Atletas profissionais, do tipo que competem e precisam ganhar porque isso resulta em medalhas e patrocínios, têm de conviver com a dor. Quem joga futebol no final de semana ou faz uma musculação básica na academia é atleta recreacional. Teoricamente, não teria necessidade de ultrapassar seus limites físicos, porque não sofre a pressão de ranking ou de fim de campeonato. Mas eles ultrapassam. Para estas pessoas, dor ou lesão é sinônimo de que algo está errado e é preciso dar um tempo, ou trocar de atividade física.
O traumatologista e ortopedista Paulo Ricardo Piccoli Rocha já foi médico do Grêmio na década de 90 e atualmente atende os atletas profissionais da Ulbra. No Departamento de Saúde do Esporte da Universidade, ele lida com os problemas causados pela excessiva exigência física e mental de competidores profissionais. No consultório, atende aqueles que exageram na dose por conta, achando que desta forma ganham pontos em qualidade de vida.
Não é bem assim, ensina Rocha. Na visão do ortopedista, a qualidade está ligada diretamente à capacidade de realizar o que se gosta, dentro dos limites. “Se não pode correr, mas pode nadar, então está realizando um exercício”, explica. O mesmo vale para outras atividades, diz Rocha: “Às vezes, a gente tem de mudar o foco, não adianta ficar resmungando e reclamando”. Para harmonizar saúde e exercício, sem risco de lesões e mantendo a descarga de endorfina que dá a sensação de prazer, ele recomenda diminuir o tempo e a exigência de performance.
Para Rocha, como numa competição, no dia-a-dia vale o que der prazer. “Se tiver um melhor resultado no final, ótimo, mas o importante é realizar com prazer o que se estiver fazendo, aí o resultado vai ser sempre bom”. Esta filosofia inclui as partidas de futebol com os amigos – mesmo que em todos os jogos falte um e tenha que se fazer um revezamento, porque sempre sai alguém lesionado. “Não se pode condenar estas pessoas”, diz Rocha, que também não dispensa a sua “pelada” de relaxamento. “Muitas vezes o futebol com os amigos é a única opção de atividade aeróbica, e ainda que seja só um jogo por semana, naquele momento serve para esquecer do estresse. Faz um bem mais à saúde mental do que física”, observa. O próprio Rocha se define como uma pessoa calma na vida e briguenta no futebol. “É mais barato que ir a um psiquiatra”, brinca.
(CLARINHA GLOCK)
Corredores recuperam a saúde e o alto astral
As tias velhas e acabadas acima dos 40 anos são coisa do passado. Mulheres desta faixa etária , que começam fazendo exercícios nas academias, estão descobrindo a corrida. “O grande boom agora é participar de minimaratonas de revezamento”, constata o traumatologista e ortopedista Paulo Ricardo Piccoli Rocha. Por conta da nova mania, ele tem atendido casos de corredoras lesionadas. Mas a lesão não é nada perto do prazer que a corrida proporciona. Numa segunda-feira de setembro, Sandra Zaparoli, 48 anos, estava correndo na esteira da academia quando sentiu uma fisgada no pé. Ligou para o fisioterapeuta, que indicou parar com o movimento. O pé inchou bastante, mas quem disse que ela deixou de ir à academia? Se o pé está mal, dá para alongar e fazer musculatura – e foi o que fez. Parar , nem pensar.
Sandra integra o grupo Meninas de Atitude. A caçula tem 43 anos e a mais madura, 58. A atitude do nome da trupe tem a ver com a vontade de mostrar a cara na rua, brincando e se divertindo. “Queríamos mostrar que era possível correr, tendo disciplina e querendo mesmo fazer, junto com um profissional para orientar a passada, a respiração e a alimentação”, explica Sandra. “A gente se sente mais bonita, mais jovem, mais animada”, diz. “Corrida é vida, é prazer”, concorda a amiga Tânia Maria Franco Moraes, 53 anos, também adepta da natação, do boxe, da dança e da caminhada. Sandra começou a se exercitar por conta de um problema de saúde. Estava com 38 anos 6 quilos acima do peso, quando precisou fazer uma cirurgia de hérnia de disco. A musculatura dela estava fraca. Nesta época trabalhava em uma companhia aérea, e muitas vezes precisava carregar pacotes e malas. Ao completar 40 anos pediu demissão e decidiu mudar de estilo de vida. As atividades físicas esparsas foram substituídas por exercícios diários, das 7h às 9h. Estimulou fundar uma academia no condomínio, e a família seguiu o exemplo. Na academia onde treina com as Meninas de Atitude, Sandra virou símbolo de simpatia e boas energias. As garotas venceram a sua primeira maratona de revezamento em 2007, continuam competindo, e agora são modelo para outros grupos de corredores veteranos que começam a imitá-las. (CG)
Qualidade de vida e estilo de vida
MICHELE KUHN OLIVEIRA*
Nos dias de hoje muito falamos em qualidade de vida. Mas o que quer dizer este termo? Será que quer dizer apenas a ausência de doenças em nossa vida?
A qualidade de vida depende de muitos outros fatores como uma boa alimentação, a prática de atividades físicas regulares, a nãoaderência de hábitos nocivos, como fumo e álcool, bons relacionamentos sociais, controle emocional, comportamento preventivo, satisfação profissional, intelectual e espiritual. Markus Vinicius Nahas, em um de seus livros, nos coloca que estes fatores também variam de pessoa para pessoa, tendendo a mudar ao longo da vida.
Então podemos dizer que ela está intimamente ligada ao nosso estilo de vida, sendo reflexo de nossas atitudes e escolhas. Sabendo-se disso, vamos procurar escolher o melhor para nós. Sabemos que a vida está uma verdadeira corrida contra o relógio. Mas vamos refletir o que nos diz Carlos Drumond de Andrade, que “a vida necessita de pausas”. Dessa forma, reservemos um tempo para pensarmos em nós, em nosso lazer, descontração, e praticarmos uma atividade física. Lembrando que ao executarmos uma atividade com prazer, estamos liberando energia e endorfinas, que nos proporcionam bem-estar e dão um “drible” no estresse.
Muitas empresas têm se preocupado muito com a qualidade de vida de seus funcionários, e podemos perceber isso através de programas dentro do próprio local de trabalho, como a ginástica laboral, que vem crescendo muito com o passar dos anos, desde a revolução industrial. Portanto, vamos aproveitar as oportunidades que nos são oferecidas. Vamos cuidar de nós e pensarmos em nossa vida como algo precioso. Afinal, quem ama cuida, e não há nada melhor do que estarmos satisfeitos com o nosso corpo e estilo de vida.
Assim, a ausência de doenças passará apenas a ser uma conseqüência de nossos hábitos saudáveis e estaremos investindo muito mais em nossa felicidade e do nosso próximo.