Há dias tento escolher, entre palpitantes assuntos do noticiário, um que inspire a coluna, mas não tenho conseguido escrever uma linha. Ou, bem, alguma consegui, afinal. Talvez porque escrevo em dias que para vocês já serão lembrança, na desvantagem bárbara de desconhecer o essencial em nossas vidas brasileiras: o resultado de uma Copa do Mundo de futebol. E, também, escrevo em dias de muito, muito frio, que a essa altura já terá talvez ido embora, substituído por um veranico de julho. Ou não? Estão festejando a vitória ou consolando-se nas ruas, com quentão ou com cerveja? Alô, futuro, responde, por favor, ganhamos?!
Não adianta, sei que essa máquina do tempo funciona para um lado só. Quem lê pode contextualizar o escrito em um momento já sabido e acontecido. Quem escreve pode apenas especular sobre o instante do leitor. Posso, por exemplo, suspeitar, não mais que isso, que as próximas – para vocês, as últimas – pesquisas divulgadas confirmem um avanço da candidatura Serra, com o Lula perdendo alguns pontos. O tal do risco país, caindo ou subindo junto com o Lula, nos deixará um pouquinho mais assustados, como é o desejo do titio Morgan, que estejamos todos cientes de que quem não vota no Serra não ganha mesada. Também posso apostar que surjam novos escândalos envolvendo candidatos, que isso agora é coisa de todo mês, não é preciso ter bola de cristal pra saber.
Mais difícil de prever, bem mais que o resultado da Copa, é o que essas alianças dos partidos ainda nos reservam pela frente. O caso de Minas Gerais é muito interessante: Lula, unindo-se ao PL, ganhou o apoio do Itamar, do PMDB, que no entanto apóia para governador do estado Aécio Neves, do PSDB – que faz campanha para o Serra. Donde se conclui que no fundo todos se amam e a tal de identidade programática, partidária, é coisa de enrustido fazendo beicinho.
De todo jeito, os discursos já se aproximam tanto que não é mesmo lendo programas de governo ou de partido que vamos conseguir decidir quem é o melhor candidato. Continuo apoiando Lula, embora desteste essa aliança com PL, porque acredito que seja o mais interessado e capaz de mudar alguma coisa, e porque o PT, em especial o daqui do RS, nos evoca boas administrações com o menor número de escândalos. É num passado, no que já foi visto e feito, que estou apostando. Se fosse me guiar pelo discurso de campanha, quase sempre destinado a apagar incêndios e minar rejeições, teria a impressão de estar votando no Armínio Fraga.
O que o Lula pode fazer, se eleito, é conferir um mínimo de decência e autonomia ao Estado brasileiro. O que vai conseguir fazer, é claro, pertence à futurologia e depende de alianças no Congresso que talvez nos levem a pensar no PL com carinho e saudade. Mas é preciso crer que sobrevivam a isso os ideais do velho Lula e do PT, ou não teria nenhum significado. Uma coisa certa em matéria de eleições, ideais e Copa do Mundo é que o vice-campeonato nada vale, e empate simplesmente não é um resultado possível.