A morte do Aloysio Biondi foi uma baixa na resistência ao Pensamento Único. Já são poucos na barricada e alguns ainda nos morrem!
Os textos de Biondi eram desafios constantes aos leigos em economia, não porque fossem obscuros ou técnicos demais – pelo contrário, eram límpidos e admiravelmente bem escritos –, mas porque aprofundavam o grande mistério: como os mesmos dados da mesma realidade podem mudar tão radicalmente de significado de acordo com quem os analisa? Biondi e os outros, poucos, apóstatas do PU descrevem um desastre em andamento onde o PU insiste que há um jardim germinando. Usando os mesmos números.
Se não é um problema de visão conveniente (só enxergar o que queremos ver), de filosofia (só enxergar o que não nos desmente) ou de caráter (só enxergar o que nos encomendaram), a diferença de interpretações é um mistério. Culpa da natureza da matéria Economia, que não é intuição disfarçada por um jargão mas também não é uma ciência exata. Os leigos não entendem como pode haver escolas antagônicas de análise econômica, como se pudesse haver maneiras opostas de se somar 2 e 2. Entendem menos ainda quando a análise diz uma coisa e os fatos à sua volta dizem outra, e as interpretações mentirosas é que prevalecem e determinam a “verdade” indiscutível do dia, como no Brasil. Biondi era um craque em discutir verdades entre aspas.
No fim, o mistério tem a ver com uma história que eu gosto de repetir, a do ator que errou a entonação. Um figurante cuja única participação na peça era entrar em cena durante uma bacanal, jogar as mãos para o alto, escandalizado, e dizer “Mas isto é Bizâncio!” Um dia o ator bebeu demais, entrou em cena na hora certa e disse a sua fala, “Mas isto é Bizâncio!” – esfregando as mãos. Enfim, que isto aqui é uma bacanal todos estamos de acordo, mas muitos estão esfregando as mãos porque não querem outra coisa. Biondi era dos poucos que diziam que estamos em Bizâncio no pior sentido.