Para um país que insiste em manter sua moeda nacional valorizada perante as demais, especialmente no caso de economias não-desenvolvidas como a brasileira, o risco do comprometimento parcial da estrutura produtiva tende a aumentar, trazendo, por conseqüência, malefícios não-desprezíveis ao nível e qualidade das ocupações. Isso porque a moeda nacional forte implica dificuldades adicionais para a exportação e facilidades para a importação.
Assim, parte das empresas que exportam produtos e serviços tende a desacelerar as atividades, contendo o nível de emprego e obstaculizando a elevação do rendimento dos ocupados. No caso do crescimento das importações, o impacto restritivo sobre o emprego é direto, sobretudo para as empresas que substituem produtos nacionais por estrangeiros, inclusive componentes produtivos.
Resultado disso vem sendo a ampliação das importações frente à exportação. Entre fevereiro de 2006 e março de 2007, quando a taxa de cambio real sofreu uma valorização estimada em 2,7%, o comportamento do setor industrial brasileiro apresentou distinto comportamento. Para o crescimento de 3% na produção industrial e de somente 1% no nível de emprego, houve a elevação de 26,9% nas importações e somente 14,3% nas exportações. Do conjunto de setores industriais, seis registraram regressão no nível de emprego, como no caso da indústria de aparelhos eletro-eletrônicos (0,5%), borracha e plástico (1,3%), papel e gráfica (2,6%), madeira e mobiliário (5,8%), calçados e couro (8,2%) e vestuário (5,9%). Em todos esses seis setores, as importações cresceram acima das exportações.
Em função disso, esse conjunto de seis setores foi responsável pela destruição de 152.439 empregos industriais, embora a indústria como um todo tenha apresentado saldo líquido positivo de 99.938 empregos gerados entre fevereiro de 2006 e fevereiro de 2007. Isso porque os demais setores industriais com variação positiva na ocupação terminaram gerando 252.377 empregos.
Se for levada em consideração a modificação recente na elasticidade produto-emprego, possivelmente por decorrência do efeito câmbio valorizado, pode-se chegar ao conjunto do emprego industrial que vem deixando de ser gerado devido à maior penetração da importação no consumo nacional e à ampliação de componentes estrangeiros na composição dos produtos exportados. Em outras palavras, a redução do grau de nacionalização da produção, mesmo na exportação, termina por reduzir o grau de geração de emprego a cada elevação da produção total.
Por conta disso, a mesma expansão de 3% na produção do setor industrial verificada entre fevereiro de 2006 e fevereiro de 2007, que foi responsável pela geração de 99,9 mil novos empregos (1% de aumento), permitiria elevar o nível de empregos industriais em 1,6%, o que equivale a 159,8 mil novos empregos. Ou seja, quase 60 mil empregos perdidos somente no período de 12 meses no setor industrial (média de 5 mil por mês) somente por interferência da taxa de câmbio desfavorável no Brasil.
Aglomeração Urbana do Nordeste do Estado
(Aune): uma região em expansão
José Antônio Alonso*
A Aune, ou a região da “Grande Caxias” como muitos a chamam, é uma das áreas mais prósperas do Rio Grande do Sul. Trata-se de uma formação econômica regional cuja origem foi a agropecuária desenvolvida em pequenas e médias propriedades. Portanto, a partir de uma estrutura da propriedade da terra mais democrática do que em outras áreas do Estado. O resultado, no agregado, foi uma formação econômica mais sólida e consistente ao longo da história. Simultaneamente à agropecuária colonial surgiu o parque industrial predominantemente vinculado a essa base agrícola, e intensificou-se a formação da rede urbana da região que foi muito importante na sustentabilidade dessa economia.
Observando os ciclos de expansão da economia brasileira e gaúcha, no século XX, e comparando com o desempenho da “Grande Caxias” nesse mesmo período, verificamos que a economia da região teve inserção favorável em todos eles. Para tanto, teve que reestruturar-se, adequando a sua agropecuária, o seu parque industrial e suas cidades às exigências que os novos tempos impõem. Nesse sentido, novos ramos industriais emergiram no parque manufatureiro regional assumindo o papel de “locomotivas” da economia regional. Estamos nos referindo aos segmentos da metal-mecância (material de transporte, mecânica e metalúrgica) e aos móveis para escritórios. Destaca-se igualmente a ampla reestruturação ocorrida em grande parte da cadeia das bebidas (vitivinicultura). O mesmo movimento ocorreu na agropecuária, em que a inovação permitiu o aparecimento de novos produtos e a diferenciação de produtos tradicionais na região.
Esse processo de desenvolvimento levou a região a gerar 5,68% da produção agropecuária, 12,65% do produto industrial e 7,19% da oferta de serviços do RS em 2004, com apenas, aproximadamente 6% da população total, utilizando somente 1,32% do total do território estadual. A taxa de crescimento demográfico regional alcançou o dobro (2,43% aa) da taxa estadual (1,21% aa), no período 1991/2000. Observa-se que grande parte da composição dessa taxa é representada por migrações de outras partes do Estado que buscam na “Grande Caxias” oportunidades de emprego, oferta de serviços, qualidade de vida, enfim, maiores possibilidades de ascensão social. A contrapartida social desses resultados econômicos está refletida no Indicador de Desenvolvimento Socioeconômi-co (Idese) que aponta 4 municípios da região entre os 20 primeiros do ranking estadual, inclusive o primeiro lugar obtido pelo município de Caxias do Sul.