Arte: Ricardo Machado
Arte: Ricardo Machado
A Europa sonhada por Napoleão seria a primeira experiência de uma união continental depois da queda do Império Romano. Fora os romanos – cujo “império” foi uma coleção de províncias submissas, nada como um estado múltiplo –, o que Napoleão imaginava não tinha precedentes. Era uma ideia sem base e sem modelo. Já a ideia de um estado europeu proposto por Monnet e os outros arquitetos do Mercado Comum surgiu numa Europa cujas elites, em grande parte, se pareciam e compartilhavam a mesma cultura e os mesmos hábitos. Tinham até, em comum, o francês, a língua da diplomacia e, como sabe qualquer leitor dos russos de Tolstoi a Nabokov, a língua que os aristocratas falavam para não serem entendidos pelos servos.
Para também facilitar o sucesso da nova união, houve a Segunda Grande Guerra e suas consequências. A guerra foi um exemplo do que precisaria ser evitado no futuro e a reconstrução da Europa depois dos estragos da guerra um exemplo da necessidade de um esforço conjunto que superasse fronteiras nacionais. O Plano Marshall, que ajudou na reconstrução da Europa, pode não ter sido uma pura amostra de altruísmo americano – seu objetivo maior foi assegurar para os Estados Unidos, que saíram da guerra como a maior potência industrial do mundo, um mercado europeu para a sua produção – mas também foi um exemplo inspirador de cooperação transnacional.
Mas nem Napoleão Bonaparte nem Monnet e os outros visionários poderiam imaginar que suas ideias seriam sequestradas pelo capital financeiro e a sonhada comunidade europeia acabasse numa desunião entre credores e devedores, um império de paróquias defendendo seus respectivos banqueiros, com a capital, claro, em Berlim. A ideia não era essa.