EDUCAÇÃO

Câmara aprova punição a escolas que recusarem matrícula de aluno

Instituições de todas as modalidades e níveis que recusarem alunos podem ser suspensas ou descredenciadas. Objetivo é assegurar a educação inclusiva
Por Gilson Camargo / Publicado em 12 de fevereiro de 2025
Câmara aprova punição a escolas que recusarem matrícula de aluno

Foto: Bruno Spada/ Câmara dos Deputados

Projeto foi aprovado na Câmara e será enviado ao Senado para votação

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O plenário da Câmara dos Deputados aprovou na noite de terça-feira, 11, o projeto de lei do deputado Helder Salomão (PT-ES) que estabelece sanções para as escolas que recusarem a matrícula de alunos em todos os níveis e modalidades de ensino, o que inclui as dos estudantes com deficiência.

Essas sanções poderão ser de advertência, suspensão temporária de admissão de novos alunos ou suspensão da autorização de funcionamento ou do credenciamento da instituição de ensino. O texto será enviado para votação no Senado.

Câmara aprova punição a escolas que recusarem matrícula de aluno

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Helder Salomão (PT-ES), autor da proposta: medida contra o preconceito

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De acordo com o Projeto de Lei 9133/17, as sanções serão aplicadas quando da ocorrência da recusa injustificada da matrícula e na reiteração dessa recusa. Salomão lembrou que, atualmente, há muitas denúncias de recusa de matrícula sem justificativa. De acordo com o parlamentar, a proposta visa a educação inclusiva. “Pela questão cultural e, principalmente, por causa do preconceito contra a pessoa com deficiência, ressaltou o deputado.

A relatora da proposta, deputada Delegada Adriana Accorsi (PT-GO), incluiu dispositivo que remete a um regulamento do sistema de ensino respectivo a definição do modo de aplicação das penalidades, as quais deverão ser de forma gradativa. Não estão descartadas outras medidas.

Adriana Accorsi afirmou que muitas escolas dificultam a matrícula de alunos, em especial com deficiência, alegando não terem condições ideais para atender esses estudantes ou já ter cumprido a cota de matrículas nesses casos. “A medida aprovada contribuirá para a eliminação dessa forma de discriminação ainda praticada por muitas escolas em todo o país”, disse.

Segundo ela, o projeto traz humanidade e acolhimento para crianças e adolescentes. “Vamos garantir que todas as crianças e adolescentes tenham direito à educação”.

As mudanças serão feitas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), no artigo sobre as escolas privadas. A instituição de ensino deverá apresentar, por escrito, as razões da recusa de matrícula.

Combate ao preconceito

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Adriana Accorsi (PT-GO): “Vamos garantir que todas as crianças e adolescentes tenham direito à educação”

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Diversos deputados debateram o projeto na sessão do Plenário. “Os maiores beneficiários da proposta são as pessoas com deficiência, com autismo e as hipervulneráveis, que não têm hoje uma medida administrativa para sua defesa”, reconheceu a deputada Gisela Simona (União-MT).

A deputada Jack Rocha (PT-ES) ressaltou que a proposta não fere o princípio da atividade econômica.

Para o deputado Chico Alencar (PSol-RJ), o mais impressionante do projeto é ter alguém contra o texto. “Há recusas em relação a alunos e alunas por razões ocultas de segregação, preconceito, discriminação por cor da pele, eventual deficiência física”, assinalou.

Já a deputada Laura Carneiro (PSD-RJ) disse que o projeto é simples e apenas garante que crianças tenham direito a estudar. “Elas simplesmente não podem ser impedidas de estudar em determinada escola. Nada a ver com a questão financeira”, disse.

O deputado Domingos Sávio (PL-MG) afirmou que a escola privada atua por concessão do poder público com regras claras. “As regras devem ser respeitadas com justiça e equilíbrio. Negar sem justificativa é uma afronta a uma concessão dada”, alertou.

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Todo mundo conhece uma mãe de criança com deficiência que ficou peregrinando por uma vaga, lembrou Talíria Petrone (PSol-RJ)

Foto: Bruno Spada/ Câmara dos Deputados

O líder do PT, deputado Lindbergh Farias (RJ), lembrou que nada deixa um pai ou mãe mais desesperado do que ter a matrícula negada. “Isso acontece na rede privada, sim. É um problema muito presente”, afirmou, ao citar o fato de ser pai de uma adolescente com síndrome de Down.

A proposta foi atacada por parlamentares bolsonaristas. Soraya Santos (PL-RJ) argumentou que a proposta atinge a livre iniciativa das escolas particulares. “É a gente legislando para, cada vez mais, diminuir aquele que gera emprego e ficar refém do sistema público”, alegou.

A deputada Talíria Petrone (PSol-RJ) lembrou que a liberdade da iniciativa privada não pode fazer do ambiente escolar um lugar em que a regra seja a exclusão. “Todo mundo conhece uma mãe de criança com deficiência que ficou peregrinando até achar um lugar para colocar o filho”, rebateu.

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