CUT-RS lança campanha pela redução da jornada de trabalho, com foco na valorização da vida

Fotos: Igor Sperotto
Fotos: Igor Sperotto
Com o slogan “A vida não tem hora extra”, a CUT do Rio Grande do Sul lançou, nesta terça-feira, 11, em Porto Alegre, campanha pela redução da jornada sem diminuição salarial e por mais qualidade de vida para a classe trabalhadora. As peças serão finalizadas nos próximos dias e encaminhadas para que as entidades filiadas possam utilizá-las em sua base.
A CUT-RS pretende, assim, mobilizar primeiramente os trabalhadores que representa e, a partir daí, construir um movimento mais amplo que acabe atingindo a sociedade como um todo. Como parte desse esforço, serão lançadas diferentes peças publicitárias, entre as quais estão vídeos, artes para as redes sociais, panfletos, camisetas e gibi, entre outras.
Conforme colocado durante a apresentação, o momento é mais do que propício para esse tipo de mobilização. Primeiramente, o contexto econômico é positivo, com crescimento do PIB, da massa salarial e das vagas de emprego — o que, no entanto, ainda não se reverteu plenamente em ganhos objetivos e subjetivos para a classe trabalhadora, motor desses avanços.
Outro aspecto que faz deste um momento especial para a luta é o fato de que, embora seja uma bandeira antiga do movimento sindical brasileiro, recentemente a redução da jornada ganhou maior impulso, com a apresentação de novas matérias sobre o tema no Congresso Nacional. É o caso, por exemplo, da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) encabeçada pela deputada Erika Hilton (PSol-SP) e de projeto de lei apresentado pela deputada Daiana Santos (PCdoB-RS).

foto: Igor Sperotto
O presidente da CUR-RS Amarildo Cenci lembrou que o Brasil ainda tem “jornadas absolutamente doentias, que se somam aos péssimos salários pagos”
foto: Igor Sperotto
“A jornada é justamente onde o sistema nos explora, tirando tempo da nossa vida para aumentar a rentabilidade dele”, salientou Amarildo Cenci, presidente da CUT-RS e diretor adjunto de Finanças do Sinpro-RS.
Ao Extra Classe, Cenci lembrou que o Brasil ainda tem “jornadas absolutamente doentias, que se somam aos péssimos salários pagos”, trazendo uma realidade desumana aos trabalhadores.
Por isso, completou, “queremos envolver a classe trabalhadora e a sociedade para conquistarmos uma mudança legislativa que combine um salário dignificante com uma jornada menor e que se invista no trabalhador como parte imprescindível para a construção do país”.
A vida é uma só
Ao apresentar o contexto da campanha, o publicitário Fernando Waschburger apontou que nem sempre a classe trabalhadora está atenta à importância da redução da jornada para a sua própria vida, devido a concepções que estão arraigadas no imaginário social. Entre elas a de que o trabalhador deve ter “gratidão pelo emprego”; a de que quanto mais se trabalha, mais a pessoa se desenvolve; a teologia da prosperidade, que encara a melhora de vida das pessoas como uma suposta recompensa divina e a de que quem questiona o excesso de trabalho seria preguiçoso.
Para ele, é preciso desconstruir visões como estas que acabam por prejudicar a busca pelo direito a mais tempo para viver. “Se não ganharmos a consciência da classe trabalhadora, não daremos nem o primeiro passo para conquistar a redução da jornada sem redução salarial”, salientou.
O cerne da questão, conforme a campanha coloca, é mostrar que o trabalho excessivo e os baixos salários comprometem o bem-estar das pessoas e que a existência humana vai muito além do trabalho. Por isso, o slogan “a vida não tem hora extra” vem acompanhada das bandeiras redução da jornada, melhores salários e mais qualidade de vida.
“O trabalhador e a trabalhadora precisam perceber que a vida é uma só e é preciso lutar por ela agora”, pontuou Waschburger. E acrescentou: “Esta não é uma campanha contra o trabalho, mas pela dignidade do trabalhador”.
Pauta histórica
Na avaliação de Lúcia Garcia, do Dieese, a redução da jornada de trabalho “continua sendo uma pauta histórica, legítima, justa e essencial, que se conecta ao desenvolvimento econômico tanto do Rio Grande do Sul quanto do Brasil e à saúde e bem-estar dos trabalhadores”.
Ela explicou que a redução beneficiaria mais de 100 milhões de trabalhadores ocupados no Brasil, dos quais cerca de 5 milhões apenas no Rio Grande do Sul. “Pelo menos a metade desse universo geral tem acima de 36 ou 40 horas semanais de jornada. Portanto, se nós reduzirmos o tempo de trabalho, nós vamos beneficiar diretamente um volume expressivo de trabalhadores no país”.
Mas, há outros ganhos. Sabe-se que a redução da jornada abriria a possibilidade de aumentar o número de vagas disponíveis. E, mais do que isso, “a sociedade em geral teria ainda um benefício indireto porque reduzindo a carga excessiva de trabalho, estaremos também diminuindo o número de trabalhadores adoecidos. Estamos, portanto, falando de uma sociedade mais equilibrada”, disse Lúcia.
Ela concluiu apontando: “precisamos entender que a vida coletiva é um grande combinado social. Então, na medida em que conseguimos acordar condições de vida mais justas e corretas de produção e de distribuição da riqueza, nós temos uma sociedade melhor de maneira geral”.