Seja como for, não estamos vivendo a História sensata que os iluministas imaginaram para nós no século 18, e que pensávamos que era a que tinha vencido. Não era.
Se a História é sempre a versão dos vencedores, estudando-a se sabe quem foram os vencedores, certo? Nem sempre. Dúvidas sobre quem realmente “ganhou” e tem o direito de ditar a História persistem não só no Brasil, onde a História nos diz que estar no governo e estar no poder nem sempre são a mesma coisa, mas em todo o mundo, onde brigas que já se julgava resolvidas há séculos continuam. E em muitos casos os presumíveis vencidos é que estão por cima, dizendo como os outros devem pensar e lembrar.
Não são só os índices de leitura de horóscopos atestando o fracasso do Copérnico em convencer a humanidade de que a Terra não é o centro do Universo. A ciência em geral tem tido um péssimo desempenho na tarefa de vencer a crendice e o obscurantismo, embora a versão “oficial” da História humana desde, pelo menos, o século 18 tenha sido a de conquistas irreversíveis da razão secularista, com alguns soluços de irracionalidade.
A teoria da evolução de Darwin é outra que não convenceu muita gente. Numa enquete recente, mais de 70% dos americanos pesquisados responderam que preferem a explicação bíblica da origem da sua espécie à de Darwin. Em vários Estados americanos, há leis que obrigam o ensino da versão bíblica com a da evolução, que deve ser identificada como apenas uma especulação teórica em contraste com a palavra de Deus. A influência do fundamentalismo religioso cresce na política e nos costumes dos Estados Unidos, reforçada com a eleição do Bush, que diz se aconselhar sempre com o Todo-Poderoso, e não está se referindo a Cheney. E, claro, cresce a radicalização do fundamentalismo islâmico, com influência direta da palavra do deus deles no estado de nervos de todo o mundo. Alguém já descreveu o que está acontecendo na Terra como a crise terminal dos monoteísmos e do combustível fóssil. Mas enquanto se desenvolvem outras fontes de energia para substituir o combustível fóssil e finalmente começa a haver uma reação da razão ao auto-envenenamento do planeta, a razão não parece ter avançado muito contra o obscurantismo religioso. Seja como for, não estamos vivendo a História sensata que os iluministas imaginaram para nós no século 18, e que pensávamos que era a que tinha vencido. Não era.
Uma outra história parecia estar se desenhando nos loucos anos 20 do século passado, quando várias liberdades novas começavam a ser experimentadas. Mas a “era do jazz” acabou sendo a do crescimento do fascismo e de outras formas liberticidas. Nos fabulosos anos 60, as drogas, o sexo e a comunhão dos jovens pela paz e contra tudo que era velho também anunciavam uma outra história, mas a que ficou, a que ganhou, foi a do conservadorismo de Nixon, de Margaret Thatcher, dos generais daqui etc. Sua alternativa, em vez de “História”, só mereceu como rótulo a frase mais triste de qualquer língua: o que poderia ter sido.