O fluxo de público escolar é parte da rotina da 5ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul. Diariamente, mais de 100 instituições de ensino da rede pública e privada do Rio Grande do Sul passam pela Mostra, que reúne 172 expositores de sete países e ocupa nove espaços da capital gaúcha. O artista homenageado é o escultor mineiro Amilcar de Castro, falecido em 2002. A expectativa é de que até o encerramento, em 4 de dezembro, 250 mil alunos visitem a Bienal.
E é com olhar especial para esse público que o projeto Ação Educativa, da Fundação Bienal, promove palestras, oferece assessoria pedagógica para os docentes e está distribuindo material gráfico específico para os mestres e alunos. Para os educadores, foi feito um conjunto de pranchas com a reprodução de algumas obras, contendo no verso um breve histórico do artista, textos complementares e indicações de sites para pesquisa. Susana Rangel, consultora pedagógica, explica que o material de apoio visa estimular os professores a descobrirem outras formas de linguagem e expressão. “A intenção não foi apontar um receituário, mas instigá-los a desenvolver propostas educativas de acordo com a sua realidade”, expõe Rangel.
O aporte pedagógico para a preparação de projetos pré e pós-visita, acervo bibliográfico, acesso à internet e videoteca para pesquisas e estudo estão disponíveis no Espaço Educativo. O ambiente funciona de terça a sábado, das 9h às 19h, no Cais do Porto, entre os Armazéns A3 e A4 (contatos pelo telefone (51) 3226.5922 ou espacoeducatico@bienaldomercosul.art.br). Conforme a professora-artista Téti Waldraff, uma das supervisoras do Espaço, o principal desafio é estimular as pessoas a entender e interagir com a arte contemporânea. “O contato com os espaços onde estão expostas as obras já favorece a descobertas e ao desenvolvimento da cidadania”, pontua Waldraff. Os docentes ainda podem participar dos Diálogos Culturais, que são encontros com artistas e professores que abordam temas referentes às exposições da Bienal. As palestras acontecem nas quintas, às 19h (veja agenda abaixo). O agendamento de visitas pode ser feito pelo telefone (51) 3226.3337, das 9h às 19h, de segunda a sexta. Também é possível fazer um pré-agendamento pelo site www.bienalmercosul.art.br. Os grupos devem ser formados de 24 pessoas e acompanhados por um responsável. O professor pode fazer a opção por um dos sete roteiros sugeridos pela organização do projeto (confira os roteiros).
Para os alunos, foi feito souvenir, contento jogos de memória, que tanto pode ser usado pelos que estão na Educação Infantil como no Ensino Fundamental. “A idéia foi trabalhar um material interativo e lúdico, uma lembrança, que traz uma gama de informações sobre os artistas, os países participantes”, explica a artista plástica, Mônica Hoff, coordenadora operacional da Ação Educativa. A ampliação do acesso para os pequenos da Educação Infantil é outra novidade. “Na última edição, havia uma orientação para que as visitas fossem direcionadas para os alunos do Ensino Fundamental”, conta Hoff, explicando que essa mudança contribui na formação do público. “Essa criança vai crescer com a percepção de que esses espaços da cidade lhe pertencem e, com certeza, continuará freqüentando e trará seus filhos”, ressalta. O objetivo de transformar a Ação Educativa em um projeto permanente que promova simpósios, palestras e debates no decorrer dos dois anos entre um evento e outro ainda é uma meta que Hoff espera que seja concretizada. “A Bienal cria uma ação intensa na cidade e depois termina. A idéia é que essa troca pudesse continuar”, frisa.
A visão de cada um
Durante o horário de visitas, que começa a partir das 9h, é possível se deparar com passageiros-estudantes dos mais diversos locais: Porto Alegre, Estância Velha, Criciúma, Viamão, Garibaldi, Lajeado, Montenegro, Roca Sales, Campo Bom, Canoas, etc. Acompanhados por um dos 195 mediadores que fizeram um curso de preparação para atuar na Mostra e o professor, eles fazem um passeio de uma 1h10min em um dos roteiros sugeridos. Com idades e realidades diferentes, a percepção dos visitantes é tão diversa quanto as obras expostas. Dependendo da proposta do artista, os comentários podem ir de um “legal”, “gostei”, “estranho”, até a indagação cheia de surpresa: “Isso é arte?”. Tal observação foi feita pelo Giancarlo da Silva Picolli, aluno da 7ª série da escola João XXIII de Porto Alegre, quando viu a obra Adesivo 44 da artista brasileira Jac Leiner, na qual ela utiliza vários adesivos colados em janelas. “É igual à janela do meu quarto”; indagação que serviu de ponta-pé para a discussão sobre o que caracteriza uma obra de arte.
Carolina Fonseca, 12 anos, aluna da mesma turma, sentiu-se tocada com a obra Memorial IV: Pau Brasil – Uma Câmara Ardente para as Árvores Brasileiras, da artista gaúcha Vera Chaves Barcellos. O trabalho faz um protesto à destruição de árvores brasileiras. “Achei que ela usou uma maneira diferente de falar sobre o meio ambiente e de mostrar o que a gente faz com ele.” Já Leonardo Sehn Alves, teve a expectativa frustrada. “Eu pensei que ia ter um monte de quadros, mas tem um monte de obras estranhas.” Mesmo com a estranheza, ele diz que o passeio vale a pena e elege a instalação El Sexto Sol, dos irmãos mexicanos Einar de la Torre e Jamex de la Torre México, como a mais interessante. “Ela é legal e engraçada”, avalia.
A professora de arte da turma, Luciana Beckel, pontua que o programa contribui para a formação de outros pontos de vista. “Ajuda a quebrar um pouco o paradigma da arte convencional e a perceber que há uma variedade de materiais que eles têm contato no dia-a-dia e que pode se transformar em arte, de acordo com olhar do artista”. Beckel avalia que o acesso à Bienal também propicia que eles descubram o próprio potencial. “Alguns se dão conta de que o que eles produzem é uma expressão de arte.”
Casinha cor-de-rosa recebe perfomance
Depois de visitar a Bienal e de discutir os trabalhos, os alunos da Escola Estadual Arthur Pereira de Vargas, de Canoas, resolveram voltar e fazer uma performance na obra Ilusión, da boliviana Raquel Schwartz, ou “Casinha cor-de-rosa”, como está sendo popularmente chamada pelo público. A contagem regressiva a partir do número 27, deu início à apresentação, que foi seguida por declamações de trechos da canção Rosa de Hiroshima, de Vinicius de Moraes e Gerson Conrad, simbolizando a violência causada pela detonação da bomba.
A professora de arte que desenvolveu o trabalho com o grupo, Marília Schmitt Fernandes, explica que as meninas vestidas de rosa retratam as ilusões das mulheres bolivianas que ainda sonham com o casamento e vida tranqüila, e os meninos de preto, a relação machista à qual elas estão submetidas, questões que são abordadas pela artista. Conforme Schmitt, trabalhar arte com seus alunos contribui para que eles se percebam como cidadãos capazes de fazer intervenções na sociedade. “É colocá-los em contato com o que eles têm de melhor. É assim que preparamos gente do bem”, finaliza.
Bienal revela a cidade para alunos
Histórias da Arte e do Espaço, tema dessa edição, também sugere a interação dos moradores com os espaços públicos e de lazer da cidade. E essa foi a razão que estimulou a professora da 2ª série do Ensino Fundamental da Escola Estadual Silvio Torres, do bairro Agronomia, Porto Alegre, Zulma Loureira, a trazer seus alunos para visitar a Bienal e conhecer a Usina do Gasômetro. “Para eles tudo é novo, estão surpresos, ansiosos e querem tocar em tudo”, conta Zulma, pontuando que o fato de sair do cotidiano e poder conhecer outros espaços já é um ganho. “Fica sempre alguma coisa boa, tanto para mim quanto para eles.” Ela foi uma das 400 docentes que participou do segundo encontro de formação oferecido pela Ação Educativa para professores da rede pública e privada, em outubro. “Valeu a pena, a gente aprende coisas novas”, constata.
Já os alunos Lucas da Silva e Paloma Cristina, ambos com 9 anos, não tiveram dúvida em definir como legal os trabalhos que viram expostos na Usina. Katié Macedo, mediadora que acompanhou a turma, assegura que todos gostaram. “Eles queriam saber de tudo, principalmente, como tinham sido montadas as obras, se autor tinha outros trabalhos, como funcionavam os vídeos.” A crítica ficou por conta da despedida no final do percurso: “Já acabou, não tem mais nada para ver?”, questionaram os alunos.
DIÁLOGOS CULTURAIS
– 03/11: Rosana Krug (Local:Margs)
– 10/11: Jaílton Moreira (Local:Memorial do RS)
– 17/11: Teresa Poester (Local:Santander Cultural)
– 24/11: Sandra Richter (Local:Santander Cultural)
– 01/11: Elaine Tedesco (Local:Santander Cultural)
ROTEIROS SUGERIDOS
As obras estão distribuídas em quatro vetores temáticos: “Da Escultura à Instalação”, “Transformações do Espaço Público”, “Direções no Novo Espaço” e “A Persistência da Pintura”, além da homenagem a Amilcar de Castro e da exposição especial “Fronteiras da Linguagem”.
Roteiro 1 – Paço dos Açorianos (Praça Montevidéu, 10, Centro): Transformações do Espaço Público; Direções no Novo Espaço. Largo Glênio Peres (Em frente ao Mercado Público Central): Esculturas Monumentais de Amilcar de Castro – Artista Homenageado na 5º Bienal.
Roteiro 2 – Santander Cultural (Rua Sete de Setembro, 1028, Centro): Da Es-cultura à Instalação – A (Re)invenção do Espaço. Memorial do Rio Grande do Sul (Rua Sete de Setembro, 1020 – Praça da Alfândega – Centro): Direções no Novo Espaço.
Roteiro 3 – Margs (Praça da Alfândega, s/nº, Centro): Persistência da Pintura – Experiências Históricas no Plano; Pinturas e Desenhos de Amilcar de Castro.
Roteiro 4 – Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa (Rua dos Andradas, 959, Centro): Amilcar de Castro Programador Visual; Direções no Novo Espaço.
Roteiro 5 – Cais do Porto (Armazéns A3, A4 e A5): Da Escultura à Instalação.
Roteiro 6 – Cais do Porto (Armazéns A5, A6 e A7): Persistência da Pintura, Esculturas de Amilcar de Castro; Artistas Convidados.
Roteiro 7 – Usina do Gasômetro (Avenida Presidente João Goulart, 551, Centro): Direções no Novo Espaço.
Orla do Guaíba (Orla do Parque Maurício Sirotsky Sobrinho): Transformações do Espaço Público – Intervenções Permanentes e Temporárias.