Em seu mais recente livro, Adeus às andorinhas (Editora AGE, 190 páginas R$ 32,00), o poeta, ensaísta e professor Armindo Trevisan divide com seus leitores lições de poesia. Este é o primeiro livro de poemas nestes últimos quatro anos. Ele diz que passou por um período em que achou que não iria mais escrever. “Mas, de repente, como a poesia depende fundamentalmente de um gatilho emocional, comecei a me perguntar: o que estamos fazendo neste mundo”?, questiona. A morte da avó de uma amiga da neta dele, confidencia, foi o episódio que desencadeou o estado emocional para voltar a escrever.
Adeus às andorinhas também representa uma renovação na própria poética de Armindo Trevisan. São poemas que alternam lirismo, humor, cotidiano, e uma transcendência de quem tem fé. “É uma coisa séria. Não é banal nem literariamente defeituosa”, vai descrevendo o ex-patrono da Feira do Livro de Porto Alegre. Ele diz que esse é um livro que exige “um outro tipo de reflexão”, pois trata das perdas. Da memória, de pessoas queridas. “E é também um livro sobre o amor”.
Professor aposentado de História da Arte e Estética, no Instituto de Artes, da Ufrgs, o autor fala sobre o que tem observado no universo dos livros e dos leitores, na tevê, na internet. E confessa que está preocupado com o “analfabetismo cultural” decorrente do “analfabetismo funcional” (como são enquadradas as pessoas que lêem sem compreender o que está escrito). Armindo atribui essa disfunção, no plano da cultura em geral, ao excesso de informação proporcionado especialmente pela Internet.
Ao mesmo tempo em que se tem acesso irrestrito a todo tipo de informação, “há uma diminuição de leitores qualificados. O poeta se sente numa diáspora, numa espécie de exílio”, desabafa. Outra contradição que o autor percebe é a falta de incentivo à leitura. “Hoje em dia, quem é que lê um poema com clareza, com dicção? Uma frase é uma entidade viva…”, repara.
COTIDIANO – Neste seu novo trabalho, desde as epígrafes – que vão de William Shakespeare a Manuel Bandeira –, percebe-se uma aproximação com o cotidiano, onde o autor “explora o caminho difícil da linguagem coloquial”, conforme escreve Ivo Barroso na apresentação. É o caso de Cesta Básica, um das partes do livro. Ainda há um espaço para “os amantes e loucos têm mentes tão febris” (Shakespeare), em Amores, Amores, que aparece como “uma profunda crítica às relações amorosas atuais”. Isso sem deixar de lado o humor. “A diferença entre o humor e ironia é que esta adota um ar superior e crítico. Tu julgas o outro. E, no humor, não. Tu te incluis dentro, quer dizer, estamos todos nessa, o que vamos fazer”?, faz questão de explicar.
É com o recurso do humor que a poesia em Adeus às andorinhas toma o leitor pela mão e o leva ao encontro de grandes questões. A celebração do amor, da arte, do vinho ou dos cafés, aos amigos e às perdas, como no caso de dois belos poemas do livro: Requiem por meu pai e Despedida. O próximo livro de Armindo Trevisan, Vamos Aprender Poesia?, será lançado no início de setembro, às vésperas de seu 75° aniversário e no mês em que o autor completa quatro décadas de uma carreira literária que se afirmou no terreno do ensaio e da poesia.