OPINIÃO

O mistério do interregno

Publicado em 28 de julho de 2006

Agora começa a fase forense. A fase em que se examina os vestígios do desastre atrás da sua causa, se peneira as cinzas tentando identificar a origem do incêndio, se busca impressões digitais e pistas que incriminem um culpado. Enfim, se procura uma explicação e se prepara um julgamento.

Se fosse uma história policial, um bom título seria “O mistério do interregno”. Pois o que está exigindo elucidação, acima de qualquer outra coisa, é o que aconteceu no período entre a vitória brasileira na Copa das Confederações e a derrota brasileira na Copa do Mundo. Entre o evento que criou todas as expectativas de um sucesso brasileiro na Copa e o evento que frustrou estas expectativas e deprimiu uma nação inteira. O que foi que aconteceu?

Os times de um evento e do outro eram mais ou menos os mesmos. Ninguém envelheceu mais do que os poucos meses que se passaram entre um torneio e outro. Ninguém teve problemas físicos ou psíquicos, que se saiba, que justificasse a mudança entre os que jogaram então e jogaram agora. O técnico e a comissão técnica eram os mesmos. Não há notícia de uma reversão do pólo magnético da Terra no período, o que poderia explicar o desaparecimento do futebol de uma hora para outra. O que foi então?

As investigações devem se concentrar no interregno. O que aconteceu, aconteceu no interregno. Foi no interregno que os brilhantes perderam o brilho e o quadrado perdeu a mágica. A derrota na Copa nasceu e se criou no interregno – é preciso agora destrinchar o seu DNA.

O interregno, de certa forma, absolve o Parreira. Depois do que jogou na Copa das Confederações, ele seria louco de mudar o time? Como ele iria adivinhar que algo sombrio e indefinível aconteceria com o time no interregno, e o time não era mais o mesmo? Mas, outro mistério: se Parreira reconheceu os estragos feitos pelo interregno e mudou o time, por que voltou atrás depois da vitória sobre o Japão e escalou o time amaldiçoado pelo interregno? Talvez o interregno o tenha amaldiçoado também.

Investigue-se o interregno. A própria palavra já é intrincada e feia, sugerindo coisas subterrâneas e obscuras. A solução do mistério está no interregno.

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