Em março, o Sinpro/RS realizou aulas inaugurais em duas cidades. Em Santo Ângelo, o evento ocorreu no dia 4 de março, às 19h30min, no Salão Azul do Prédio 13 – Campus Uri, com a palestra A inserção da atividade criativa na Educação, apresentada por Moacyr Scliar (www.scliar.org/moacyr). Em Porto Alegre, o evento aconteceu no dia 7 de março, às 19h, no Teatro do Prédio 40 da PUCRS, com Marcos Bagno (www.marcosbagno.com.br), um dos lingüistas mais respeitados e polêmicos do país. Ele falou sobre Língua e sociedade – Encontros e desencontros (leia entrevista na pág. 4 desta edição).
Confira também como foram as aulas inaugurais acessando:
www.sinprors.org.br/aulainaugural2008
Scliar: “Educar é criar”
O escritor e médico Moacyr Scliar, 70 anos, natural de Porto Alegre, é membro da Academia Brasileira de Letras e Doutor em Ciências pela Escola Nacional de Saúde Pública. Articulista dos jornais Folha de São Paulo, Correio Braziliense e Zero Hora, Scliar tem mais de 70 livros editados, incluindo o autobiográfico O Texto ou a Vida (Ed. Bertrand Brasil, 2007). Grande parte de sua obra literária, composta de contos, crônicas, romances e ficção infanto-juvenil, já foi traduzida para 15 idiomas, adaptada para a televisão e para o cinema. Seus romances mais conhecidos são O Exército de um Homem Só (1973), O Centauro no Jardim (1980), A Majestade do Xingu (1997), e Os Vendilhões do Templo (2006). Também são de 2007 os livros Do Jeito que nós vivemos (Ed. Leitura) e Enigmas da culpa (Ed. Objetiva). Uma novela infanto-juvenil sobre um garoto que queria ser radialista é um dos lançamentos do escritor para 2008. Na entrevista a seguir, ele fala sobre o tema da sua palestra na aula inaugural do Sinpro/RS, em Santo Ângelo.
Extra Classe – Como se insere a atividade criativa na Educação? É um conceito para ser transformado em práticas pedagógicas ou um princípio que deve ser buscado na concepção do projeto pedagógico?
Moacyr Scliar – Educação deve ser criativa, porque a vida é criativa. A criatividade nos possibilita descobrir o mundo à nossa maneira, e sobretudo, possibilita que descubramos a nós mesmos. A idéia de que só cientistas ou artistas são pessoas criativas é uma idéia equivocada e até elitista. Todos nós temos um potencial criador. Criatividade e educação formam um binômio indissolúvel. Educar é criar; e educar é despertar o potencial criativo do educando. Este conceito deve estar embutido na gênese do projeto pedagógico e deve se traduzir em práticas pedagógicas.
EC – De que forma os professores podem transformar o conteúdo das aulas em uma atividade fascinante e cativante para os alunos? Esse esforço não deveria partir também da instituição?
Scliar – Para começar, acho que a prática educativa deve partir, sim, da instituição, de sua própria filosofia de ação. Quanto aos professores, eles também devem ser criativos, devem dar asas à imaginação. Literatura, por exemplo, pode se restringir à interpretação dos textos, com perguntas do tipo “O que o autor quis dizer com este conto”? ou pode resultar numa interação dos jovens com os textos, através de dramatizações, de adaptações.
EC – Como o senhor vê as relações e o ambiente de trabalho dos educadores, especialmente no ensino privado, em que as questões de mercado muitas vezes são fatores de pressão por parte da escola, dos pais e dos alunos?
Scliar – O ensino é uma atividade que exige muito das pessoas, inclusive do ponto de vista emocional. O professor que não tem no seu trabalho condições mínimas, inclusive em termos de salário, dificilmente poderá enfrentar sua tarefa.
EC – O senhor lançou três livros em 2007, entre os quais O Texto ou a Vida que, em certa medida, é autobiográfico. Qual parte da sua atividade rendeu mais literatura, a de médico ou de escritor?
Scliar – Seguramente a de escritor… Mas minha formação de médico acaba aparecendo, por exemplo, num dos livros que publiquei em 2007, Enigmas da culpa (Ed.Objetiva) em que minha experiência com pacientes está de certa forma presente.
EC – Que livros o senhor lançará em 2008?
Scliar – Ainda não sei, mas é certo que a Ed. Rocco (Rio) publicará A Voz do Poste, uma novela dedicada ao público juvenil. Conta a história de um menino que queria ser radialista e que, numa cidade do interior gaúcho, cria um serviço de alto-falantes, “A Voz do Poste”. A partir daí ocorrem muitas aventuras que não vou contar para não estragar a surpresa…