Ilustração: Ricardo Machado
Ilustração: Ricardo Machado
Como o senhor também já sabe, fizemos um plebiscito interno no Congresso para escolher o mais íntegro e impoluto entre nós para resgatar a reputação dos políticos, esta classe tão desmoralizada e tão desacreditada, principalmente depois dos últimos escândalos. A escolha foi fácil, foi quase unânime, pois nenhum outro político brasileiro tem a sua reputação de seriedade e honestidade.
O que lhe oferecemos é uma espécie de ditadura branca. O senhor nos governaria, por um período a ser determinado, até que a classe política recuperasse seu bom nome e a população voltasse a confiar nos seus representantes.
As instituições da República continuariam funcionando, não haveria censura ou qualquer outro resquício de uma ditadura real, mas o senhor teria a palavra final – sobre tudo, da política econômica à escalação da seleção.
Sua honradez é notória, mas mesmo assim precisamos sabatiná-lo, antes de nomeá-lo. Uma mera formalidade.
– Pois não.
– O senhor tem conta não declarada na Suíça ou em algum paraíso
fiscal?
– Não.
– E trust?
– Nem sei o que é isso.
– O senhor foi delatado ou está sendo investigado pela Lava Jato?
– Não.
– E sua vida amorosa? Existiu algum caso que possa embaraçá-lo, se vier à tona durante seu mandato?
– Estou casado com a Josefa há 40 anos e nunca olhei para outra mulher.
– Acho que temos o homem ideal para governar o País. Não precisaremos de eleições. O País está cansado de tanta falcatrua e apoiará sua eleição por aclamação. O senhor aceita?
– Aceito.
– Seu salário, por sinal, será o de presidente da República.
– Epa. Não tem algum por fora?