EDUCAÇÃO

Com dívidas de R$ 135 milhões e caixa zero, São Judas anuncia que não abrirá matrículas em 2025

Tentativas de venda em leilões do prédio para pagar dívidas trabalhistas foram frustradas, o que pode inviabilizar o processo de recuperação judicial da instituição
Por Gilson Camargo / Publicado em 2 de outubro de 2024
Com dívidas de 135 milhões e caixa zero, São Judas anuncia que não abrirá matrículas em 2025

Foto: Igor Sperotto

São Judas convocou professores para comunicar que não abrirá matrículas em 2025 e que não tem caixa para pagar a folha até dezembro

Foto: Igor Sperotto

Depois de comprometer seu caixa por meio de sucessivas operações de antecipação de receitas com o sistema financeiro e em meio a dívidas que somam quase R$ 135 milhões, a Faculdade São Judas Tadeu e o Colégio São Judas Tadeu estão na iminência de abrir um processo de falência.

Na última semana, um comunicado interno em tom alarmante informou aos professores que ainda estão na ativa na instituição -que não serão abertas matrículas para o primeiro semestre de 2025.

Os docentes, que já estão sem receber salários há dois meses, também foram informados que não há recursos para pagar mais que 20% da folha até o final do ano letivo.

A instituição mantém cerca de 100 funcionários, entre professores e técnicos administrativos, e conta com 160 matrículas na educação básica e menos de 100 no ensino superior.

Em torno de 200 professores e técnicos foram demitidos pela instituição no último período e não receram seus créditos rescisórios. Os créditos trabalhistas foram incluídos na recuperação judicial que agora está ameaçada por falta de caixa.

Na pior crise financeira enfrentada pela instituição nas últimas décadas, o processo de recuperação judicial aprovado em assembleia também foi paralisado pela impossibilidade de gerar receitas para garantir os créditos trabalhistas e com o Fisco. São R$ 34,4 milhões de passivo trabalhista e cerca de R$ 100 milhões em dívidas com a União.

Em uma tentativa para gerar créditos, o prédio da Faculdade foi ofertado em dois leilões realizados em junho e julho, mas que restaram “desertos”, ou seja, não houve lances porque ninguém se interessou pelo imóvel. O imóvel de propriedade da mantenedora Sociedade Educacional São Judas Tadeu foi colocado à venda com um lance mínimo de R$ 24,1 milhões no primeiro leilão e R$ 18,5 milhões no segundo.

O impasse não passou despercebido. Imediatamente após o fracasso dos leilões, a DLS Incorporadora, por meio de seu sócio Rogério Dal Magro, apresentou uma oferta de R$ 9 milhões pelo imóvel. Caso a transação venha a se concretizar, o Grupo Raiz Educação assumiria a continuidade das atividades educacionais por meio do Colégio Unificado.

Assembleia

Na próxima terça-feira, 8, os professores da São Judas que estão na ativa reúnem-se em uma nova assembleia convocada pelo Sindicato dos Professores do Estado (Sinpro/RS).

Eles irão discutir a continuidade do ano letivo face ao anúncio de que não haverá recursos para pagar os salários dos professores que foram convocados para trabalhar de forma gratuita até o final do ano.

Até o final de outubro, todos os professores da instituição, ou seja, aqueles que têm contrato de trabalho vigente e também os demitidos que ainda não receberam seus direitos rescisórios terão uma reunião com o Sinpro/RS. Até lá, o administrador judicial deverá reavaliar o processo de recuperação judicial diante dos impasses.

O pedido de recuperação judicial foi apresentado em junho de 2022 à 1ª Vara Regional e Empresarial de Porto Alegre.

O departamento jurídico do Sindicato solicitou uma atualização dos dados da recuperação judicial para atualizar os valores dos créditos trabalhistas da categoria. A instituição ainda não se manifestou.

“A proposta de recuperação judicial aprovada em assembleia está inviabilizada, é inexequível. Tanto que a própria instituição chamou os professores da ativa para dizer que não vai reabrir matrículas para 2025 e isso remete à necessidade de nós discutirmos o que fazer”, explica Amarildo Cenci, diretor do Sinpro/RS.

A mobilização já contou com uma reunião de professores na segunda-feira, 30. “O Sinpro/RS está empenhado para que o patrimônio da instituição e eventuais receitas oriundas da venda de patrimônio sejam revertidos para os trabalhadores”, sinaliza.

Os professores da ativa reivindicam o cumprimeito dos contratos ao menos até o final do ano letivo, bem como a regularização dos salários atrasados.

“A instituição alega que que não tem condições de pagar os professores e que remunerará somente 20% do seus direitos. Isso representa um agravante em uma situação em que os professores já estão há quase dois meses sem receber salários. Como irão chegar no fim do ano sem rescisão, sem 13º salário, sem férias e sem salário?”, indaga Cenci.

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