Marcelo Birck, compositor que durante o ano passado atuou como professor substituto no Instituto de Artes da Ufrgs, admite a dificuldade na divulgação das obras de autores contemporâneos como ele. “É um público restrito. A divulgação que se tem atualmente não tem muito impacto.” Birck acredita que a música criada por autores contemporâneos poderia ter mais espaço em canais como rádios e TVs estatais. “Sei que uma das metas do Bebeto Alves, novo responsável pela Coordenação de Música no Estado, é fazer com que a Cultura FM toque mais autores gaúchos em sua programação. Espero que isso se estenda e trascenda o território da música popular.”
Preparando um novo trabalho para ser lançado em maio com um espetáculo no Instituto Goethe, Birck diz que trata-se de um grupo que lida com música eletro-acústica. “Não é um grupo no sentido de formação musical com vários integrantes. São pessoas que desenvolvem trabalhos semelhantes e se uniram para tentar divulgar essa produção de forma mais elaborada.” Bacharel em composição pelo Instituto de Artes da Ufrgs, Birck diz que “não dá para falar num padrão de composição hoje em dia, são tendências distintas”.
Sobre o IA com centro formador, Birck diz que já houve uma mudança considerável. “Já foi considerado um celeiro de múmias, mas há muito tempo deixou de sê-lo embora muita gente ainda não tenha se dado conta de quanto o IA se tornou um centro irradiador de uma nova música.” Birck atribui essa mudança a uma nova geração que ingressou no instituto e que revela um forte vínculo entre o pop e o erudito. “É o caso de grupos em atuação como Relógios de Frederico ou Ex-Machina”, cita. O trabalho eletro-acústico que ele e seus parceiros mostrarão este ano não é definido como um movimento. “Não no sentido clássico, de ter uma palavra de ordem. Mas é um movimento no sentido de pessoas mobilizadas procurando capitalizar uma história.”
Mesmo com apresentações como a que Birck e seus parceiros preparam, a nova música ainda carece de espaços. Ainda que a OSPA procure apoiar os novos compositores, tocando suas obras nos concertos das terças-feiras, eles não se fazem presentes em outras ocasiões em que a orquestra se apresenta, como na turnê que deverá rodar boa parte do interior do Estado este ano. “O interior é um caso à parte”, justifica Tiago Flores. “Há locais onde vamos tocar que receberão a visita de uma orquestra sinfônica pela primeira vez em sua existência. Daí a necessidade de um repertório que seja mais palatável.”
Mas se a justificativa de Flores é convincente, há casos em que isso não acontece. “Grandes orquestras internacionais vêm a São Paulo anualmente e apresentam programas que não são nada ousados, abrangendo normalmente obras conhecidas de autores do século XIX”, diz Amaral Vieira. Na busca de novas audiências, os novos autores procuram driblar a falta de interesse do público por obras contemporâneas criando obras mais curtas.
“O público contemporâneo não tem mais tempo para ouvir grandes obras em termos de duração. Na Viena clássica de Mozart do século XVIII, não só se tocava e ouvia a música contemporânea como se apreciava muita música, os saraus varavam tardes e noites”, explica Tiago Flores.
Segundo o maestro, hoje em dia o público de concertos não tem a úsica como uma das necessidades básicas em sua vida. Amaral Vieira concorda. “Quando o sujeito chega à sala de concerto às nove horas da noite, atualmente, aquela já é provavelmente sua décima oitava atividade do dia.”
O compositor paulista acredita que um dos caminhos para a nova música é a união entre seus criadores, mas justamente aí “reside o grande drama”. Para ele, a fragmentação de estilos, as críticas mútuas entre os autores contemporâneos pertencentes a diferentes tendências ou grupo e até mesmo uma postura petulante de alguns criadores frente ao público, em nada contribuem para um reconhecimento maior da música que está sendo produzida neste momento. Assim tornam-se raras as manifestações que obtêm sucesso de público ou de crítica ou de ambos. “São escassas as exceções de um Henricki Gorecki, o autor polonês que vendeu milhões de discos no mundo todo há alguns anos com sua Sinfonia nº 3”, lembra Vieira.