Malan é o próximo alvo da CPI
Ministro da fazenda deve ser convocado a depor no final deste mês, enquanto líderes do governo discutem a oportunidade de ter uma autoridade de primeiro escalão como testemunha de uma investigação. Em 15 dias de trabalho, contradições e mentiras foram dominantes na rotina de mais uma Comissão Parlamentar de Inquérito que ameaça abalar os alicerces da República
No que diz respeito a prender os responsáveis por malversação do dinheiro público, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado que apura irregularidades no sistema financeiro ainda não tem respostas a apresentar à sociedade. Com 15 dias de trabalho, quase uma dezena de depoimentos, o que os senadores da CPI puderam concluir é que há muita contradição entre os depoimentos das autoridades do Banco Central quanto e daqueles que estão envolvidos com os bancos Marka e FonteCindam.
O próprio relator da CPI, senador João Alberto, (PMDB-MA), dizia – no fim de mais uma semana de muitos debates contraditórios, depoimentos e poucas provas – que ainda não é possível concluir pela responsabilidade do Banco Central, ou seus dirigentes, no socorro financeiro aos bancos Marka e FonteCindam. Nos dias 12, 13 e 14 de janeiro, o país mergulhou na crise cambial enquanto muitas instituições financeiras ganhavam – ou perdiam – dinheiro nas apostas do mercado.
Também não é possível ainda, segundo o relator, concluir se o banqueiro Salvatore Cacciola, os economistas Rubem Novaes, Luis Augusto Bragança e Sérgio Bragança e o ex-presidente do Banco Central, Francisco Lopes, formavam uma grande confraria de convivas dispostos a se ajudarem mutuamente no que diz respeito a ganhar milhões em grandes lances por conta de informações privilegiadas. “Não posso prejulgar ninguém porque a Justiça poderá anular o meu relatório no futuro. Mas que há indícios de irregularidades em toda a parte, isso é inegável”, explica João Alberto.
A impressão do relator é de que, com o resultado das CPIs de PC Farias e Orçamento, as pessoas envolvidas com ações irregulares – principalmente com dinheiro público – estão se cuidando mais ao eliminar provas. Cheques e telefonemas, por exemplo, não são mais artigos abundantes em uma Comissão Parlamentarde Inquérito. Diante de tanta contradição, a CPI já se prepara para promover algumas acareações entre aqueles que depuseram até aqui.
Na primeira semana de maio, a CPI receberá os primeiros extratos bancários e de contas telefônicas dos principais envolvidos no caso. O relator acha que, a partir daí, será possível desvendar o emaranhado de irregularidades encoberto até aqui pelo silêncio das testemunhas ou de depoimentos no mínimo confusos. “Isso para não dizer mentirosos”, avança o senador.
“O senhor Rubem Novaes disse que trabalha informalmente para o senhor Cacciola. Então a CPI quer ver o cheque que ele recebeu por este trabalho. Quem sabe através deste cheque possamos chegar a um fato novo?”, estima João Alberto.
O governo também está contribuindo – e muito – para enrolar ainda mais o novelo das contradições da CPI nos primeiros 15 dias de trabalho. A informação de que o presidente Fernando Henrique Cardoso teria almoçado com o então presidente do Banco Central, Francisco Lopes, no dia em que autorizara a operação de socorro aos bancos Marka e FonteCindam está intrigando o relator João Alberto. “A informação que temos é de que eles almoçaram naquele dia, mas não se tratou do assunto. É estranho”, constata.
Há também uma pressão muito grande da oposição para que o ministro da Fazenda, Pedro Malan, vá à CPI explicar o que Chico Lopes se negou a informar e, como desfecho, acabou preso. Para o governo, o ministro não tem o que esconder, mas sua presença no comissão de inquérito, ainda que como testemunha, não é considerada boa para a imagem do país. Outros que estão na mira da CPI são os ministros Clóvis Carvalho, da Casa Civil, e Eduardo Graef, secretário particular do presidente.
“O ministro Pedro Malan precisa explicar os motivos da demissão de Chico Lopes da Presidência do Banco Central”, reclama o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), autor de um requerimento convocando o ministro da Fazenda. Politicamente, ainda não é o momento de apresentá-lo. Suplicy espera que em mais 15 ou 20 dias de trabalho os próprios governistas cheguem à conclusão da necessidade de ouvir Malan, que ao lado do ministro do Orçamento, Pedro Parente, já se colocou à disposição da CPI. “Convocar agora para quê? Para ele vir nos fazer uma conferência? A convocação do ministro só teria o efeito de estardalhaço, isso porse tratar de uma autoridade importante”, disse o relator.
O depoimento mais esperado, no entanto, não é o do ministro da Fazenda, Pedro Malan, mas o do ex-presidente do Banco Marka Salvatore Cacciola. Se tiverem espírito público, outros figurões também poderão ajudar nas investigações até o fim dos trabalhos: os ex-presidentes do BC Gustavo Loyola e Gustavo Franco também estão na lista dos que serão convocados, mas a CPI os tem como trunfos. Francisco Lopes, ainda que protegido pela liminar do Supremo Tribunal Federal (STF) que lhe garante o direito de ficar calado, também poderá esclarecer muita coisa. ACPI, por sua vez, tem muitos documentos a serem analisados. “A CPI avançou. Os documentos são contraditórios, os depoimentos confusos. Mas ainda temos muito o que investigar e vamos acabar dando uma resposta à sociedade”, diz o relator.