Um estudo realizado pela Duke University, dos Estados Unidos quer comprovar que a oração tem poder de cura. Em Harvard, estudantes de medicina aprendem com os padres a melhor forma de abordar um paciente. A imagem do médico ateu dá espaço a uma figura que reza e acredita nos poderes divinos. Em Porto Alegre, um famoso cardiologista revela que faz orações e pede proteção a Deus sempre que precisa realizar uma cirurgia complicada. E um médico que abandonou a medicina tradicional para curar através da regressão a vidas passadas acredita que medicina, psicologia e psiquiatria oficiais, são heranças da Inquisição.
O clima é tenso na sala de cirurgia: um paci ente de 85 anos acabou de sofrer um enfarte e pode morrer nos próximos instantes. Amparado pelos equipamentos mais modernos ele é monitorado por uma máquina de raios-X e tem imagens do seu coração projetadas em vídeo. A sala ecoa bips e flashes dos instrumentos da tecnologia avançada. Mitchel Krucoff, cardiologista do Centro Médico da Duke University, na Carolina do Norte, Estados Unidos, introduz um cateter no coração do paciente até uma artéria obstruída. A angioplastia, como é conhecida a técnica no meio médico, já é rotina para o Krucoff, que apesar disso sabe que não existe cirurgia sem riscos.
Por este motivo, contrariando todos os preceitos de que ciência e religião não se misturam, o médico reza e pede a proteção de Deus para que a paciente consiga sobreviver. Krucoff diz que costuma orar num local silencioso, mas que desta vez, devido ao estado de saúde do paciente, precisou fazê-lo na própria sala de cirurgia. Depois de alguns momentos de reflexão e silêncio ele abre os olhos e só então se considera pronto para assumir a responsabilidade sobre a vida de uma pessoa.
Mitchell Krucoff acredita no poder da oração e crê que rezar, mesmo à distância, pode ajudar muito na recuperação dos seus pacientes. Por isso ele vem desenvolvendo um estudo no qual 14 grupos rezam pelas pessoas que vão se submeter à angioplastias internadas em cinco hospitais americanos. No próximo ano, quando a pesquisa terminar, a saúde dos pacientes que receberam orações será comparada a de um outro grupo que não recebeu as preces. “Pode ser uma doideira, mas há bem pouco tempo, se você sugerisse que tomar aspirina poderia prevenir enfarte, também iriam dizer que você era maluco”, defende-se o médico.
A atitude do cardiologista já pode ser considerada uma tendência entre os médicos americanos. Há cerca de dois anos foi introduzido no currículo da faculdade de medicina da Universidade de Harvard, um estágio obrigatório realizado entre os residentes e os capelães. Os cientistas perceberam que a intervenção dos religiosos fazia com que os pacientes tivessem mais tranqüilidade para expor seus problemas, recebendo a oração e se preparando com mais serenidade para procedimentos cirúrgicos. A idéia era fazer com que os estudantes, a exemplo do que acontece com os professores, circulassem pelos quartos dos doentes acompanhados orientados pelos capelães de Harvard.
Aqui em Porto Alegre, a imagem do médico agnóstico também vem se dissolvendo, dando espaço à figura do cientista que ora e acredita no poder divino. O cardiologista e diretor do Hospital São Francisco da Santa Casa, Fernando Lucchese, autor do best seller Pílulas Para Uma Vida Melhor (Editora L&PM) revela que toda a vez que realiza uma cirurgia, repete um ritual de fé e oração. “Quando tenho uma cirurgia complexa, eu passo na Capela Senhor dos Passos, aqui do hospital, e digo ao Senhor: eu sou só instrumento, faz a tua vontade. Na verdade eu sou um instrumento nas mãos de Deus e digo isso para o paciente. Ele vai nos guiar. Tenha fé. Tudo vai dar certo.”
Segundo ele, a espiritualidade dentro da medicina vem crescendo de forma importante. “Hoje a fé deixou de ser uma coisa etérea, para ser uma coisa concreta em termos de implantação da espiritualidade. A Santa Casa, por exemplo, tem às quintas-feiras, uma hora de meditação, com a presença de diversos médicos que se reúnem para refletir sobre a sua espiritualidade”, conta Lucchese. Na opinião dele, o cientista não precisa ser agnóstico para demonstrar a sua imparcialidade diante da ciência. Ele precisa ter sentimento como qualquer homem, para poder balizar bem sua descoberta ou projeto de pesquisa.
Para o cardiologista, fundador da Associação dos Médicos Católicos de Porto Alegre, o conceito do médico ateu é passado, “pois todos sabem que ajudam muito mais o paciente se ele olha para nós e vê além de tudo um modelo de fé”. Fernando Lucchese acredita que o fato de dividir responsabilidade do ato médico com a divindade faz com que os pacientes tenham maior confiança. “Se eu disser: ‘eu vou fazer tudo o que posso para te restituir a saúde e nisso vou ser guiado por Deus, e acredito Nele’, o doente tem uma reação bem mais positiva frente aos seus problemas.”
Segundo o Frei Irineu Costella, da Paróquia de Santo Antônio do Partenon, é muito interessante que essa tendência apareça num momento em que a ciência está tão avançada. “É um reconhecimento que não somos onipotentes ou oniscientes, que há Outro que pode dar a sua contribuição”. Para ele o alívio psicológico proporcionado pela fé e pela oração também é importante. “Alivia, porque o médico sabe que a última palavra não é dele. O pedido de luz tranqüiliza e quando a pessoa trabalha com serenidade é muito positivo e contribui com a sua auto-confiança e segurança na cirurgia que está realizando”, diz.
Costella acredita que os médicos estão mudando o seu modo de pensar a religião, pois se dão conta de que em certo momento eles são derrotados. “A morte é inevitável. O médico não é o senhor da vida. E a fé cresce a medida que a gente se dá conta das nossas limitações.”
Segundo Fernando Lucchese, neste último século, a Igreja tratou de se cercar de cientistas, com a função de identificar milagres. “Existe uma Academia de Ciência do Vaticano, que tem uma responsabilidade imensa pois não é fácil um milagre ser considerado como tal. Esta Academia foi a primeira instituição religiosa que definiu que os critérios de morte cerebral eram suficientes para indicar a doação de órgãos como mecanismo de solidariedade e crescimento espiritual”, completa.
O diretor do Hospital São Francisco foi campeão de vendas na 46ª Feira do Livro de Porto Alegre com Pílulas Para Uma Vida Melhor, com cerca de 10 mil exemplares, superando até mesmo o “mago” Paulo Coelho. “As pessoas estão em busca da qualidade de vida, e num dos capítulos eu as aconselho que rezem e pratiquem uma religião, pois viverão melhor”.
As imagens de Jesus Cristo e de Nossa Senhora de Lourdes espalhadas pelo consultório do dermatologista Sérgio Luiz Castro Ribeiro demonstram que ali o trabalho do médico não é guiado apenas pelos conhecimentos científicos, mas pela fé. “Eu tenho a Bíblia, o rosário e um crucifixo e sempre faço uma oração antes de fazer alguma intervenção cirúrgica nos meus pacientes”, revela Ribeiro. Ele conta que a tradição cristã já vem de família e que tem trabalhado intensamente para multiplicar a palavra de Deus. “Participo, junto com a minha esposa, do Encontro de Casais com Cristo (ECC) e também dou palestras para jovens de CLJ (Curso de Liderança Juvenil). Além disso estou fazendo um curso de teologia na PUC para conhecer melhor o tema.” O dermatologista acredita que a fé permite uma qualidade de vida muito melhor. “Ela dá mais tranqüilidade.” Sobre questões polêmicas como a concepção pelo Espírito Santo e a criação do homem, que durante muito tempo foram motivo de discórdia entre os adeptos da religião católica e os cientistas, Ribeiro é categórico. “Eu acredito que Maria engravidou por obra do Espírito Santo. A ciência não tem como provar se é verdade ou não, e quem tem fé não precisa desta prova.” Já a história de Adão e Eva ele classifica como simbólica. “A árvore da felicidade, a serpente, a costela, eram símbolos para que os povos pudessem entender as diferenças entre fazer o bem e o mal.”
O ser humano de corpo e alma. É desta forma que muitos médicos têm tratado os seus pacientes, buscando a cura através de tratamentos homeopáticos e da solução de problemas psíquicos com a utilização da espiritualidade. “A ciência esteve por muito tempo atrelada ao materialismo, uma herança terrível que começa a se desmanchar pelo afloramento da visão energética do ser humano e pelo desenvolvimento das Medicinas Vibracionais, que extrapolam nossa “casca”, endereçando-se para a verdadeira origem das doenças: os pensamentos, os sentimentos e as características inferiores de personalidade. É possível afirmar inclusive que a medicina, a psicologia e a psiquiatria oficiais são obras da Inquisição. A primeira lida apenas com o corpo físico, negando nossa estrutura energética, a segunda aborda essa vida apenas, negando a reencarnação, e a terceira desconsidera tudo que não vê, que não toca, que não está no cérebro”, explica o médico e psicoterapeuta reencarnacionista, Mauro Kwitko, que já foi compositor e teve uma canção sua, Mal Necessário, transformada em sucesso nacional pelo cantor Ney Matogrosso no final dos anos 70.
O terapeuta, que realiza um trabalho baseado na homeopatia e na regressão a vidas passadas, considera significativo o poder da oração. “Se houver sinceridade e merecimento em quem a faz, ou seja, se a pessoa que ora estiver realmente sintonizada com seres superiores e for uma pessoa de bem, correta, íntegra. A oração apenas ‘de boca’, sem uma postura existencial condizente com um ser verdadeiramente religioso, uma repetição mecânica sem a participação do coração, não tem força para operar ‘milagres’. Mas quando o mundo espiritual atende o chamamento de alguém e vem em seu socorro, o resultado pode ser curas maravilhosas e mudanças extraordinárias em certas situações”, diz.
Na opinião de Kwitko, religião e ciência são a mesma coisa. “Até hoje elas foram colocadas em pólos opostos por dogmas religiosos antiquados e retrógrados. A Física moderna aproxima-se velozmente da religião do futuro e, em breve, explicará tudo que precisamos saber a respeito de nós mesmos e do universo que nos cerca.” Kwitko diz que, durante muito tempo, a religião, devido aos dogmas e crenças de que não deveríamos investigar os fenômenos, permaneceu repleta de mistérios, que agora começam a ser desvendados. “Através da Transcomunicação Instrumental e através dos relatos das pessoas em regressão, conscientes, projetadas”, explica. E diz que ciência e religião do futuro caminharão juntas, unidas, em prol do homem do novo milênio. “As religiões que se mantiverem obstinadamente negando as evidências e as comprovações científicas, desaparecerão. O futuro bate à porta e a investigação do ‘invisível’ é a ciência do amanhã.”
No seu trabalho, Kwitko adota a técnica de regressão principalmente para casos de fobias, pânico, depressões, sentimento de abandono, de rejeição, sentimento de inferioridade, raiva muito intensa, em casos de asma desde a infância e dores refratárias a tratamentos, entre outros. O terapeuta comenta que já realizou o processo em cerca de 700 pessoas, sendo que cada uma conta três, quatro ou mais encarnações passadas, e aproximadamente 80% delas vivenciam o plano astral, encontram mestres, guias, parentes desencarnados e relatam vivências intrauterinas. Ele é o criador da escola de psicoterapia reencarnacionista, uma nova psicologia que analisa a finalidade e o aproveiamento da encarnação. “É uma psicologia que lida com a evolução espiritual. É a verdadeira continuação do trabalho do Dr. Freud, que vislumbrou uma frestinha no inconsciente. Estamos agora abrindo realmente a porta. Estou há alguns anos ministrando curso de formação em Psicoterapia Reencarnacionista e Terapia de Regressão e curso de formação em Terapia com Florais, de base reencarnacionista, já tendo formado centenas de terapeutas”, conta.
Kwitko não se diz espírita, e sim reencarnacionista. “Assim me sinto mais livre para desenvolver minhas pesquisas sobre o inconsciente, as encarnações passadas, o período pós-morte (do corpo físico), o período intra-uterino, o Karma”. Para ele, a religião espírita é um dos caminhos que levam para a ciência do futuro, que a Física quântica já anuncia há um século. “Há 500 anos, o homem descobriu outros continentes, agora irá descobrir vida em outros planetas e em outros planos, o que o Espiritismo já antevê há 150 anos”, completa.