Este jardim dissemelhante,
de folhagem e flores desiguais,
dissonantes, complementares e
consoantes da mesma música mestiça da vida
me comove!
Ah, me ensina, mato,
a genealogia do mundo,
com seus tambores particulares,
Ó mato, mato,
no fundo eu me gasto em traduzir-te,
ó colosso!
Ó formidável xaxim que subsidia
e abriga as raízes de minha alma,
canteira-me, eu vos peço,
orna minhas margens,
enfeita de árvores as estradas dos meus limites,
sombreia meus acostamentos.
Este jardim povoado de mãos e experiências
me conduz gentilmente
à intimidade com a terra;
e eu aprendiz.
Ele me expõe às estrelas
e é o hall do meu quarto,
a varanda de minha vida.
Aproveito nele muito o céu que tenho.
Perambulo livre e nua pelos
tapetes vivos de sua privacidade.
Toda nudez e algumas havaianas nos pés
garantem o secreto incólume
da solitária paisagem. A reservada cena.
Te amo meu jardim,
Verdade de misteriosas metades e
metáfora inteira plantadas nos melindres do gosto.
Aula de muita responsabilidade pra mim.
Mas mesmo assim vos digo:
Se espalha com vontade,
que o jardineiro sou eu
sou eu, meu amor!
Sou eu nua tendo idéias de mudas e podas.
Se espalha com serenidade e sem reservas,
sem economia de seus espalhares
que o jardineiro sou eu!
Amanhecerá, e em lugar das estrelas
numa mudança impecável de cenários,
estará o azul de fundo
e o rei sol no quesito brilho.
O jardim amanhecerá mutantemente invisível e diverso.
Vai, aproveita a liberdade da caneta, Jardim.
O jardim, o meu jardim de verso.
O jardim escuta e eu não desconverso.
Jardim de verão que no calor me dourou,
jardim de inverno que no frio me aqueceu,
me escuta, meu amor,
seu jardineiro sou eu!