Era uma vez um diminutivo reativo. Queria porque queria ser aumentativo. A mãezinha falou baixinho pro altivo:
– Filhinho, você nasceu pequenininho. Acostume-se ao tamanhinho. Fique calminho, você verá seu valor em alguns textinhos e contextinhos.
Mas o diminutivo não diminuía sua viva expectativa. Soar tonitruante, com um til retumbante sobre a cabeça, ah, isso sim seria importante.
E foi à escolinha pela estradinha, admirando florezinhas, seguindo o riachinho, sob o solzinho ou chuvisqueirinho. Na mochilinha, um lanchinho. Na cabeça, único pensamentinho:
– Hei de vencer fora desse mundinho.
E assim passaram-se os aninhos. O diminutivo recebeu seu diplominha e preparou-se pro empreguinho. Sem mostrar ambição (“Til, não! Causa confusão!”), alimentava um projetinho na cabecinha: ir pruma industriazinha avançadinha e prestar seus servicinhos.
Mas, qual? Só podia lidar com chavezinhas, equipamentozinhos, aparelhinhos, ferramentinhas. Procurou na ciência inteirinha. Afinal, era mocinho, precisava de um carguinho, ganhar sua vidinha. Foi quando ouviu falar em nanotecnologia – em vez de palavrinha, palavrona. Mas prometia. Foi lá e fez uns testezinhos. Coisinhas como entrar numa agulhinha e por um furinho chegar aos cantinhos de uma celulazinha e lá, num implantezinho, esperar um tempinho e aguardar um efeitinho. Achou tudo chatinho, além de incertinho. Se houvesse sucessinho, seria num futuro remotinho.
O diminutivo desistiu da experienciazinha. Queria alegrar sua alminha, mas, sem rotinazinha.
Aí lembrou da sua infanciazinha! Quem sabe um estagiozinho na crechinha do seu bairrinho? Nada mais útil à professorinha no trato com os aluninhos. E as criancinhas também gostariam dele nas suas boquinhas e orelhinhas. Abriu um sorrisinho e fez uma entrevistinha.
Deu tudo certinho. Em meio ao vocabulariozinho dos menininhos e menininhas, cheio de bichinhos e risinhos, desenhinhos e musiquinhas, o diminutivo soltou um suspirinho. Já era um comecinho: podia rimar nos versinhos, fazer número nas continhas, ajudar nas primeiras letrinhas. E ainda ia com eles pras casinhas, nos bilhetinhos!
A partir daí, o diminutivo virou felizardinho, nem quis mais ser crescidinho. Descobriu, do melhor jeitinho, que tudo tem seu momentinho e lugarzinho.
E, às vezes, tinha até prazeres sem diminutivos, como no ar marinho, no burburinho do caminho, nos vizinhos e, sobretudo, no carinho.