OPINIÃO

A “floresta” de eucalipto

Prof. Dr. Carlos Eduardo da Cunha Pinent* / Publicado em 15 de novembro de 2007

A bióloga, pesquisadora e mestranda Cris Lisiê Kuryke publicou em Palavra do Professor, Extra Classe de outubro de 2007, artigo intitulado Sim, sou a favor do cultivo do eucalipto. Justificou sua tomada de posição clara e categórica com argumentos, aos quais gostaria de oferecer contraposição, na verdade, a dois deles. O primeiro é quando afirma que a cultura do eucalipto é “muito criticada por pessoas muitas vezes sem nenhum conhecimento técnico-científico… ou simplesmente malintencionadas”… Há pessoas conhecedoras, com experiência e bem-intencionadas com posições contrárias, vou me valer de duas, mas poderia citar muitas outras, doutores em Biologia. O outro é quando propõe que um necessário reflorestamento pode ser feito com a monocultura do eucalipto, “desta maneira poderemos proteger o que ainda nos resta de florestas nativas”. Proteger florestas nativas criando florestas exóticas a partir de uma monocultura?

Segundo Aziz Ab‘Saber (geomorfologista, professor emérito da USP, Extra Classe, nº 112, abril, 2007), uma floresta se caracteriza pela biodiversidade: “Sou contra a monocultura, não sou contra os eucaliptos… Um plantio de eucalipto não pode ser considerado uma floresta, pois floresta tem um sentido de biodiversidade… Está havendo uma pressão muito grande por parte das empresas de celulose para entrar em certas áreas esquecendo das questões sociais, econômicas e culturais”, diz. Flávio Tavares (jornalista e escritor, ZH, 06/05/2007, p. 12) escreveu sobre a Borregaard, hoje Riocel/Aracruz: “O Rio Guaíba nunca mais foi o mesmo depois da Borregaard. Tampouco o ar, que perde o odor ácido…, mas continua a poluir. A indústria sueca de celulose que, no final dos anos 1970, ia dinamizar o estado e tirá-lo da estagnação, poluiu tão ostensivamente que… quem ousa, hoje, banhar-se e nadar nas praias do Guaíba, como antes”? Complemente-se que, após mais de 30 anos, Guaíba continua um município pobre.

É importante ter em conta que em ambas as posições, a favor e contra, há pessoas com conhecimento de causa e bem-intencionadas. É preciso tomar posição, sim, mas com respeito e consideração à posição oposta. Caso contrário, poder-se-ia replicar que as indústrias interessadas, que prometem emprego e progresso, são mal-intencionadas, visando, sobretudo, a altos lucros, indiferentes a danos irreversíveis que possam causar à região.

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