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Um, Nenhum e Cem Mil, do autor italiano Luigi Pirandello (1867-1936), é seu último romance. Lançado recentemente pela editora Cosac e Naify, faz parte da coleção Prosa do Mundo, que também reedita no Brasil obras de Tolstói, Jacobsen, Pavese e Flaubert. O livro pode servir perfeitamente de pretexto para neófitos ingressarem na arte deste italiano, bem como para os conhecedores de sua obra realizarem uma retomada de seus textos.
Um, Nenhum e Cem Mil levou mais de 10 anos para ser escrito. O foi entre 1916 e 1926, retomando, na forma de romance contemporâneo, situações que já haviam sido exploradas em seus textos para o teatro. Vale lembrar que foi deste período que saíram da pena obras que celebrizaram Pirandello como um dramaturgo de renome internacional. Só para citar algumas: Seis Personagens à Procura de Um Autor, Henrique IV e Cada Um a Seu Modo. Enquanto isso, ele apropriava-se de sua própria criação para a composição de seu romance, condesando as situações absurdas que foram sua marca.
Conforme o crítico e ensaísta Alfredo Bosi, foi Pirandello quem tirou a Literatura Italiana do provincianismo e a lançou na cultura internacional do século XX, colocando-se ombro a ombro com Proust, Joyce e Kafka.
O livro conta a trajetória de Vitangelo Moscarda, o Gengê, uma espécie de herói do avesso, que ao ser informado pela esposa, Dida, a respeito de seu nariz pender para a direita, passa a absorver-se totalmente em conjecturas de ordem filosófica e metafísica a respeito de sua existência. Em função disso, o personagem envolve-se em situações completamente estapafúrdias, colocando sua cidade, Rachieri, em polvorosa.
Mas o próprio Pirandello avisa: “Não sou um autor de farsas, mas um autor de tragédias. E a vida não é uma farsa, é uma tragédia. O aspecto trágico da vida está nessa lei a que o homem é forçado a obedecer, a lei que o obriga a ser um. Cada qual pode ser um, nenhum, cem mil, mas a escolha é um imperativo necessário”.