Extra Classe – A eleição é considerada histórica na Unicruz por ter sido realizada após dois anos e meio de intervenção judicial e por ser o primeiro processo democrático de eleição na instituição, com a participação dos professores e dos alunos. O que representa para a instituição essa nova realidade e o que deve mudar (para a Unicruz e para quem assume), com a posse da reitoria eleita?
Elisabeth Dorneles – O momento que vivemos, oportunizado pela eleição onde o voto universaliza-se para toda comunidade acadêmica, foi e está sendo muito fértil para que se instaure uma nova cultura nas relações internas e externas na Universidade. Todo processo tem sido orientado pelas decisões consensuadas o que resulta no engajamento da maioria. Até o respeito que foi se construindo em relação às divergências na campanha eleitoral decorre da convivência fundamentada na observância do regramento. A vitória da chapa Acreditar simboliza o estágio da maturidade institucional. Isso me deixa muito orgulhosa, pois o que estamos fazendo é fruto de um projeto que vem de longa data. Cheguei até aqui sem abrir mão dos meus princípios éticos e de minha concepção de universidade. Nós apresentamos uma proposta de gestão onde nos propusemos a dar continuidade aos ajustes necessários para que a instituição seja viável ainda que com 3.500 a 4.000 alunos. Assim, em relação às mudanças, entendemos que elas serão muito mais de ordem da nova estrutura imposta pela reforma estatutária do que pela mudança de orientação em relação ao que já foi feito nos últimos dois anos.
EC – Haverá alguma mudança de projeto de gestão em relação à administração do período de intervenção? Quais?
Elisabeth – O que muda é por força estatutária. Embora tenhamos agora a divisão da gestão com o Conselho Diretor da Fundação, onde se dão decisões financeiras e a administração da dívida, atuaremos conjuntamente no sentido de continuarmos tendo o pagamento de salários como prioridade. A gestão ganha também outros contornos à medida que temos a reitora eleita, legitimada por quase 70% dos votos, que exercerá seu papel de articuladora política da Universidade. Sabemos que os problemas são muitos e que a solução para os mesmos depende muito da nossa capacidade de fazermos ajustes internos, mas também teremos que intensificar articulações com instituições externas e representantes políticos da sociedade. A gestão estará assim muito atenta ao seu público interno, mas sintonizada sempre com a comunidade externa.
EC – A universidade vem atrasando salários e descumprindo o acordo com os professores. Qual a perspectiva de pagamento em dia dos salários?
Elisabeth – A questão dos atrasos salariais ainda vai nos perseguir por algum tempo, uma vez que temos assumido o pagamento de parcelamentos de dívidas fundamental para a continuidade da Instituição. Saliente-se bem: dívidas geradas por gestões do passado. O pagamento dos salários em dia está relacionado aos ajustes na própria política de oferta de cursos cuja demanda hoje é muito baixa. Desse modo não temos como precisar o tempo quando não haverá atrasos salariais.
EC – Quais os mecanismos existentes na universidade para fiscalizar eventuais procedimentos ou operações ilícitas ou favorecimentos, a exemplo do que ocorreu anteriormente?
Elisabeth – Os mecanismos de fiscalização estão mais no âmbito da Fundação, que tem hoje o conselho fiscal. Fora isso entendemos que a vigilância constante de toda comunidade acadêmica será um dos mecanismos para inibir atos administrativos impróprios. Nossa visão é de que a gestão compartilhada entre Fundação e Universidade, onde os conselhos assumem seu papel com responsabilidade, e a observância dos princípios da ética na condução do bem comunitário é fundamental. Outro mecanismo importante é o da vigilância constante para que seja banida de uma vez por todas da Unicruz a cultura da pessoalidade. O que tem que prevalecer é a competência e o mérito acadêmico. Nosso propósito é de criar todas as condições para que assim o seja.
EC – Como se dará a relação entre a Reitoria e a Fundação Unicruz com base nos novos estatutos?
Elisabeth – As relações entre a Reitoria e a Fundação estão prenunciadas para serem muito produtivas. Temos perfeita sintonia com o Presidente da Fundação, não só a Reitora, mas todos os Vices-Reitores. Neste momento estamos construindo caminhos, além dos estabelecidos pelos dois estatutos, para que haja fluxo perfeito entre mantenedora e mantida. Os estatutos colocam a Reitoria no Conselho Curador assim como esse conselho está representado no CONSUN. Claro que isso não é suficiente, mas entendemos que já se estabelece uma relação de compartilhamento das decisões e de responsabilidades.