Viver nas grandes cidades inclui correr contra o tempo, encarar congestionamentos, comer fast food, gerar lixo, trocar casas por condomínios, respirar ar poluído, dormir pouco, viver no meio do concreto, do barulho e com insegurança. Não é um cenário agradável nem saudável, mas é assim que vivem mais de 80% dos gaúchos, segundo dados do IBGE. No Brasil, esse índice fica em torno de 60%. Somos urbanos. Mas como estamos nos relacionando com essa urbanização?
A preocupação com a qualidade de vida urbana começou a ganhar espaço na década de 90. A aceleração do processo de urbanização passou a influenciar a vida das pessoas e o meio ambiente. Conceituar e principalmente traduzir essa mudança em números úteis à realização de políticas públicas passou a ser um novo desafio.
“O conceito de qualidade de vida urbana situa-se entre o de qualidade de vida e o de qualidade ambiental”, diz Maria Inês Pedrosa Nahas, doutora em Ecologia, pesquisadora e professora do Instituto de Desenvolvimento Humano Sustentável (IDHS) da PUC Minas, em artigo publicado pela revista Com Ciência.
Segundo a pesquisadora, essa transferência de enfoque anteriormente nas pessoas e agora nas cidades trouxe um segundo desafio à formulação de indicadores: a necessidade que esses números expressem a capacidade de um município oferecer determinados serviços, além da localização geográfica dos mesmos. E ainda existe um terceiro desafio, as profundas diferenças que apresentam as metrópoles com a concentração da riqueza em relação às demais localidades.
A partir dessas idéias, pesquisadores de Belo Horizonte desenvolveram, em 1996, o sistema de indicadores intra-urbanos da capital mineira: o Índice de Qualidade de Vida Urbana (IQVU). O IQVU é calculado a partir de 11 variáveis ou setores de serviços urbanos essenciais existentes em cada uma das 81 unidades espaciais em que foi dividida a cidade: abastecimento, assistência social, educação, esportes, cultura, habitação, infra-estrutura urbana, meio ambiente, saúde, serviços urbanos e segurança. São considerados não apenas a oferta dos serviços, mas o acesso dos moradores a serviços oferecidos. Desse modo, o IQVU se propõe a identificar os locais com menor qualidade de vida, bem como os setores mais deficientes em cada local. (GRAZIELI GOTARDO)
CONDOMÍNIOS
Qualidade para poucos
Viver em condomínios urbanos que oferecem área verde, lazer e segurança pode parecer uma opção consciente e saudável. Para a Dra. Naná Mininni Medina, diretora para o Brasil e Uruguai da Fundação Universitária Iberoamericana, com sede na Espanha, é uma qualidade de vida para poucos. “Quem tem dinheiro compra. Do ponto de vista da análise social e psicológica é muito egoísta. Será que melhorar a qualidade de vida de pequenos grupos traz algo para a sociedade?”, reflete a diretora.
Ela defende que sustentabilidade deve ser um conceito infinito, para as gerações futuras, e cita o exemplo da água. Estatísticas mostram que se seguirmos consumindo água da forma que consumimos hoje, em 2025 mais da metade da população humana não terá água potável para beber.
“Eu fico me perguntando onde está o ponto cego da questão ambiental. Por que a gente não consegue tocar as pessoas e principalmente por que o cidadão urbano não consegue fazer nenhuma correlação das suas ações do dia a dia com o desmatamento da Amazônia”, questiona Arlinda César, bióloga do Instituto Venturi, instituição sem fins lucrativos, voltada para o estudo, pesquisa e divulgação de informações sobre as questões socioambientais.
Para a pesquisadora, a situação no planeta só vai mudar a partir do momento que preservar o meio ambiente for um valor pra cada um. E para isso são necessárias diferentes abordagens por meio da Educação.
Pensar na hora de comprar no supermercado, separar o lixo, cuidar de seus próprios resíduos, é o ponto de partida para a consciência ambiental. ”Essa idéia de que se eu tenho dinheiro eu posso comprar, é a idéia mais prejudicial que a gente pode ficar alimentando”, conclui a professora. (GG)
Novo índice para avaliar as cidades
A experiência bem-sucedida de Belo Horizonte fez com que em 2005 especialistas e pesquisadores desenvolvessem o IQVUBr – Índice de Qualidade de Vida Urbana Brasileiro para o Ministério das Cidades, aplicado aos 5.560 municípios do país. O resultado ainda não foi divulgado pelo governo, mas será o único sistema de indicadores essencialmente urbanísticos. Artigo da revista Com Ciência ressalta que no cálculo do índice considera-se tanto a oferta de serviços localizados nos municípios, quanto a oferta existente em municípios vizinhos. Além disso, foram incluídos indicadores que avaliam a quantidade e a qualidade das ofertas. O IQVU-Br também poderá ser utilizado juntamente com o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) para oferecer uma visão mais abrangente da qualidade de vida urbana. (GG)
Exposição: educando para consciência
Esteve em Porto Alegre, no Santander Cultural, até 28 de setembro, a exposição A cidade, a natureza, o cidadão: um olhar sustentável. O trabalho faz parte do Projeto Ecossistema Urbano em Debate, do Instituto Venturi. O objetivo é, através de uma vivência pedagógica, despertar a percepção sobre o ecossistema urbano e como as pessoas têm se relacionado com ele. Dois filmes educativos utilizam tecnologia tridimensional, e apresentam números assustadores sobre a degradação do meio ambiente.
Num segundo momento, uma maquete feita toda com lixo simula um ambiente urbano atualmente, representando como as cidades involuíram do ponto de vista ambiental.
E possível ainda fazer cálculo da pegada ecológica. Respondendo um questionário sobre seu estilo de vida, sabe-se o quanto você utiliza em hectares para sua sobrevivência.
O objetivo agora é levar a exposição para todo o estado e o Instituto Venturi está em busca de apoiadores. Interessados em colaborar ou receber a exposição podem entrar em contato pelo telefone: (51) 3024.4008. (GG)