MOVIMENTO

CUT cria entidade nacional de metalúrgicos

Publicado em 23 de novembro de 1999

Os metalúrgicos ligados à Central Única dos Trabalhadores estão dando o primeiro passo para a formação de uma entidade única, programando para março do ano 2000 a criação do Sindicato Nacional dos Metalúrgicos da CUT. A nova entidade terá comitês sindicais por empresa até à sua instância nacional, articulado ao desenvolvimento de atividades como negociação coletiva e representação jurídica.

Esse tipo de organização -baseada na liberdade e na autonomia sindicais – está prevista pela Convenção 87 da OIT (Organização Internacional do Trabalho), nunca ratificada pelo Brasil. Segundo Marco Maia, a organização atual dos sindicatos brasileiros – onde apenas uma entidade pode representar uma categoria – não permite o enfrentamento de empresas cada vez mais concentradas e, por outro lado, globalizadas. “Da forma como estamos organizados, não vamos conseguir nos contrapor à globalização”, destaca.

O Festival de Paralisações, realizado alternadamente por estado às quintas-feiras nas empresas montadoras e fábricas de auto-peças, é o primeiro passo concreto dado pelos metalúrgicos do setor automotivo para uma organização de caráter nacional. Organizado pela CUT e Força Sindical, o calendário de greves promete se manter até conseguir unificação salarial, jornada de trabalho e legislação mínima para a categoria em âmbito nacional.

As montadoras pagam um salário médio de R$ 1,5 mil em São Paulo, mas as novas unidades que estão se instalando em outros estados, com produtividade maior e subsidiadas, estão oferecendo salário médio de R$ 450. No Rio Grande do Sul, o Festival de Paralisações ocorreu dia 28 de outubro abrangendo Porto Alegre (Albarus e DHB) Caxias do Sul (Marcopolo) e Erechim (Comil). A CGT aposta num fórmula alternativa, baseada em secretários nacionais por ramo de atividade. Segundo Antônio Carlos dos Reis, a complexa realidade de trabalho do país dificulta a criação de um sindicato que represente os trabalhadores de norte a sul. “Este secretariado tem condições de tratar das grandes questões que envolvem os trabalhadores respeitando, ao mesmo tempo, os procedimentos regionais de cada estado”, defende.

Formação estratégica

As principais centrais sindicais do país defendem uma mudança no perfil do sindicalista dos dias atuais. “Não podemos só empunhar bandeiras e sair às ruas gritando palavras de ordem. Agora temos de ser especialistas em direito, negociações, articulações, em política econômica nacional e internacional. Enfim, estrategistas”, define o presidente da CGT, Antonio Carlos dos Reis.

Para a CUT, a formação também é considerada “um novo viés” na organização sindical. “Além da preparação dos sindicalistas, temos vários programas com trabalhadores e desempregados”, explica a Coordenadora da Escola Sul da CUT, Maria Eunice Wolff. Um curso pioneiro para mulheres chefes de família iniciou em Canoas, em outubro, com 240 participantes. É dividido em duas áreas: promotoras legais e saúde comunitária. O curso aborda os direitos da mulher em todas as esferas, com o objetivo de criar núcleos de orientação. “Com o desemprego, muitas vezes as mulheres acabam chefes de família porque têm mais facilidades para ajeitar um bico, fazendo faxina, bordando, cuidando de crianças”, pondera a coordenadora. De maneira geral, segundo ela, o trabalhador sabe o direito que tem. “Mas a maior dificuldade é o acesso a este direito”.

Numa segunda etapa do curso há também aulas de gestão e planejamento, visando a administração do orçamento doméstico e até de um negócio próprio. Maria Eunice diz que a mulher começa a entender o processo econômico e participar em reivindicações essenciais, como implantação da delegacia da mulher, albergues para vítimas de violência, cooperativas e associações autogestionárias, postos de saúde, cumprimento das atividades do SUS e do programa de atendimento integral à saúde da mulher.

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