Fico cada vez mais marxista. Acho que há uma frase do Groucho Marx adaptável a qualquer situação. Lula fez mal em não lembrar a mais famosa delas, ao tomar posse. Groucho disse que se recusava a ser sócio de um clube que aceitava gente como ele. Lula deveria ter desconfiado do fato de o clube aceitar sua eleição: ou o clube pretendia mudar ou esperava que ele mudasse. Lula mudou para poder freqüentar o clube, o clube ainda não mudou muito. Tudo porque Lula não leu o seu Marx adequadamente. O fato de não ter sido barrado já deveria tê-lo alertado de que o clube não era para gente como ele.
Outra frase de Groucho se adapta à situação econômica. Groucho como médico, olhando seu relógio e tirando o pulso de um paciente: “Ou este homem está morto, ou o meu relógio parou”. O grande debate sobre economias em subdesenvolvimento na América Latina, 20 anos depois que a doutrina de segurança continental dos generais neopaleolíticos foi substituída pela doutrina neoliberal dos economistas neoclássicos, é mais ou menos o mesmo: foi a doutrina que não funcionou no continente, onde em 20 anos a desigualdade só aumentou, ou foi o continente que decepcionou uma doutrina perfeitamente aceitável, tanto que, no Brasil, ela continua em vigor? Aqui, o clube resolveu o debate de maneira original ao manter o modelo liberal: reconheceram que o paciente está morrendo e, para reanimá-lo, dão corda no relógio.
Também há marxismos para a atualidade internacional. Groucho como general, cercado por generais, diante de um mapa de campanha: “Uma criança de três anos entenderia isto”. E depois de uma pausa: “Chamem uma criança de três anos, rápido”. Uma criança de três anos teria dito ao Bush que a invasão do Iraque daria nesse atoladouro. Faltou uma criança de três anos entre os seus conselheiros neoconservadores e neofalcões.
O secretário de Defesa Rumsfeld finalmente entendeu isto e o seu memorando interno para o Pentágono é, em resumo, um apelo tardio pela criança de três anos. Tudo porque as pessoas não lêem Marx, ou lêem o Marx errado.