Salim Miguel levou vinte anos para concluir Mare nostrum – romance desmontável (Record, 174 páginas), que chegou às livrarias em setembro de 2004 e mereceria ser um dos destaques da Feira do Livro deste ano, tanto pela presença do autor no evento como pela proposta anticonvencional do livro que permite a leitura aleatória dos capítulos. É inevitável a comparação com Julio Cortázar e se Jogo da Amarelinha. Em Mare Nostrum, Miguel faz a ligação entre um texto e outro por meio de um nome, de um som, de uma frase, de uma situação. Ele diz que jamais conseguiu escrever um romance convencional, com começo, meio e fim. Para ele, situações e personagens surgem e reaparecem, ou não, como na própria vida, e a imaginação é que costura tudo, transformando até uma mentira em aprofun-damento da realidade e verdade. Vale lembrar que Salim Miguel foi vencedor do prêmio de melhor romance da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) e da IX Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo (Zaffari & Bourbon), em 2001, com seu romance anterior, Nur na escuridão (1999). Miguel é doutor honoris causa da UFSC e recebeu, em 2002, da União Brasileira de Escritores e da Folha de S. Paulo, o troféu Juca Pato, destinado ao intelectual do ano.
O autor há 40 anos foi preso político de primeira hora do golpe militar. Em 1º de abril de 1964, era detido por ser chefe da sucursal catarinense da Agência Nacional, o órgão de imprensa do presidente deposto João Goulart. Na prisão, Salim passou 48 dias de angústia, retratados num outro clássico de sua autoria, Primeiro de Abril — Narrativas da Cadeia. Nascido no Líbano, em 1924, Salim Miguel aportou no Brasil em 1927, indo morar com os pais libaneses em Santa Catarina. Passou a infância e a adolescência em Biguaçu, município da Grande Florianópolis. Seu casamento com a escritora Eglê Malheiros deu-se antes da estréia literária (Velhice e outros contos, 1951). “Ela sempre foi participante em minha obra: primeira leitora e mais exigente crítica, papel que agora se acentuou”, comenta Salim. Entre 1947 e 1957, Salim Miguel participou do Grupo Sul, de Florianópolis; de 1976 a 1979, foi um dos editores da revista carioca Ficção; entre 1983 e 1991 foi diretor da Editora da UFSC; e de 1993 a 1996 dirigiu a Fundação Cultural Franklin Cascaes. Renomado jornalista, tem 25 livros publicados, entre contos, romances, crônicas e depoimentos.
Gênero e educação
A Editora Sulina está lançando várias obras na Feira do Livro de Porto Alegre. Destacam-se, en-tre as novidades, dois volumes que trazem debates interessantes devido aos recortes utilizados em cada uma delas. Produzindo Gênero representa o esforço do grupo de pesquisadores da Rede de Estudos e Pesquisas Feministas (Redefem) em compreender e colocar em debate suas contribuições e indagações de ordem teórico-epistemológica através de diversas manifestações em seus espaços de trabalhos.
Educação, Cultura e Sociedade: abordagens múltiplas(vários autores) traz a preocupação com as questões sociais, culturais e educacionais; nove textos reflexivos, que são resultado de estudos investigativos de um conjunto de docentes/pesquisadores humanistas indignados com o atual quadro paradigmático, pois estão conscientes de que a Educação urge ser transformada, mas, principalmente, de pessoas que estão engajadas no processo educativo.
A cultura da organização
Para quem não sabe e para quem já está por dentro do que é cultura organiza-cional chega às livrarias Gestão da cultura Corporativa (Saraiva, 183 páginas), de Sílvio Luiz Johann, que é consultor organizacional e professor-convidado da Fundação Getúlio Vargas. A obra é destinada principalmente a professores e alunos dos cursos de Administração de Empresas e pós-graduação em gestão empresarial, mas também é recomendada para executivos e funcionários de empresas e entidades pois apresenta o conceito e a metodologia de revalo-ração da cultura organizacional.
Educação ambiental
A excelente coleção Docência em formação – problemáticas transversais, da editora Cortez, que temos destacado por várias vezes nesta coluna chega às prateleiras com mais um volume. Desta vez Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico, de Isabel Cristina de Moura Carvalho, psicóloga da USP, especialista em psicanálise (USURJ), mestre em Psicologia da Educação (IESAE/RJ) e doutora em Educação (UFRGS) dá uma contribuição importantíssima com o livro no sentido dele trazer uma proposta educativa em si. Com uma bagagem em educação ambiental iniciada em 1982, a autora divide com os leitores suas experiências e propõe maneiras de formar cidadãos críticos e conscientes do mundo que os cerca.
Poesia para crianças
Neste relançamento pela editora Scipione de O embrulho do Getúlio (31 páginas) o poeta gaúcho Dilan Ca-margo oferece aos pequenos leitores a possibilidade de entrar em contato com a poesia sem ranço e sem complicações. Dilan diz que a motivação deste livro, publicado originalmente no início dos anos 80 pela Mercado Aberto, foi sua experiência como pai, que lhe inspirou a escrever poesias para crianças. “Esse tipo de poesia permite maior simplicidade e liberdade. O jogo de rimas é divertido, pois é um trabalho de linguagem que sempre busca o lúdico, o jogo de palavras criativo, porém sem sofisticação” diz. O autor estará autografando na Feira do Livro no dia 13 de novembro, às 18 horas. Vale destacar na nova edição as ilustrações de Cristina Biazetto, todas em acrílico sobre tela digitalizadas para compor o livro.
Novela de estréia
Despretenciosamente a autora e publicitária Bete Giacomini vem abrindo espaço no cenário literário gaúcho com seu Nuances da memória (Literalis, 77 páginas), seu livro de estréia. Para a autora, o livro busca simplesmente o objetivo de contar uma boa história, deixando aos personagens e à trama o papel de destaque da obra, em detrimento das possibilidades – e maneirismos – estilísticos.
O enredo gira em torno do amor impedido pelas convenções sociais que pairam sobre uma família tradicional numa pequena e típica localidade do Interior e um segredo familiar ocultado durante décadas.