GERAL

Baixar juros para recuperar o Brasil

Henrique Fontana / Publicado em 25 de junho de 1999

A situação é grave. Estamos na fase em que a euforia do mercado financeiro globalizado está sendo tragada pelas constantes crises financeiras e onde o capital busca modalidades de aplicação mais seguras. O governo brasileiro divulgou com empenho a falsa notícia de que a crise não atingiria o Brasil, que tinha uma moeda “forte” e uma economia “estabilizada”.

Quando eclodiu a crise mexicana, em 1994, os governantes diziam que o problema seria contornado em um ano. No entanto, o México, que seguiu fielmente as orientações do FMI (Fundo Monetário Internacional), quebrou. Em agosto de 1997 veio a crise asiática, com efeitos ainda mais devastadores. Menos de um ano depois, a economia russa ia à bancarrota.

Portanto, a realidade contrapõe o discursos sofista dos porta-vozes do governo. Existe um componente cíclico na dinâmica da globalização financeira – as crises se sucedem e vão-se tornando cada vez mais intensas e difíceis de contornar. A liberalização do mercado financeiro é um foco gerador de incertezas capazes de abalar as economias de países periféricos.

E o Brasil, que adotou o receituário neoliberal, tornando-se dependente desta lógica, está agora no olho do furacão, sofrendo todas as conseqüências de uma política equivocada e suicida.

O real foi concebido a partir de três mecanismos explosivos para qualquer economia: a manutenção de uma taxa de câmbio sobrevalorizada artificialmente, a abertura desenfreada ao comércio internacional e a fixação de taxas de juros estratosféricas. Através desse tripé, o governo queria conter a elevação dos preços, a demanda interna e atrair capital externo para financiar os rombos que certamente viriam.

A balança comercial brasileira, que tinha um superávit de US$ 10 bilhões em 1994, passou a um déficit de US$ 5,3 bilhões em 1998. O estoque da dívida interna, que era de R$ 61 bilhões, já passa de R$ 320 bilhões e o presidente Fernando Henrique Cardoso, eterno otimista, dizia que tudo estava sob controle (pelo menos até sua reeleição). Os gastos do setor público com juros e correção sobre dívida, antes estimados em 7,3% do Produto Interno Bruto (PIB), deverão chegar a 13,44% segundo estimativas do Departamento Econômico do Banco Central (BC). É outro recorde que levanta dúvidas sobre a capacidade do país em honrar suas obrigações a curto prazo.

Diante disso, não é difícil entender porque a agência de avaliação de riscos Moody’s rebaixou o Brasil para uma classificação igual à do Paraguai, Nicarágua e Venezuela e porque os investidores estrangeiros estão resgatando suas aplicações no Brasil: não há confiança de que a economia brasileira consiga ir muito longe com indicadores econômicos tão deteriorados.

O trágico é que o governo adota medidas que aprofundam a submissão e dependência brasileira ao capital especulativo – aumenta as taxas de juros para níveis lunares esperando com isso atrair esse capital. Dessa forma, fica mantida a velha e conhecida tática de ampliar artificialmente os ganhos da especulação às custas de maior desemprego. O governo aplicou sua política econômica como se fosse o remédio para todos os males, mas apenas levou a uma crise ainda mais grave. Agora, tenta nos convencer que para sairmos dela é pre-ciso dobrar a dose do mesmo remédio.

Retornamos à nossa triste posição de campeões mundiais da usura, praticando uma taxa de juros real de 23% ao ano. É uma patamar que não pode se sustentar em médio prazo, sob pena de completa destruição do setor produtivo nacional. O que faz crescer sem parar o nosso déficit público é a elevação irracional da taxa de juros, que só beneficia os capitais especulativos. Cada 1% que sobe na taxa de juros significa mais R$ 2 bilhões de gastos anuais para o Brasil e menos recursos para políticas sociais.

Para alterar esse processo econômico perverso, não há outra alternativa a não ser romper com a lógica deste modelo econômico, tão incentivado pelo FMI.

*Henrique Fontana é médico e deputado federal pelo PT gaúcho

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