Ilustração: Sica
Ilustração: Sica
Um de cada vez já tá bom.
Todos os homens foram feitos à imagem e semelhança divina, até que alguns dos primeiros poderosos juízes da antiguidade advertiram o Senhor: Olha, meu velho, ninguém pode ser tão parecido assim com a gente! E desde então o Criador se recolheu à Sua insignificância.
Todos os homens nascem iguais, menos os juízes. Em vez de envolvidos pela placenta surgem envoltos em empáfia. E no berçário logo exalam superioridade no ar: enquanto os recém-nascidos aparecem cagados meia dúzia de vezes ao dia, os juízes ficam togados o tempo todo.
Todos os homens são mortais, porém a mortalidade dos juízes é muito mais vitalícia. Sem falar que a longevidade deles é compulsória e compensatória, cercada de benefícios inarredáveis, benesses imexíveis, privilégios infindáveis.
Todos os homens são iguais perante a lei, isto é, todos tremem. Como a igualdade humana é algo insuportavelmente excessivo para os que julgam, a lei pariu exceções. Logo, desiguais não podem ser julgados do mesmo modo. Aí cabe aos juízes do Supremo Tribu- nal Federal decidir quando é caso de foro privilegiado. O que remete à máxima de Millôr Fernandes:
“Repito, mais uma vez, su- premo eu só conheço o de frango”.
Todos os homens que forem intimados pela polícia federal a prestar depoimento e se recusar a comparecer devem se dar mal, pois a condução coercitiva está prevista. E a depender do juiz e do conduzido,mesmo quem não for previamente intimado também poderá se dar mal, quem sabe até pior do que os intimados.
Todos os homens são de carne, da mesmíssima e corruptíssima fraqueza humana. Os que corromperem ou forem corrompidos devem ser investigados e denunciados, acusados e julgados, condenados e enjaulados. E se forem como o juiz Lalau, devem servir pra se abrir o olho sobre quaisquer outros juízes: na corrupção, não existe carne de primeira ou de segunda, é tudo filé mignon.
Todos os homens têm direito ao estado de direito democrático, no qual os mandatários políticos eleitos são submissos às leis promulgadas. Acima da lei, pra desrespeitar sigilo de gravações grampeadas, só a prepotência do poder dos sem juízo.