CULTURA

O negro pelo negro

Por Gilson Camargo / Publicado em 8 de março de 2016

Os brasileiros Muniz Sodré, Carolina de Jesus, Nei Lopes, Oliveira Silveira e Sueli Carneiro, o franco-africano Frantz Omar Fanon, a nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie são alguns dos autores negros mais re­presentativos da biblioteca temá­tica Pedro Cunha que o Ponto de Cultura Espaço Escola de Capoei­ra Africanamente inaugura no dia 8 de março, em Porto Alegre (Cris­tóvão Colombo, 761).

O acervo inicial, de 300 títulos, reúne escritores de diversas na­cionalidades identificados com a cultura negra e o antirracismo, com acesso livre para os frequen­tadores – foram 6 mil pessoas em 2015. O nome da biblioteca é uma referência ao ativista cultural, car­navalesco e militante negro Pedro Cunha, falecido em 2015.

FORMAÇÃO – “O racismo ain­da persiste e, hoje, muito masca­rado nas apropriações culturais que potencializam esses saberes nas academias ou para os possui­dores de capital. Queremos que os jovens tenham acesso ao referen­cial positivo sobre a sua história. E referências positivas são o que a comunidade negra mais neces­sita. O efeito do racismo em nossa subjetividade ainda vai perdurar na autoestima do povo negro, que precisa se ver, se enxergar, se re­ferenciar em seus iguais para es­timular a produção crítica, para incentivar a leitura de material que o faça se compreender como sujeito de história, de cultura, de civilização, de contribuinte na es­trutura cultural do Brasil, das Amé­ricas. Da cultura contemporânea mundial”, avalia Nina Fola, pre­sidente do Ponto de Cultura. Ela explica que a biblioteca abre as portas para uma “fortuna crítica” que poderá ajudar em pesquisas e na formação daqueles que não tinham acesso à bibliografia espe­cializada e técnica sobre o assun­to, atender ao aluno cotista, que quer escrever sobre seu povo e não tem como adquirir livros, além de potencializar o trabalho de educadores. “Também queremos desconstruir o falso argumento de que não existiria bibliografia para introdução da Lei 10.639/2003 que torna obrigatório o ensino de His­tória e Cultura Africana e Afro­-Brasileira nas escolas de ensino fundamental e médio”, revela.

“É preciso se ver, se enxergar, se referenciar em seus iguais, se compreender como sujeito, de história, de cultura, de civilização”.

TERRITÓRIOS – “Através dos livros posso conhecer a história de meus ancestrais, ajudando assim a buscar minha identidade de mulher negra”, comemora Mariana Fagun­des, 32 anos. Para o professor de capoeira Guto Obafemi, a biblio­teca especializada simboliza “um ato de subversão à lógica eurocen­trada que é ensinada nas escolas”. Débora Santos, 30 anos, afirma que o acesso à obra referencial de au­tores negros permite “preservar a memória documental da cultura e história afro-brasileira no que diz respeito a expressões culturais, re­ligiosas e artísticas negras”.

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