E a Ford, hein?
Crescem os indícios de que a Ford já tinha decidido abandonar o Rio Grande do Sul antes mesmo de começar a negociar com o governo do estado uma saída para o cumprimento do contrato. Na quarta-feira, 28 de abril, o diário americano Finacial Times exibiu em manchete uma matéria informando que a montadora desistira do projeto Amazon. A matéria foi produzida no dia anterior, muitas horas antes do comunicado oficial da montadora, que só foi oficializado aos gaúchos no início da noite do mesmo dia 28.
Má vontade
Outro fato. O porta-voz da empresa nas negociações com o estado, Waldemar Mussi, sempre se comportou de forma agressiva e reticente nas conversas com o governo. Sério, estava sempre apressado e falava pouco, quase nada, com a imprensa ao final de cada conversa. E sempre na direção oposta ao discurso do secretário Zeca Moraes, do Desenvolvimento. Ao contrário do negociador da GM, Luiz Moan, que sempre concedeu entrevistas ao lado do secretário e em tom amistoso. O poder de barganha de Mussi, agora se sabe, era limitadíssimo.
Com o dinheiro destinado às obras de uso exclusivo da Ford, o estado pode construir 115.564 salas de aula ou 14.230 casas populares
E agora, Maria?
O desemprego registrado pela FEE não poupou nem mesmo os serviços domésticos, que recuaram 1,9% em março passado. Para a economista Lúcia Garcia, a situação é delicada porque os dados de conjuntura econômica não apontam para uma reversão das expectativas. Pelo contrário. Ela explica que esse crescimento do desemprego em “saltos” é grave porque o mercado nunca mais volta ao patamar antigo. Ou seja, pode até haver um aumento da oferta de emprego na economia em alguns meses, mas nunca mais como antes. O fenômeno tem até nome: “hesterese”. O termo não vem do economês como pode parecer, mas da Física, e significa rigidez, falta de elasticidade. O nome foi tomado emprestado da Física pela corrente econômica dos Novos Keynesianos para expressar justamente a rigidez do mercado atual de trabalho. Mesmo que o motivo imediato do desemprego em uma empresa desapareça, as vagas enxugadas não mais serão reabertas devido à racionalização. É como descobrir, por exemplo, que você pode chegar ao mesmo lugar gastando menos gasolina ao usar um trajeto diferente. Você nunca mais usará o caminho velho.
E agora, José?
“Escândalo”. É com essa palavra – que revela um indisfarçável tom de indignação – que a economista Lúcia Garcia apresentou os resultados da mais recente pesquisa de emprego e desemprego feita pela FEE (Fundação de Economia e Estatística). O número de desempregados na região metropolitana de Porto Alegre deu um verdadeiro salto, passando de 280 mil pessoas em fevereiro para 311 mil em março. Um acréscimo de 23 mil pessoas. Exatamente mil novos desempregados a cada um dos 23 dias úteis de março. Ataxa, que foi de 17,2% da população economicamente ativa em fevereiro, passou para 18,6%. A indignação tem lá seus motivos. Esse é o índice mais alto já apurado pela pesquisa da FEE, mesmo que os três primeiros meses do ano sempre tenham sido pródigos em desemprego. E se deu não em função de crescimento da população economicamente ativa (com o ingresso de novos candidatos a postos de trabalho) mas com o fechamento de vagas. Apesquisa apurou o fim de 25 mil empregos formais no estado em março. Pior: o setor de serviços e a indústria – que deveriam estar na linha de frente da reação à crise, segundo tese da equipe econômica do governo – comandaram o enxugamento, com respectivamente 3% e 2,7% menos vagas em março.
Pedágios
Os usuários das estradas pedagiadas do estado podem sair ganhando duas vezes com a briga entre o governo e as concessionárias dos pólos de cobrança. Além de estar pagando em média 20% mais barato em três dos sete pólos do Rio Grande do Sul, a cobrança que o governo julga indevida – e que está em discussão na Justiça – pode retornar ao consumidor em forma de serviço. Explica-se: como será difícil devolver o que cada usuário pagou a mais de pedágio – sempre levando em conta que a Justiça dê ganho de causa ao governo estadual – a solução será investir os milhões cobrados a mais em obras de infra-estrutura nas estradas. Em tempo: a secretaria de Transportes não desistiu de rever os preços dos pedágios de outros pólos. Pode vir mais redução por aí, e logo.
Mistério
Aliás, quanto foi mesmo que as concessionárias arrancaram do bolso dos consumidores? Nem governo nem empresas sabem – ou querem – dizer. No Daer, o diretor de Operações e Concessões alega que não tem dados suficientes (ou seja, planilhas) para chegar a esse valor. Na Cage (Contadoria e Auditoria Geral do Estado) – que recomendou a redução dos preços à secretaria dos Transportes – os cálculos sequer foram feitos. Na AGCR (Associação Gaúcha das Concessionárias de Rodovias), por fim, o secretário-geral tampouco sabe quanto foi arrecadado. Mas que o negócio dá lucro, isso todo mundo sabe.
Vida boa
Enquanto os usuários das rodovias pedagiadas do estado esperam para ver se recuperam o que pagaram a mais, tem empresa que ganhou duas vezes e continua faturando com contratos que são uma barbada. É o caso da Concessionária Brita Rodovias, que explora a concessão do Pólo de Gramado. Antes de virar concessionária de rodovias, a empreiteira Brita Pavimentações e Construções Ltda ganhou a concorrência para recuperar e restaurar o trecho de 35 quilômetros entre Gramado e Nova Petrópolis contratada pelo Daer. Meses depois, a empresa ganharia o direito de explorar a mesma rodovia que recuperou – com recursos públicos – por 15 anos. Cobrando um pedágio salgado para isso, bem entendido.