A Universidade da Região da Campanha (Urcamp) instaurou uma Comissão de Sindicância para apurar o suposto desvio de R$ 83 mil do caixa do campus São Gabriel. A quantia aparece lançada na contabilidade do ano de 2005, mas não consta do saldo físico da instituição, conforme apuraram peritos contratados pela reitoria. Nove pessoas foram ouvidas até o final de abril. O pró-Reitor de Administração, João Paulo Lunelli, afirmou que após a confirmação de suspeitas da reitoria, foram contratados peritos e, uma vez constatada a diferença de caixa, a instituição nomeou uma Comissão de Sindicância. Segundo Lunelli, a Urcamp não irá se manifestar sobre a investigação antes da apresentação do relatório final da sindicância, presidida pelo advogado Erly Borba Inghes.
Depoimento de uma ex-funcionária, no dia 24 de abril, revelou a ausência de prestação de contas e empréstimos de dirigentes e seus familiares à instituição com remuneração a juros mensais de 2% e 4%. A ex-funcionária da tesouraria do campus São Gabriel, Clarite Kieling, que trabalhou na instituição de 1977 a julho de 2006, disse que se apresentou espontaneamente para depor depois de ouvir rumores de que a reitoria estaria acusando ex-funcionários pelo suposto desvio.
Ela informou que, em 2005, houve um empréstimo à Urcamp de R$ 80 mil em duas parcelas, de R$ 60 mil e R$ 20 mil, entregues à instituição em nome de Castegnaro (supostamente o superintendente-adminstrativo do campus São Gabriel, Antonio Castegnaro) para saldar dívidas da Fundação (refere-se à mantenedora da Urcamp, Fundação Á tila Taborda). Esse empréstimo, segundo a depoente, teria sido recolhido junto a “diversas pessoas da comunidade”. “…esse dinheiro rendia ao seu credor 2% ao mês, que a tesouraria mensalmente pagava mediante recibo”, declarou.
Em outro trecho do depoimento ao qual o jornal Extra Classe teve acesso, Clarite afirma que “… o filho do pró-reitor Rudinei, Rudy Macedo de Oliveria, e a esposa e funcionária (da contabilidade) da Fundação, Cláudia Maraschin de Oliveira, forneceram dinheiro à Fundação Átila Taborda, campus São Gabriel, rendendo juros de 4% ao mês”. Ela não soube informar a quantia deste empréstimo nem se os valores estão registrados na contabilidade central, mas afirma que toda a operação seria do conhecimento do contador da instituição. Questionado sobre o conteúdo do depoimento, o próreitor João Paulo Lunelli argumentou que a testemunha estaria envolvida no processo. A informação causa estranheza não apenas pelo fato de Clarite Kieling ter se apresentado voluntariamente para depor, quanto pelo convite que ela recebeu do reitor da Urcamp, Arno Vaz Cunha, para uma conversa informal. “Quero conversar com ela”, confirmou Arno ao Extra Classe.
Lunelli explicou que todas as providências foram tomadas em relação ao suposto desvio de recursos. Ele reiterou que prefere aguardar o relatório da sindicância para se manifestar. Também não quis comentar sobre outros episódios de fraude contábil e desvio de recursos já investigados na Urcamp, conforme ampla cobertura do jornal Extra Classe
(www.sinprors.org.br/extraclasse/mai06/educacao.asp).
Para o diretor do Sinpro/RS, Marcos Fuhr, o episódio confirma suspeitas que vinham sendo manifestadas por professores do campus de São Gabriel e alertadas pelo Sindicato nas reuniões com a reitoria. “Ao mesmo tempo em que louva a sindicância, o Sinpro/RS lamenta a demora da reitoria na tomada de providências. Percebemos nesse depoimento, entre outras coisas, a confirmação da prática de favorecimentos e privilégios sempre condenados pelo Sindicato”.