Há preocupações da ala destra da sociedade sobre a iminência de um porvir comunista. Em 1937, Vargas, com o Plano Cohen, alegou que os comunistas tinham planos de tomar o Brasil e implantar uma ditadura marxista. Para nos defender, ele deu um sobre golpe e instalou uma ditadura de viés fascista. Os historiadores provaram que o plano era uma desculpa para que Vargas se mantivesse no poder. Mas quem dá importância aos historiadores?
Em 1961, sob a alegação de que João Goulart seria comunista, a direita tentou derrubá-lo. Não contavam com a resistência do Brizola. Jango reassumiu, ainda que num sistema parlamentarista (ao qual sempre recorre o grupo que perde as eleições), e não se tem notícia de que os comunistas o tenham influenciado. Em 1964, a elite brasileira derrubou Jango. A acusação mantinha-se. Comunista! O motivo real: ele aumentara o salário mínimo e queria aprofundar a reforma agrária.
Em defesa dessa população que seria prejudicada por melhorias, os militares acusaram Jango de tentar implementar uma ditadura proletária no Brasil. Para nosso bem, implantaram uma ditadura militar que matou e fez desaparecer centenas de pessoas.
Agora, vejo alegações pateticamente iguais àquelas. Acusam o PT de tentar transformar o país em uma república comunista. Logo o PT, em cujo governo os bancos enriqueceram e grandes empresas privadas foram beneficiadas pela corrupção de alguns de seus membros. As reformas propostas pelo interino, leia-se golpista, Michel Temer, confirmam: para que a situação dos trabalhadores melhore, não se pode lhes conceder benefícios.
Os comunistas nunca tiveram relevante força no Brasil. Desde sua tardia importação, da já efervescente Europa do início do século 20, até hoje, as ideias comunistas jamais lograram pleno êxito entre a população. Mesmo entre os mais pobres.
Na verdade, nem mesmo a esquerda foi realmente forte no Brasil. A doutrina que teve sucesso aqui entre os pobres foi o trabalhismo, que era de esquerda, mas não necessariamente os trabalhadores faziam essa ligação. O trabalhismo emergiu e manteve-se muito mais pelo carisma dos seus líderes do que pela assimilação de suas ideias. O próprio Vargas, paradoxalmente, é o maior expoente do trabalhismo brasileiro. As vitórias do PT, iniciadas com o Lula, seguem a mesma lógica.
A direita deve bastar-se. Seus argumentos ainda não passam de um antagonismo a um “perigo comunista”.