EDUCAÇÃO

Crise aumenta procura por escola

Publicado em 28 de abril de 1999

De olho em mais oportunidades de emprego, ex-alunos voltam aos bancos escolares para aumentar qualificação intelectual. MEC revela que procura por ensino de nível médio cresceu 43% em quatro anos no país. Pressão sobre ensino público também é conseqüência das dificuldades financeiras dos pais de alunos

O alto índice de desemprego no país criou um paradoxo no ensino. Muitos alunos estão deixando as escolas particulares por falta de condições de pagar as mensalidades, ao mesmo tempo em que ex-estudantes voltam aos bancos escolares para buscar maior qualificação. A conseqüência é o aumento na procura por vagas nas escolas, especialmente no nível médio. Dados do Ministério de Educação apontam crescimento de 43% na procura pelo ensino médio nos últimos quatro anos. No Rio Grande do Sul, segundo a secretária Lúcia Camini (Educação), a estimativa é de crescimento anual na faixa de 12% a 14%.

De acordo com Julieta Jamos Desaulniers, coordenadora do Departamento de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica (PUC), o aprimoramento tecnológico da sociedade está exigindo pessoas cada vez mais informadas, implicando em uma demanda maior pela escola. “É preciso dominar o conhecimento para garantir emprego”, diz Julieta. Ela salienta que, hoje, a qualificação assegura apenas um grau maior de empregabilidade e não, como no passado, salários maiores. É por essa razão que a procura pelo ensino médio está maior que no fundamental. Nota-se também que, mesmo com a crise econômica, os pais que ainda têm condições de pagar preferem deixar seus filhos em escolas particulares.

A Secretaria de Educação estima que a redução no número de alunos nas escolas particulares seja de pelo menos 10% neste início de ano, ou cerca de 25 mil estudantes a menos. A migração desses alunos é apontada por Maria Luisa Xavier, professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), como benéfica, já que fará pressão para a melhoria da qualidade do ensino público.

A Secretária de Educação reconhece que em áreas como Química, Física e Matemática há dificuldade em encontrar professores para fazer contrato emergencial e suprir a necessidade de vagas. Lúcia Camini explica que, dos 10 mil alunos excedentes do estado, a maioria é egressa da escola particular. A redução de alunos no colégio privado é maior no ensino fundamental, enquanto as turmas do ensino médio continuam grandes, com cerca de 40 alunos por sala.

Na Escola de 1º Grau Cavalhada, zona sul de Porto Alegre, a redução de preços elevou o número de alunos de 150 em 1998 para 220 neste ano. Segundo a diretora do estabelecimento Sandra Bardwinkell a redução nas mensalidades permitiu ao colégio abrir uma turma de 7ª série (que não havia) e duas turmas novas de pré-escola. As mensalidades de 2ª a 7ª série passaram de R$ 166,00 para R$ 116,00.

A redução foi possível porque a escola apostava no crescimento do número de alunos devido à capacidade ociosa do estabelecimento. No ano passado, uma 4ª série, por exemplo, tinha 12 alunos. Hoje são 30 estudantes. Sandra constata que muitos dos novos alunos vieram de escolas particulares maiores, que cobram mensalidades mais altas.

Um exemplo de grande evasão é o Colégio Farroupilha, em Porto Alegre, que perdeu 150 alunos do total de 2.950 do ano passado. Segundo o diretor Hanz Sille a redução foi maior nas séries iniciais. Ele diz que uma pesquisa realizada junto aos pais aponta como causa a crise financeira

No Colégio Nossa Senhora das Dores, também na capital, o número de alunos diminuiu em 6%. Segundo pesquisas internas, os problemas econômicos foram determinantes para a evasão. O número de alunos no ensino médio, no entanto, continua sendo de 42 crianças por sala. Escolas menores, como a Maria Imaculada, também tiveram perdas significativas, apesar de cobrarem mensalidades mais baixas. Segundo a diretora da instituição Irmã Glória Vieceli houve redução de 15% principalmente nas séries iniciais, onde a mensalidade custa R$ 122,00.

Apesar de expandir suas atividades também ao ensino médio, a Escola de Educação Básica Rainha do Brasil, zona leste de Porto Alegre, teve reduzido o número de alunos, principalmente na pré-escola e séries iniciais. A vice-diretora Irmã Ignês Piasson cita como exemplo a redução de 35 para 20 alunos nas turmas de 1ª série. Além do desemprego, Ignês aponta, no caso do ensino pré-escolar, a não obrigatoriedade de freqüência nessas séries como fator determinante para a retirada dos alunos.

Na contra-mão dessa lógica, o Colégio Sevigné perdeu alunos também no ensino médio. Neste ano, a instituição ficou com 127 alunos a menos do total de 1.219 do ano anterior, reduzindo turmas no jardim de infância, 1ª, 2ª e 8ª séries do fundamental e 1ª e 2ª do nível médio. A administradora financeira do Sevigné Maria de Fátima Dapper diz que o motivo é a crise econômica, já que muitos alunos migraram para a rede pública.

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