CULTURA

Richard Serraria lança projeto de contação de história afro para crianças

A tamboralitura (constatação de que toda roda de tambor traz em si uma poética de natureza) voltada para crianças estreia em novembro, em Porto Alegre; ingressos estão disponíveis para retirada no Sympla
Por Bárbara Neves / Publicado em 11 de novembro de 2024
Artista Richard Serraria lança a contação de história Girafa da Cerquinha

Foto: Jeff Granja

A contação de história se baseia na  fábula da girafa que teria vindo da África num navio e aportando em Pelotas – mais especificamente no bairro da Cerquinha, onde havia um carnaval burlesco com nomes de bichos.

Foto: Jeff Granja

Está em desenvolvimento o projeto Girafa da Cerquinha, que consiste no reconto de uma história entoada originalmente pela mestra griô Sirley Amaro. A peça será apresentada por Richard Serraria, artista porto-alegrense com 30 anos de trajetória musical e poética, vencedor de oito prêmios Açorianos de Música, Doutor em Literatura Brasileira e com trabalho reconhecido também na dimensão da performance com sopapo.

Em relação ao papel da contação de histórias —principalmente as afrocentradas — para a formação leitora das crianças, Richard ressalta: “Trabalha o fortalecimento da auto estima através da representatividade das imagens, valorização da cultura afro-brasileira e mostra ainda o protagonismo negro. Também constrói imaginário negro em termos gerais e provoca um deslocamento da centralidade da branquitude como elemento hegemônico nas histórias infantis.”

A história conta a fábula da girafa que teria vindo da África num navio e aportando em Pelotas – mais especificamente no bairro da Cerquinha, onde havia um carnaval burlesco com nomes de bichos. Uma contação de história infantil com o tambor sopapo sendo tocado de maneira continuada envolvendo a criançada numa vivência lúdica com as batidas características do grande tambor negro gaúcho (Ijexá, Adarun, Aré do Bará, Congadas RS, Samba Cabobu, Candombe uruguaio gaúcho e Milongón). Cada batida negra sonoriza um nome de bicho, personagens da narrativa.

“A ideia de democratização do acesso ao sopapo, também levando-o para as crianças, fez com que pensássemos em torná-lo próximo das crianças através de uma contação de história infantil”, explica Serraria sobre a criação do projeto.

Com direção cênica de Leandro Silva, a montagem envolve, ainda, Tuti Rodrigues e Angelo Primon na assessoria técnico musical e Paola Kirst e Indira Castro na preparação vocal. O espetáculo contará com cenografia de Anderson Gonçalves e figurino de Mari Falcão.

O que é tamboralitura

“É a constatação de que toda roda de tambor traz em si uma poética de natureza oral portanto da ordem da oralitura devendo todavia ser incluída no âmbito da historiografia literária brasileira”, esclarece o Doutor em Literatura.

A temporada de estreia será em novembro, em Porto Alegre (RS) com seis apresentações que contarão com medidas de acessibilidade, como intérprete de Libras e audiodescrição, além de bate-papo e debate para professores e extensionistas universitários. No dia 16 serão realizadas duas apresentações abertas na Casa de Espetáculos (Rua Visconde do Rio Branco, 691 – Moinhos de Vento), às 15h e às 16h, com retirada de ingressos pelo Sympla*.

Já no dia 20, às 15h, haverá uma apresentação na 70ª Feira do Livro de Porto Alegre no Teatro Petrobras Carlos Urbim. O projeto, financiado pela Lei Complementar nº195/22-Lei Paulo Gustavo (LPG), através do Edital Criação Artística da SEDAC RS, que também pretende contribuir para que professores e alunos se sensibilizem para a importância das temáticas negras na sala de aula. “Imensa expectativa, alegria do tamanho do tambor sopapo com essa estreia do projeto e ainda participação na Feira do Livro de Porto Alegre”, celebra o artista.

Por isso, serão realizados três bate-papos após as apresentações da obra, destinados especialmente ao público de professores e alunos de escolas públicas, com debate acerca da obra e da importância das leis 10.639/2003 e 11.645/2008 que tornam obrigatório o ensino da História e cultura africana, afro-brasileira e de cultura indígena no currículo escolar com ênfase nas disciplinas de História, Arte e Literatura, objetivando a educação para as relações étnico-raciais.

Mestra griô reconhecida pelo Ministério da Cultura dentro do Programa Cultura Viva, Dona Sirley foi homenageada pelo Ponto de Cultura Quilombo do Sopapo em Porto Alegre nomeando a Biblioteca comunitária do local, já que sempre que visitava esse espaço era ali que a mestra griô preferia ficar, no território sagrado da contação de histórias.

A respeito da relevância de Dona Sirley, ele destaca: “Fundamental importância pois mostra o papel de uma pensadora de visão estratégica, mulher negra que era uma griô e e exercia tal função social via contação de história infantil assim construindo uma educação antirracista.”

*Bárbara Neves é estagiária de jornalismo. Matéria elaborada com supervisão de César Fraga.

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