O Fórum Mundial Social que Porto Alegre sediará entre 25 e 30 de janeiro próximo deve ser o primeiro de uma série de encontros anuais em busca de alternativas às políticas neoliberais enunciadas pelos países que concentram o poderio econômico no mundo. Justamente para deixar clara essa posição crítica, o FSM acontecerá paralelamente ao Fórum Econômico Mundial, que se realizará em Davos, na Suíça, na mesma época. Fundação suiça que funciona como consultora da ONU, o Fórum Econômico Mundial, na verdade, vem cumprindo o papel de confirmar o domínio das grande potências econômicas no planeta. A idéia do Forum Mundial Social, um evento que deverá reunir representantes de mais de 450 entidades civis, não surgiu somente em oposição ao encontro dos poderosos em Davos.
O ruído gerado pelas manifestações ocorridas durante a reunião da Organização Mundial do Comércio no final de 1999, em Seattle, Estados Unidos, e das recentes reações às políticas do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, em Washington, serviu de estopim para o encontro que acabou tendo Porto Alegre escolhida como a sede da primeira reunião. A capital gaúcha foi escolhida pelos organizadores por sua tradição na resistência a dominações mercadológicas e regimes políticos ditatoriais. Mais recentemente, a cidade se notabilizou como geradora de forte movimentos que vão da defesa da ecologia à questão dos trabalhadores sem-terra. Reunindo personalidades de renome mundial nas mais diversas áreas, o Fórum Mundial Social pretende se tornar um pólo difusor, para o resto do planeta, de estudos, sugestões e alternativas para os modelos dominantes atualmente ditados pela nações mais favorecidas economicamente.
Diversas personalidades já confirmaram suas presenças na primeira edição do Fórum Mundial Social. Do Uruguai virão o escritor Eduardo Galeano, autor de As Veias Abertas da América Latina, e o presidente da Frente Ampla uruguaia Tabaré Vasquez. A presidente do movimento argentino Mães da Plaza de Mayo Nora de Cortiñas, que já esteve em Porto Alegre quando do lançamento do Fórum, em setembro, retorna em janeiro para participar dos debates. Junto com ela chegam também o fotógrafo Sebastião Salgado, a líder do movimento estudantil indonésio Dita Sari, o economista francês François Chesnais, o dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, José Pedro Stédile, o arquiteto Oscar Niemeyer, o teólogo Leonardo Boff, e o presidente de honra do PT, Luiz Inácio Lula da Silva. Unidos, lideranças políticas, dirigentes sindicais e experts de diversas áreas deverão debater e sugerir alternativas ao atual massacrante processo de globalização econômica. A globalização contemporânea, apresentada aos olhos do público sob a carapuça hipócrita de expansão do “livre comércio”, escamoteia o fato de que, na verdade, grande parte do comércio mundial é controlada, de forma centralizada, através de contrato entre grandes empresas.
O encontro de representantes de diversos países em Porto Alegre, no final de janeiro, significa a oportunidade inédita para a reunião de forças populares dos mais diversos setores de países pobres e ricos em busca de alternativas ao modelo econômico que tem aumentado seu domínio nas economias de todo o planeta desde o final da Segunda Guerra. A primeira fase de “globalização” da economia estendeu-se até o início da década de 70, com a regulação das taxas de câmbio e o controle do movimento de capital. A fase posterior, seguindo-se ao que os economistas batizaram de “anos dourados”, marca o desmantelamento do modelo até então aplicado e o incremento das chamadas políticas neo-liberais através de ajuste estrutural e reforma segundo os mandamentos de Washington. Repensar esse atual modelo econômico dominante e buscar alternativas a um sistema econômico injusto e desagregador em termos sociais será a meta básica do grande encontro de Porto Alegre. As mais de 450 entidades que já confirmaram presença no evento são ONGs, movimentos sociais, entidades sindicais, redes e outras organizações representando pelo menos 77 países dos cinco continentes.