CULTURA

Uma ponte sobre o Atlântico

Publicado em 29 de julho de 2003

Tratar das diferenças filosóficas entre americanos do norte e europeus é certamente uma tarefa árdua. Coube à filósofa italiana Giovanna Borradori, professora do Departamento de Filosofia do Vassar College, em Poughkeespie, Nova Iorque, a missão de sintetizar a ponte entre ambas em livro. Ao invés de organizar uma coleção de ensaios e artigos sobre o assunto, a autora de A Filosofia Americana – Conversações (Editora Unesp, 234 págs., R$ 25,00 em média) optou por um caminho especialmente interessante nesses tempos de políticas bicudas entre os continentes, o diálogo. A autora realizou entrevistas com nove pensadores americanos contemporâneos que representam diferentes correntes de pensamento. Borradori, busca ao longo do livro estabelecer uma ponte sobre o Atlântico. Enquanto os franceses, por exemplo, seguem a linha da reflexão estruturalista e os italianos representam um setor inteiro do pensamento centro-europeu, a filosofia americana coloca-se em oposição, seguindo a corrente analítica. Isso representa o reflexo da metamorfose ocorrida no pensamento ianque entre os anos 30 e 60, quando a filosofia nos EUA deixou de ser um empreendimento multidisciplinar e socialmente engajado para tornar-se uma ocupação altamente especializada. No centro disso, o pensamento analítico tornou-se hegemônico.

A filósofa utilizou-se de colocações, perguntas e provocações intelectuais para penetrar no pensamento e nas diferentes concepções filosóficas dos entrevistados. Os interlocutores são nada mais, nada menos do que Willard van Norman Quine (precursor de toda uma geração de filósofos), Donald Davidson e Hilary Putnam (ambos diretamente ligados à tradição lógica), Robert Nozik (filósofo político), Arthur Danto (ligado à estética e à filosofia da história), Richard Rorty (fundador do neopragmatismo), Sanley Cavell (apologista do neoceticismo), Thomas Khun (ligado à filosofia da ciência), Alasdair MacIntyre (ligado à ética das virtudes).

Para a autora, o objetivo do livro “é procurar ultrapassar um muro, que, diferentemente de muitos outros da Europa passada e presente, é feito de água. Superar o muro do Atlântico não é abatê-lo a golpes de picaretas, mas reconstituir suas rotas, navegá-lo, habitá-lo”.

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