E como foi?
Odair –
Na época, eu questionei a gravadora via departamento jurídico. Perguntei se essa carta realmente existia. Me disseram que não, que era só conversa. Anos e anos depois, eu me dei de cara com esta carta ao participar de um documentário sobre os 50 anos da censura e da ditadura e o documento estava lá. A carta dizia literalmente isso: que as minhas canções eram uma péssima influência para os jovens brasileiros. Do que eles estavam falando? Deste falso moralismo que eu cutucava com as minhas letras: o cara que vai casar com uma prostituta, o cara que valoriza a empregada doméstica, o cara que na música “Viagem convida os amigos para fumar maconha, o cara que assume sua homossexualidade. Colocar na mesa o debate sobre a orientação sexual e a liberdade sexual das pessoas era malvisto pela ditadura, e já naqueles anos 1970 eram meus temas nas canções. Essa foi a forma de participar politicamente com meu trabalho.

EC – Foi tua forma de resistir?
Odair –
Isso de você ficar cutucando determinados assuntos por meio de canções populares também é uma forma de minar e até de mudar um sistema político. Quando proibiram a música da pílula, eu fui até os órgãos competentes acompanhado de um advogado para saber o motivo da censura e tentar liberar. Lá, eu soube que ela estava sendo proibida porque os militares queriam distribuir anticoncepcionais gratuitamente paras as mulheres mais pobres e não ficava bem uma música dizendo “pare de tomar a pílula”. Tentei explicar para eles que as pessoas que eles queriam que tomassem a pílula eram as mesmas que escutavam minhas canções. Com isso, trazer o assunto mais esclarecia e ajudava a entender a função da pílula (que era, para muitos, algo novo na época) do que atrapalhava. Mas eles não foram espertos. Enfim, o projeto deles foi um fracasso e a música, mesmo censurada, é um sucesso até os dias de hoje.

EC – Como foi teu início, lá no final dos anos 1960, sair de Goiás pra ganhar o Rio de Janeiro e o país?
Odair –
Eu nasci em Morrinhos, interior de Goiás. Aos sete anos de idade, ganhei um cavaquinho. Eu tinha pedido um violão para os meus pais, mas eles acharam que o cavaquinho era mais apropriado para o meu tamanho. Lá pelas tantas, eu nem sabia mais por onde andava esse cavaquinho. Um pouco antes da minha mãe morrer, ela entregou esse cavaquinho pra minha mulher. Esse cavaquinho tem 68 para 69 anos e eu comecei a compor nele.

Uma carreira dedicada a tirar a roupa da hipocrisia brasileira

Foto: Bernardo Guerreiro/Divulgação

Foto: Bernardo Guerreiro/Divulgação

TROPICÁLIA, JOVEM GUARDA E OUTRAS INFLUÊNCIAS

EC – O que te influenciou? Tem algum artista que te inspirou e tu consideras determinante?
Odair –
Quando comecei, tinha a Jovem Guarda. A maioria dos jovens ia na onda dos Beatles, dos Stones e das bandas inglesas e americanas. Mas, de repente, a música jovem feita aqui começou a ter uma cara mais brasileira com o Caetano Veloso, Gilberto Gil, Roberto Carlos e Mutantes. Desde cedo, lá em Goiânia eu ouvia muito rádio. Eu escutava de tudo. Prefiro pensar que eu fui influenciado por várias pessoas. O rádio naquela época era muito eclético (tem gente que não gosta dessa palavra). Tocava numa sequência Teixeirinha, Roberto Carlos, João Gilberto e Beatles. Só para dar um exemplo. A minha vontade de mexer com música, parece que já nasceu comigo. Meu pai sempre mexeu com agricultura e tal. Eu me interessava, mas não era o meu negócio. Eu não necessariamente queria ser cantor, mas sabia que queria ser músico. Ninguém disse que ia pegar minhas músicas e dar para alguém gravar. Foi meio por acaso. Como pediram para eu gravar minhas próprias músicas, virei cantor. Sou um compositor que virou cantor. Eu comecei numa época em que compositor e cantor eram funções distintas no meio musical. No Brasil, isso começou mais forte com o sucesso do Roberto Carlos. No início gravava muita versão, até que ele e o Erasmo Carlos descobriram que eles podiam fazer as próprias músicas. E aí vem aí Caetano, Gil, Chico Buarque. Então os compositores passaram a cantar suas próprias músicas. E essa cena muito variada me influenciou.

Uma carreira dedicada a tirar a roupa da hipocrisia brasileira

Foto: Reprodução/Memórias da Ditadura

Odair e Caetano nos anos 1970 tinham o mesmo empresário: Guilherme Araújo

Foto: Reprodução/Memórias da Ditadura

EC – Alguma canção marcante?
Odair –
Quando cheguei no Rio de Janeiro com o meu caderno de música, eu já sabia da existência do Roberto Carlos, que me impressionou muito no disco Jovem Guarda, quando ele usa um som de órgão que eu nunca tinha escutado. Parece que era o Lafaiette que tocava. Escutei “Quero que vá tudo para o inferno”. Eu falei “pô, esse cara tá fazendo algo diferente!” Foi ali que ele me chamou a atenção. Até então, ele era um pouco como os outros que eu já acompanhava. Achei que ele saltou um pouco na frente dos companheiros. Mas quando eu chego no Rio e escuto no rádio Alegria, Alegria!, do Caetano Veloso, “caminhando contra o vento, sem lenço sem documento”, que ele tinha acabado de apresentar num festival, eu falei pra mim mesmo: “Cara, isso é muito diferente do que eu tô escrevendo. Tenho que repensar minhas composições. Tô muito atrasado e preciso me atualizar”.  Então, é tudo uma questão de aqui e ali você ir catando influências. Como eu tive a sorte de conviver com Raulzito e outras pessoas que estavam mais à frente, fui aproveitando o conhecimento das pessoas e aprendendo com elas. E foi o que fiz até achar meu próprio som e sigo fazendo.

EC – Com 18 anos, recém-chegado no Rio, como você saiu da Casa do Estudante e foi parar na gravadora CBS?
Odair –
Cheguei no Rio, de dezembro para janeiro de 1966 com pouco dinheiro, mas com alguns nomes de produtores e diretores de gravadoras para fazer contato. Entre eles, o Rossini Pinto. Eu fui atrás dessas pessoas, mas demorei um pouco para conseguir falar com eles. Não foi tão rápido conseguir falar com eles. O dinheiro acabou e fui morar na Casa de Estudante por um tempo e comia no restaurante dos estudantes, o Calabouço. Quando os militares fecharam tudo, em 1968, cada um vai para o seu lado, fazer seu caminho e lutar da sua maneira. Aí passei a circular pela Visconde do Rio Branco, 53, onde ficava a poderosa gravadora CBS. Ali conheci o Raulzito, que mais tarde seria conhecido como Raul Seixas, Mauro Motta, Renato Barros e o Rossini Pinto, que era naquele momento meu foco, porque ele possuía muita abertura nas gravadoras por ser um grande compositor e versionista. E foi ele quem me colocou na gravadora CBS, em 1969.

EC – Como foi gravar com Raul Seixas?
Odair –
O Raul trabalhava na parte de produção. Eu o conheci em 1969. Ele tinha vindo da Bahia trazido pelo Jerry Adriani. Na Bahia, ele toca com Raulzito e os Panteras. Então o Raul ficou meio como um representante do Jerry na CBS. Com o tempo, ele passou a servir não só ao Jerry, mas à gravadora. O Raulzito era um cara muito qualificado. Em 1970, o meu primeiro disco foi gravado por ele, apesar da produção ser assinada pelo Rossini Pinto. Quem ficava mesmo comigo no estúdio era o Raul. Às vezes, o produtor não tinha paciência de ficar ali no estúdio. O Raul dava ideias, resolvia questões de gravação, de som de bateria.

A VIDA NOTURNA, SUCESSO E TUDO MAIS

EC – A boemia te surgiu de que forma?
Odair –
O lado noturno e boêmio do Rio eu conheci quando fui me hospedar na Praça Tiradentes, assim que cheguei no Rio. Num hotel que existe lá até hoje. Ali tem o Teatro João Caetano de um lado e o Carlos Gomes do outro. E perto do Teatro Carlos Gomes, naquela época, ficava uma multidão, e não levou muito tempo para eu descobrir que era o ponto dos músicos. Eles se encontravam por ali, geralmente na segundas e terças-feiras, para agendar trabalhos. Enquanto eu não conseguia alinhavar conversas com as gravadoras, ao menos eu conseguia fazer uma agenda para tocar na noite, fosse para acompanhar alguém, fosse para me apresentar solo. Eu trabalhei por um ano desse jeito e me sustentei financeiramente. Assim aprendi muito, porque aí você tem que tocar desde Ataulfo Alves a Roberto Carlos, de Luiz Gonzaga a Tom Jobim. Música italiana, americana, inglesa. Você tem de tocar de tudo. Na noite é assim.

EC – Venda de discos e sucesso artístico são a mesma coisa?
Odair –
Eu sou de uma época que tinha gente que vendia muito disco e, ao vender muito disco, fazia muito sucesso. E tinha gente que fazia muito sucesso, mas não vendia tanto disco assim. Era mais um sucesso de imagem, de carisma junto ao público. Tinha o cara que fazia muito sucesso com fãs, mas nem vendia tanto disco assim. Mas as pessoas queriam vê-lo, pegá-lo, estar perto. Mas na hora de comprar o disco, comprava o disco da gente. O trabalho tocava mais no coração, na cabeça e tal. Existia outro artista também que fazia muito sucesso com a crítica, que era a nata da MPB e que não vinha de disco nenhum. O André Midani, que era o presidente da nossa gravadora (e um dos inventores do termo MPB), em seu livro – eu não li, mas me contaram – escreveu que “o Odair José vendia muitos discos para que a gente pudesse gravar Caetano Veloso e outros, que vendiam pouco”. Isso era o presidente que estava dizendo. Hoje existe muita discussão sobre likes e visualizações, onde, na verdade, isso é sucesso de fato.

EC – E você acha que chegou onde queria chegar?
Odair – De 1972 a 1976, vendi muitos discos e liderei paradas de sucesso. De 1975 para 1976 percebi que estava me repetindo. Eu liderava paradas, vendia discos, fazia shows, ganhava meu dinheiro, mas estava me repetindo. Os discos estavam muito iguais. Eu estava sendo cover de mim mesmo. Nos discos de 75 e 76 eu já estava pensando: isso não é fazer arte, é fazer negócio. Estava repetindo fórmulas. Foi quando me veio a ideia de propor um trabalho diferente que é O filho de José e Maria. E ele não era diferente só na carreira do Odair José, ele era diferente de tudo que estava no mercado. E por isso talvez tenha assustado tantas pessoas. Tanto os concorrentes, quanto os colegas. Os cantores, na verdade, são concorrentes uns dos outros. Eles podem ser colegas, mas são concorrentes.

EC – Ousadia incomoda?
Odair –
Então, quando eu faço O filho de José e Maria, se aquilo desse certo, eu obrigaria todo mundo a se mexer. Como não deu certo, não faltou “ufa!” e “ainda bem que para ele deu errado!”. Só que agora, 47 anos depois, O filho de José e Maria é o disco mais importante da carreira do Odair José e eu vivi para ver isso. Então, eu já tinha atingido a meta que você se refere. Eu já era um campeão de venda de disco. Eu já era um cara extremamente conhecido no Brasil. Já tinha me resolvido artisticamente. E gosto da minha natureza, da minha inquietação, não tenho medo de correr riscos. Gosto de correr risco e você começou a nossa conversa citando Gatos e Ratos, Hibernar na casa das moças e agora Seres Humanos, onde posso fazer o que eu quero e o que penso. Quando você tá na gravadora, você é barrado no baile, que foi o que aconteceu no O filho de José e Maria.

A ÓPERA ROCK QUE INCOMODOU A DITADURA, A IGREJA E AS GRAVADORAS

Odair José - Uma carreira dedicada a tirar a roupa da hipocrisia brasileira

Foto: Reprodução/Divulgação

Foto: Reprodução/Divulgação

EC – Como tudo aconteceu antes, durante e depois da feitura da ópera-rock de 1977 O filho de José e Maria e de que forma impactou na tua carreira. Até excomunhão pela Igreja Católica se falou na época. Conta pra gente.
Odair –
Sobre a excomunhão, acho que ficou só na ameaça. Nunca fui atrás para saber ao certo. Primeiro, eu ia fazer um álbum com 18 canções. Eu saí da Polygram porque a gravadora não queria fazer o álbum. Eles não gostavam do projeto. O curioso é que começaram a falar que era uma ópera. E era realmente uma ópera, pois tinha uma música ligada à outra, contando uma história. Eu estava narrando a vida de uma pessoa. No caso, fazendo um paralelo com a minha própria vida, com a sua, com a de qualquer um. Com seus altos e baixos, com seus defeitos, com suas limitações, grilos, etc. A Polygram até disse: “Faz teu álbum conceitual, mas entrega um outro em paralelo para que a gente possa vender”. Na época, eu dava muito lucro e tal. Eu respondi: “Não existe outro álbum”. Aí não chegamos a um acordo e eu mudei de gravadora. Fui pra RCA Victor (depois BMG Ariola) com a promessa de que o disco sairia do jeito que eu queria.

EC – Mas acabou sendo boicotado, né?
Odair –
Meu empresário na época era o Guilherme Araújo, que era o mesmo de Caetano, Gil, Gal e Bethânia. Ele que fazia as negociações. Segui trabalhando no álbum, um tanto afastado do meio. De repente, comecei a escutar um burburinho. As pessoas falando do meu trabalho sem nem conhecer. Eu não tinha mostrado as músicas e ninguém sabia o que iria gravar. “Esse cara é louco, vai jogar a carreira fora”, diziam. Às vezes, eu cruzava com pessoas que tinham mais intimidade comigo e me falavam: “Não faz isso!” Esse disco foi retaliado antes mesmo de ser realizado. Ainda durante a gravação, eu percebo que não poderiam ser as 18 músicas. Me disseram que tinha problema com a censura em algumas, que tinha de modificar, que o álbum era muito caro, que deveria fazer em duas partes, enfim, um monte de obstáculos. Eu achei que, se antes mesmo de lançar o disco já estava provocando uma encrenca danada, se eu colocasse as músicas na ordem certa da operazinha, aí é que as pessoas iam enlouquecer mesmo. Então, tentei enganar as pessoas deixando as músicas soltas. Só que não funcionou, porque não entraram na minha conversa. Já tinham decidido que aquele disco seria um fracasso.

E daqui para diante, Odair? Depois de tudo isso, tendo liberdade artística plena e toda essa trajetória, para onde vai tua carreira? Já está compondo coisas novas? Está focado no disco novo?
Odair –
Eu faço 76 daqui a 15 dias. Vou passar dos 76 anos e não sei até onde vou fisicamente.  Eu tenho tocado bastante em festivais com público de 25 a 40 anos. Agora mesmo, estive em Fortaleza e teve um detalhe que me chamou a atenção. Não é a primeira vez, ele já aconteceu outras vezes e voltou a acontecer, mas agora me chamou atenção especialmente. Eu fui fazer dois shows em Fortaleza, um com a banda num espaço grande, num anfiteatro, e depois eu fiz uma coisa meio que acústica, eu, o piano e o violão num local mais intimista. Depois do show, de repente, apareceu uma senhora com uma moça. Me lembro até o nome da moça: Nina, uma menina caladinha, com 16 anos de idade. A mãe me disse: “Olha, eu vim aqui por causa dela”. A mãe explicou que a filha havia ameaçado ir sozinha caso ela não a levasse ao show. Eu perguntei por quê. Então ela falou que era por causa do disco O filho de José e Maria. “Ela é apaixonada pelo disco e sabe as músicas de cor”, disse a mãe. Então, isso é uma coisa fantástica!

EC – A obra ainda repercute?
Odair –
Já tem uns 15 anos para cá que, vira e mexe, eu cruzo com jovens adolescentes que gostam deste disco. Eles descobriram o álbum agora graças às redes sociais e às plataformas. Inclusive, está saindo neste mês de agosto um livro só para falar desse disco. Tem até um nome curioso. Se chama O evangelho segundo Odair, do Leonardo Vinhas, para a editora Barbante, de Curitiba. Parece que ele fez uma extensa pesquisa. Uma das coisas que ele descobriu é que não cheguei a ser excomungado, apenas ameaçado, por causa do disco. Além disso, ele falou com várias pessoas que participaram do projeto e que ainda estão vivas. Eu não conheço o teor do livro. Espero que seja bom, mas o título eu achei bem forte. Espero que não me crie problemas! (risos). Tomara que não. Ou que seja um problema bom.

ODAIR DO FUTURO

EC – Projetos?
Odair –
No momento, estou mais envolvido em montar um show de palco bom, que é muito trabalhoso. Precisa montar um bom repertório, porque eu tenho 54 anos de músicas tocadas em rádio e gravando. Fica difícil montar uma hora e meia de repertório. Meu desafio agora é fazer um bom show deste disco novo mesclando com o trabalho de todos os tempos para levar para o palco. Algo perto do ideal, porque o ideal a gente não vai conseguir nunca. Mas, como sou muito inquieto, daqui a pouco começo a pensar em coisas novas.

EC – Tem previsão de shows no Rio Grande do Sul?
Odair –
Quando comentei que ia dar essa entrevista, pensei: pô, faz tempo que eu não falo com o pessoal do Rio Grande do Sul. Teve uma época que eu não saía daí. Agora faz tempo que eu não vou. Espero que tenha uma oportunidade de aparecer por aí.

EC – Tem algo que não tenha sido perguntado e que você queira dizer?
Odair –
Eu quero agradecer pela oportunidade de falar do meu trabalho, da minha pessoa, da minha história. Quero dizer para o pessoal do Rio Grande do Sul e do Brasil inteiro, mas principalmente aí para os gaúchos, que o primeiro estado em que eu fiz sucesso foi o RS. Quando lancei o álbum de 1970, fui comunicado pela gravadora que estava com uma música estourada no Rio Grande do Sul chamada Sua cartinha. Eu gosto muito da região. E não tem nada que eu tenha deixado de falar ou que você deixou de perguntar. Pra mim, a conversa foi ótima. Espero que pra você também. Tenho saudades da região e espero a qualquer hora poder aparecer aí para cantar minhas canções.

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