CULTURA

Manual de sobrevivência na selva das verdades

Por Gilson Camargo / Publicado em 29 de maio de 2006

O professor de filosofia britânico Simon Blackburn confronta valores e comportamentos da sociedade moderna para dissecar um conceito universal em Verdade: um guia para os perplexos (Civilização Brasileira, 336 p. Tradução de Marilene Tombini).

Autor do Dicionário Oxford de Filosofia, que virou best-seller em seu país, Blackburn polemiza tudo com o pretexto de explicar Filosofia para os leigos em seus livros, palestras e nos programas de discussão na Radio 4 do Reino Unido. Neste livro, a equação que o autor se propõe e na qual vai envolvendo o leitor é a seguinte: “Se existe um conjunto de dados que possa ser aplicado universalmente, o que seria considerado ‘a verdade com v maiúsculo’?”.

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Para isso, coloca em xeque a existência de idéias como moral absoluta, o bem e o mal, e se pergunta se será possível manter a integridade em uma sociedade de crenças, hábitos e religiões contraditórias. Com a desconfiança mútua, a loucura e o desprezo colocados na ordem do dia pelos meios de comunicação, constata Blackburn, a sociedade estaria exposta à ironia e ao cinismo pós-modernos, ao multiculturalismo e ao relativismo que acabariam levando todos “para o inferno dentro de uma sacola de compras”.

O autor também desafia a compreensão de que todos os pontos de vista poderiam ser respeitados, por mais absurdos que possam parecer. “Talvez você tema que compreender seu inimigo seja meio caminho andado para solidarizar-se com ele, ou um quarto de caminho para unir-se a ele”, desafia ele em um diálogo com o leitor que permeará a narrativa de ironia e humor. Um guia essencial à compreensão da verdade, dos inimigos da verdade e suas guerras, o livro transita entre o relativismo e o absolutismo, a tolerância e a crença, a objetividade e o conhecimento, as novas religiões, a ciência e o mercado.

 

O sexto volume da série História da Filosofia – De Nietzsche à Escola de Frankfurt (Paulus, 496 p.), de Giovanni Reale e Dario Antiseri, apresenta-se como uma chave para entender e acessar os conceitos estabelecidos pelos principais filósofos ocidentais. Do mundo das idéias de Platão ao transcendentalismo de Kant, passando pelos jogos de linguagem de Wittgenstein, a obra propõe (especialmente aos leitores jovens) o entendimento e memorização dos problemas e idéias filosóficas ao analisar não só o que os autores dizem, mas os modos e os jargões específicos dos textos filosóficos.

A partir das aulas do Mestrado em Educação em Ciências e Matemática da PUCRS e de um seminário, as 11 autoras de Um currículo de Matemática em movimento (Edipucrs, 95 p., organização de Ruth Portanova) propõem uma revisão curricular dessa disciplina para a Educação Básica e séries finais da Educação Infantil. A sugestão de con-teúdos foi elaborada a partir do questionamento sobre qual matemática as crianças precisam para viver nesse século e que habilidades e competências elas devem desenvolver.


A violência: natural ou sociocultural?
(Paulus, 106 p.), de Márcia Regina da Costa e Carlos Alberto Máximo Pimenta, mergulha em uma análise social e antropológica para explicar o fenômeno da violência, investigando questões como a origem da agressividade, a indiferença da sociedade em relação à violação cotidiana de direitos e da integridade, a banalização da violência.

Trabalho e loucura – Uma biografia dos afetos(Sulina/Ufrgs, 176 p.), de Selda Engelman. Resultado de uma pesquisa realizada pela autora na 9a Unidade de Triagem do Hospital Psiquiátrico São Pedro, a obra investiga o modo de trabalho contemporâneo para descobrir nesses trabalhadores uma organização de empresa social, uma rede de sustentação, apoio e reversão da precariedade das suas condições econômica, social, política e psíquica. Um mergulho ao fundo do poço, ao ponto zero social e psíquico – comum a outras minorias –, para então propor saídas possíveis.

Os ensaios e artigos de 34 autores reunidos emNarrativas do Brasil – Cultura e Psicanálise(Associação Psicanalítica de Porto Alegre, 296 p.) oferecem uma releitura da multiplicidade, sincretismo e das desigualdades nacionais.

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