É de praxe que as edições do Extra Classe tratem de assuntos polêmicos e relevantes, mas nem por isso deixamos de abordá-los com a sensação de que podem provocar uma boa leitura. No caso desta edição, o tema da violência sexual contra crianças e adolescentes nem de longe pode proporcionar algum prazer. A reportagem da repórter Dóris Fialcoff é crua e relata casos de pessoas indefesas contra agressores que quase sempre estão dentro de casa, são íntimos, praticamente inofensivos.
Não é o que acontece de verdade. De acordo com os relatos obtidos pela repórter, as agressões são sempre covardes e revestidas de crueldade. Cumprem satisfazer instintos quase primitivos e estão cercadas de problemas psicológicos bastante sérios. Não há dúvida de que devem ser tratadas como doença, mas também com rigor.
Nos últimos anos, cresceram em 33% os registros de violência contra crianças e adolescentes no Conselho Tutelar do estado. Para cada agressão registrada, os especialistas estimam que fiquem sem denúncia cerca de outras três. É muito para uma população que ainda nem sabe o que fará da vida, que caminhos adotará para ser feliz e, pior, como se comportará diante de seus desejos. Como dizem os especialistas, o agredido de hoje tem muita chance de ser o agressor de amanhã.
Com rigor também devem ser tratadas as agressões, cada vez mais freqüentes, contra professores que exercem sua autoridade de mestres. Em algumas escolas particulares do estado, a violência é tratada com uma perigosa indulgência pelas direções das escolas, que enxergam nos alunos – e principalmente nos seus pais -, que pagam e sustentam a escola – os clientes de uma tendência cada vez disseminada na sociedade de transformar tudo em mercado.
Em outra reportagem, o Extra Classe visita uma das reservas indígenas mais conhecidas do Brasil. O Parque Nacional do Xingu abriga 14 etnias diferentes de indígenas, cada uma com sua cultura e suas peculiaridades. Lá também há mercado, e cada vez mais pressiona os índios a retirar de suas terras e de suas reservas as riquezas necessárias para manter um padrão de vida recheado de conforto e quinquilharias da vida moderna. Não é incomum encontrar um índio portando uma poderosa filmadora em vídeo, para registrar as cenas de uma cultura que resiste, apesar do cerco.