Igor Sperotto
A utilização de câmeras de vigilância nas salas de aula foi tema de painel promovido pelo Sinpro/RS no dia 8 de junho. O evento contou com especialistas em educação e psicólogos, que se manifestaram após a apresentação de depoimentos sobre o assunto. Em levantamento realizado este ano pelo Sindicato, foram identificadas mais de cem escolas no estado que já utilizam as câmeras.
“O medo de estar sendo vigiado impede que se construam relações verdadeiras”, disse Tânia Beatriz Iwaszko Marques, doutora em Educação pela Ufrgs. Segundo ela, se os pais escolhem uma escola devem passar segurança aos seus filhos de que eles estão bem cuidados, do contrário, estão passando a mensagem de que eles não devem se adaptar àquele lugar.
O psicanalista Eduardo Ely Mendes Ribeiro, da Associação Psicanalítica de Porto Alegre (Appoa), afirmou que tanto a agressividade quanto a generosidade são parte do ser humano e não há como evitar conflitos, sob pena de impedir o desenvolvimento humano. Helena Cortes, doutora em Educação, lembrou que aprender a lidar com as frustrações é parte fundamental do crescimento. “A invasão dos pais no ambiente escolar é tão equivocada quanto a omissão. O principal é o projeto pedagógico e não a vigilância. Estamos deixando as questões de segurança se sobrepor a outras que são de base”, destacou.
Para Cecília Farias, diretora do Sinpro/RS, a câmera em sala de aula representa o fracasso do projeto pedagógico da escola enquanto instituição responsável pela formação dos alunos. “As escolas que utilizam esse expediente são aquelas onde a gestão tem um viés autoritário”, afirmou a dirigente que mediou o debate. Como encaminhamento do painel, o Sinpro/RS solicitou a manifestação pública do Conselho Estadual e Municipal de Educação, Assembleia Legislativa do RS e Sinepe/RS.
LEGISLATIVO − O monitoramento das salas de aula foi tema de debates públicos na Assembleia Legislativa do RS e na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, ambas propostas pelo Sindicato. O diretor do Sinpro/RS, Celso Stefanoski, ressaltou que as câmeras interferem na autonomia do professor e defendeu que “a relação pedagógica deve ser mediada na pedagogia da confiança entre escola, professores, alunos e pais”.
A deputada Ana Affonso, presidente da Comissão de Educação, ressaltou o direito à privacidade do processo de ensino e aprendizagem e a autonomia do educador. “Estamos confiando nossos filhos a profissionais e não a amadores, portanto, não se justifica a vigilância como método de avaliação”, destacou. A parlamentar sugeriu que o órgão técnico apresente uma posição sobre o tema.
Na Comissão de Educação, Cultura, Esporte e Juventude (Cece), da Câmara Municipal de Porto Alegre, a vereadora Sofia Cavedon se comprometeu em elaborar um documento que expresse publicamente a posição da Comissão contrária ao controle do trabalho dos professores em sala de aula.