Entristece saber o quanto não se lê em nosso país, nos dias de hoje. Estamos presenciando o surgimento de gerações acostumadas à facilidade na assimilação das artes visuais, cinema e outras tantas manifestações. As novas tecnologias nos “roubam” sentidos e tempo, a mídia televisiva e seus programas contribuem para a nossa anestesia diária.
Tornou-se um desafio encontrar filmes legendados nos cinemas. Os filmes infantis ou infanto-juvenis nem se fala, somente dublados. Na TV a cabo é necessário alterar as configurações “padrão” para se ouvir as falas originais com ou sem legenda, ficamos quase que obrigados a dublagens de mesmas vozes e entonação.
E os livros? Quantos adultos têm o costume de carregá-los? Quantos têm seu momento diário de leitura. Difícil, muito difícil! O argumento é a correria no cotidiano, os bombardeios de demandas que não deixam espaço para a imaginação e as emoções que as obras literárias proporcionam.
Quem se lembra do livro lido que mudou a sua vida? Quando me fizeram essa pergunta fiquei semanas pensando angustiada. Houve muitos, cada um mexeu em uma de minhas
verdades colocando-as em “cheque”, mostrou-me uma lente por onde ainda não tinha arriscado olhar, valeram-me alegrias, tristezas, empoderamento, reflexões, ilusões e desilusões.
Mas houve um livro que passados 30 anos ainda me lembro pela sacudida de meu chão, por abrir um universo de novas janelas, possibilidades e olhares, falo de Maíra, do Darcy Ribeiro. Foi a primeira vez que li uma história contada por tantos diferentes pontos de vista, relatos da natureza e dos homens, várias histórias de uma mesma história. O resultado dessa trama e seus envolvimentos me fez mudar o jeito de pensar em relação às pessoas, à ocupação do homem, à conjuntura, ao convívio social, às minhas verdades e princípios.
Sempre a nossa história é a verdadeira história, simplesmente porque é nossa. Existindo muitas outras histórias, muito diferentes sobre o mesmo nosso universo, porque foram vividas e construídas por outros sujeitos. Pessoas que entrelaçaram suas vidas na nossa ou viveram compartilhando os mesmos espaços em tempos iguais construindo impressões e leituras diferentes, outras realidades nem mais fáceis ou difíceis, ricas ou pobres, simples ou complexas.
Conseguir se colocar no lugar do outro é fundamental e respeitoso, viajar nas outras histórias é valorizar e mensurar as nossas. Experimente um novo mundo hoje! Experimente um livro!
* professora nos colégios Americano, João Paulo I e diretora do Sinpro/RS.