Após quatro meses de gestão, o “novo jeito de governar” proposto pela governadora Yeda Crusius (PSDB) não cessa de acumular crises e episódios inéditos na história da política gaúcha. O ápice deste processo de crises sucessivas ocorreu no dia 26 de abril, quando Yeda Crusius, em nota oficial do governo do Estado, rompeu com o vice-governador Paulo Feijó (DEM), classificando-o como um “desequilibrado”. O motivo da nota foi o comparecimento de Feijó a uma audiência pública na Comissão de Serviços Públicos da Assembléia Legislativa, onde apresentou uma série de denúncias contra a gestão do atual presidente do Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul), Fernando Lemos. O depoimento de Feijó detonou as poucas pontes que ainda existiam entre o vice e o Palácio Piratini. Ao saber da decisão da governadora de romper com ele, Paulo Feijó comentou que não se tratava de nenhuma novidade, uma vez que Yeda teria pedido que ele renunciasse ao final do primeiro turno nas eleições estaduais de 2006.
Como Feijó virou vide de Yeda?
A falta de afinidade entre os dois vem, de fato, desde a campanha. Paulo Feijó foi escondido do programa eleitoral de Yeda. Após as eleições, o empresário contou que havia sido censurado pelos marqueteiros da candidata tucana para não falar em privatização e em outros temas que não interessavam ao discurso eleitoral de Yeda. Diante dessa total falta de afinidade (para dizer o mínimo), como explicar, então, a indicação de Feijó para ser vice de Yeda? A explicação passa pela conquista de minutos preciosos de propaganda eleitoral. A indicação de Feijó foi resultado de uma costura entre PSDB, PFL (hoje DEM) e PPS, que acomodou ambições e contradições. Estas últimas cobram seu preço agora. Nunca, na recente história republicana do Rio Grande do Sul, o governador e o vice, de uma mesma frente política, romperam publicamente sob um coro de xingamentos e acusações que ingressam no terreno da saúde mental. Yeda e seus aliados mais próximos romperam com Feijó, taxando-o de desequilibrado e psicopata.
“Ninguém morrerá de tédio neste governo”
Durante os episódios que marcaram a crise da segurança pública, que resultaram na demissão do secretário, Yeda Crusius disse que, ao menos, ninguém morreria de tédio em seu governo. De fato, as crises e conflitos internos iniciaram ainda em dezembro quando, contrariando o discurso feito na campanha eleitoral, a governadora eleita passou a defender o aumento de impostos, entrando em rota de colisão com o vice Paulo Feijó e com deputados e lideranças de sua própria base política. A partir do dia 1° de janeiro, quando o novo Governo assumiu oficialmente, praticamente não houve semana em que não surgisse um novo problema. Vamos lembrar alguns aqui:
CRISE NA EDUCAÇÃO – O ano letivo com cerca de metade dos alunos da rede pública estadual sem transporte escolar, por causa da suspensão do repasse de recursos do Estado para os municípios. As escolas também iniciaram o ano letivo com falta de professores, de funcionários, de giz e até de papel higiênico. Um exemplo concreto dessa penúria: pais de alunos da Escola Estadual de Ensino Médio São Rafael, em Flores da Cunha, passaram a pagar o salário de professores particulares para que os estudantes pudessem ter aulas.
CRISE NA ÁREA AMBIENTAL – Yeda nomeou Renato Breunig e Jackson Müller para a presidência e a direção técnica da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) e os demitiu antes de completarem três meses nos cargos. Os dois se envolveram em um bate-boca sobre as relações que ambos mantinham com a Utresa, empresa que causou um dos maiores crimes ambientais dos últimos tempos no Estado (a mortandade de toneladas de peixes no Rio dos Sinos).
CRISE NA SEGURANÇA PÚBLICA – O secretário Enio Bacci, que era apontado como gestor da área de melhor desempenho no Governo, foi demitido após se envolver em uma troca de acusações públicas com um delegado de polícia. Bacci denunciou a existência de uma banda podre na polícia gaúcha. Yeda acusou Bacci de querer aparecer mais do que a governadora. A crise acabou provocando uma espécie de intervenção da Polícia Federal na segurança pública gaúcha. O delegado José Francisco Mallmann, superintendente da PF no RS, acabou assumindo a secretaria.
ATRASO NOS SALÁRIOS – O secretário estadual da Fazenda, Aod Cunha Júnior, anunciou, no dia 23 de abril, que uma parte dos servidores do Executivo receberá, pelo segundo mês consecutivo, os salários com atraso em abril. Aod Cunha disse que essa situação se manterá até que o Estado equilibre as receitas e despesas correntes.
EPIDEMIA DE DENGUE – O secretário estadual da Saúde, Osmar Terra, admitiu, no dia 20 de abril que já há uma epidemia de dengue no noroeste do Rio Grande do Sul. O número de casos de suspeita de dengue nesta região, que rapidamente superou a casa dos 100, configurou a situação de epidemia. A situação mais grave, inicialmente, foi no município de Giruá, com 96 casos.
CRISE COM O VICE – Essa é uma crise permanente que iniciou na campanha eleitoral, entrou governo adentro e não tem hora para acabar. No episódio do depoimento de Feijó na Comissão de Serviços Públicos da Assembléia, ele chegou a ser ameaçado de impeachment pelo deputado estadual Alceu Moreira (PMDB), que também chamou-o de “psicótico”.