Bourdieu e Bernstein: as desigualdades escolares
Desde Durkheim, a visão que se tinha da escola era de uma função de integração moral. A escola era responsável pela transmissão da cultura. A partir dos anos 60 veio a crise do papel da escola e o abandono do modelo otimista em favor de outro mais pessimista. Bourdieu é um dos responsáveis pela nova visão, pois onde se via oportunidade, meritocracia, justiça social, Bourdieu vê reprodução e legitimação das desigualdades sociais. A educação é a legitimação dos privilégios sociais.
Daí o conceito de representação cultural, que seriam as formas pelas quais as escolas, junto com outras instituições sociais, ajudam a perpetuar desigualdades econômicas e sociais ao longo de gerações. Para Bourdieu os alunos não são indivíduos abstratos que competem em condições relativamente igualitárias, atores sociais constituídos. Os alunos trazem uma bagagem social e cultural diferenciada. O grau de sucesso do aluno não está relacionado aos seus dons pessoais, à constituição biológica ou psicológica particular, mas na sua origem social, que os colocam mais ou menos favoráveis as exigências escolares.
A escola transforma as desigualdades sociais em desigualdades escolares, é a reprodutora das desigualdades sociais, cobra dos alunos gostos, crenças, posturas, valores dos grupos dominantes, que são representados como cultura universal. Além de reproduzir essas desigualdades, a escola também as legitimam, para alguns a cultura escolar é idêntica à cultura da família enquanto que para outros é a aculturação.
As crianças da classe trabalhadora sofrem com o baque cultural ao entrarem na escola, porque ela se apresenta como um ambiente estrangeiro em que os sucessos e os fracassos dependem de orientações precoces que são produtos do meio familiar. A cultura da elite está próxima à cultura escolar, para uns a aprendizagem da cultura da elite é uma conquista, para outros, uma herança.
Basil Bernstein, sociólogo britânico na década de 70, defendeu a tese que “crianças de origens diversas desenvolvem códigos diferentes, ou tipos de fala, na fase inicial da vida, as quais afetam suas experiências posteriores na escola” (GIDDENS, 2005, p. 412). Fazendo uma distinção das crianças, diz que a criança da classe trabalhadora possui um “código restrito”, e a da classe média possui um “código elaborado”.
As crianças pertencentes à classe trabalhadora possuem em seu modo de falar um código restrito, uma linguagem que possui muitas suposições não declaradas, que os falantes esperam que os outros entendam; “um código restrito é uma espécie de discurso vinculado ao seu próprio cenário cultural”. A linguagem da classe trabalhadora está voltada para a família, para o bairro, para as experiências práticas, não possui vínculo acadêmico, não tem como finalidade a discussão de ideias.
A partir do código restrito a criança passa a ter respostas limitadas em casa, sendo bem menos informada, consequentemente menos curiosa, ocasionando dificuldades para responder a linguagem acadêmica impassível e abstrata. O que o professor diz passa ser incompreensível para a criança, linguagem que ela não está acostumada, e passa a interpretar o professor dentro da sua realidade, o que pode tornar incompreensível.
Já a criança da classe média possui um código elaborado, um estilo de discurso em que os significados das palavras podem ser individualizados para satisfazer as demandas de situações específicas, menos vinculados a contexto particular; as crianças conseguem fazer generalizações, expressar ideias abstratas com mais facilidade, possuindo mais facilidade com a educação acadêmica.
Dessa forma, a ideia de Bernstein não é de inferiorizar, mas, entender que a fala das classes trabalhadoras não combina com a cultura acadêmica da escola. Mas, que a escola, através do currículo oculto de Ivan Illich, ensina a criança que o seu papel na vida é “conhecer o seu lugar e ficar quietinho nele”.